Base de Nunes articula esvaziamento de Milton Leite na Câmara de SP
Acordo entre Nunes e Milton Leite que garantiria quatros do comando da Casa ao União Brasil não é dado como certo nos bastidores da Câmara

Vereadores da base do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), têm articulado nos bastidores da Câmara Municipal um movimento para tentar esvaziar a influência do ex-presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).
De acordo com relatos, uma das ideias seria tentar “repassar’ a Presidência na Câmara em 2027 para outro partido da base, como o MDB ou o PL. Um dos nomes mais citados nos bastidores é o do vereador João Jorge (MDB), forte aliado de Nunes e atual vice-presidente do Legislativo municipal.
Na prática, segundo relatos, Jorge já tem “tocado” funções do dia a dia da Casa, como a costura de acordos e a organização da pauta de votações. Ainda de acordo com vereadores, o emedebista não nega a vontade de um dia ser presidente da Câmara Municipal.
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Além disso, embora seja do União Brasil, o atual presidente Ricardo Teixeira é tido entre os pares como uma figura governista, próximo do prefeito e não exatamente um quadro partidário do União.
Após as negociações de alianças nas eleições municipais do ano passado, Milton Leite passou a afirmar que fez um acordo com Ricardo Nunes para que, em troca de garantir o apoio do União Brasil à reeleição do prefeito, o União teria a Presidência da Câmara pelos quatro anos da legislatura.
Além disso, dentro do União, há um acordo na bancada para que haja um rodízio entre seus parlamentares na função. No início do ano, Milton Leite tentou emplacar como seu sucessor seu afilhado político Silvão Leite, novato na Câmara e ex-assessor do padrinho.
Com a resistência entre os pares pelo fato de Silvão ser um vereador de primeiro mandato, Teixeira foi o eleito. A ideia, com isso, passou a ser que Silvão fosse o nome para o comando da Casa a partir de 2026. Os mandatos da Mesa Diretora têm duração de um ano, segundo o regimento interno.
Reservadamente, no entanto, vereadores afirmam que o acordo não foi feito com a Casa e que pode haver uma mudança nesse cenário.
Mudança no regimento
Em 27 de junho, às vésperas do recesso legislativo, a base governista conseguiu aprovar uma alteração no regimento interno que passou a permitir a reeleição à Presidência por apenas mais um ano.
A medida retomou o modelo que era vigente até 2022. Neste ano, durante a Presidência de Milton Leite, a Câmara aprovou um projeto que passou a permitir a reeleição pela terceira vez seguida, o reconduzindo no comando. Em 2023, uma nova mudança foi aprovada, dessa vez permitindo a recondução de forma indefinida.
A retomada do chamado modelo 1+1 foi entendido nos bastidores como uma forma de impedir que o grupo de Milton Leite dominasse a Câmara nos anos seguintes, estabelecendo um padrão de dois anos de mandato. A articulação da mudança, inclusive, ocorreu no momento em que o cacique era homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em cerimônia com a presença dos vereadores do União.
Com o formato, uma das ideias é que Teixeira seja reeleito no começo do ano que vem, com o apoio do governo, completando dois anos na Presidência. Publicamente, Teixeira nega que queira a reeleição e afirma que o acordo está mantido.
“Segundo os partidos que trabalharam em prol da candidatura do Ricardo Nunes, cabe ao União Brasil ficar os quatro anos com a Presidência. Esse é o projeto inicial, por isso que eu estou lá agora. Dentro do nosso partido, nós assinamos um documento, o presidente estadual, o municipal e os sete vereadores, de que caberá ao União Brasil essa Presidência e nós vamos revezar um ano para cada vereador. Então eu estou fazendo isso um ano, acaba 31 de dezembro. Em 1º de janeiro, deve assumir outro do União Brasil, sendo que a eleição é 15 de dezembro”, afirmou ao Metrópoles.
Outro fator levado em conta nessa articulação é o fato de que, no ano que vem, há chances de Ricardo Nunes deixar a prefeitura para disputar o Governo do Estado. Com isso, o presidente da Câmara viraria uma espécie de vice-prefeito, já que com o vice Mello Araújo na cadeira de titular, o posto de comando do Legislativo vira o segundo na linha sucessória do Executivo municipal.
Neste cenário, seria interessante para os aliados de Nunes na Câmara que a Presidência ficasse com alguém de confiança do grupo e não com o União Brasil.
Aliados de Milton Leite, por outro lado, apontam que o movimento tem poucas chances de se concretizar. Isso porque, com a formação da federação entre União Brasil e PP, Leite, que comanda o partido em São Paulo, teria o controle de uma bancada de 11 cadeiras, a maior da Câmara Municipal.
Além disso, a oposição conta com 19 vereadores. O PT, inclusive, teve historicamente uma boa relação com Milton Leite ao longo de seus mandatos à frente da Casa.
“A eleição estadual passará pelo Milton também, ou seja, pelo União Progressista. Um ‘golpe’ desse influenciaria também. Mas essa conta faria com que o Milton, sendo passado pra trás, passasse a ter a maioria absoluta da casa contra o prefeito”, afirmou um aliado do cacique.
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