Brechó de luxo investigado por calotes segue negociando Gucci e Chanel

Brechó Desapego Legal, alvo de centenas de ações por inadimplência, entrou com pedido de recuperação judicial por dívida de R$ 20 milhões

Agosto 9, 2025 - 06:00
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Brechó de luxo investigado por calotes segue negociando Gucci e Chanel

O brechó de luxo Desapego Legal, alvo de mais de 200 ações judiciais em tribunais de todo o Brasil, entrou com um pedido de recuperação judicial na Justiça paulista, alegando uma dívida de quase R$ 20 milhões. A empresa é alvo de uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) por supostos golpes financeiros. O órgão ainda não ofereceu denúncia.

O negócio, que existe desde 2012, trabalha com compra e revenda de bolsas, sapatos e outros acessórios de marcas luxuosas, como Gucci, Chanel e Prada. A empresária Francine Costa Prado (foto em destaque), dona do negócio, é acusada por clientes lesadas de não pagar por itens vendidos à empresa. Há relatos de dívidas que chegam a R$ 200 mil.

O CNPJ da empresa, aberto em junho de 2018 no nome do marido de Francine, acumula 221 ações judiciais em tribunais de todo o Brasil, abertas por inadimplência de contrato e obrigações contratuais, cobranças e pagamentos pendentes e indenização por danos materiais e morais. A maior parte corre no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP)

No Reclame Aqui, o Desapego Legal acumula 267 reclamações desde agosto de 2022, sendo 76 apenas dos últimos seis meses. Do total de queixas, 32,1% foram resolvidas. A maior parte das manifestações é por atraso em estornos, após desistência da compra, também motivada pela demora na entrega do produto. A nota média geral da empresa na plataforma é 3.3/10, o que rendeu o selo de “não recomendada”.

Mesmo com centenas de ações judiciais em todo o país e inúmeras denúncias de golpe, o Desapego Legal continua vendendo artigos de luxo através do Instagram e do WhatsApp, conforme apurou a reportagem. O brechó possui clientes famosas, que trabalham com a internet e a TV. 3 imagensLoja negociou bolsa acima de R$ 12 milFrancine Costa Padro, empresária que é rosto a frente do brechó Desapego LegalFechar modal.1 de 3

Reportagem simulou compra e confirmou que o brechó Desapego Legal continua com vendasReprodução2 de 3

Loja negociou bolsa acima de R$ 12 milReprodução3 de 3

Francine Costa Padro, empresária que é rosto a frente do brechó Desapego LegalReprodução

Apresentadora de TV foi lesada

A apresentadora Bárbara Amorim, da Rede Mais Família, é uma das clientes que foram lesadas pelo Desapego Legal, após meses tendo negócios bem sucedidos com a loja.

Ela contou que, em dezembro do ano passado, vendeu uma bolsa da Louis Vuitton, além de um óculos e um par de sapatos, ambos da Prada, para Francine. A compra, no valor de R$ 5,2 mil, deveria ter sido paga até janeiro, o que ainda não aconteceu.

“Depois de vender, em 30 dias ela pagava, porque geralmente as pessoas pagavam no cartão de crédito. E então, eram aqueles 30 dias para chegar o valor do cartão. E aí, beleza, passou esses 30 dias. Em fevereiro era a data de eu receber, e nada”, explicou.

Naquele mesmo fevereiro, o volume de denúncias contra o Desapego Legal repercutiu na imprensa. “Eu falei ‘putz, meu, me ferrei’”, comentou Bárbara.

A apresentadora conta que, enquanto aumentava o número de pessoas denunciando o brechó, Francine fazia lives nas redes sociais, dizendo que não devia nada a ninguém e que não tinha o que esconder. Foi quando Bárbara conheceu outras vítimas da loja.

Uma amiga de Bárbara tem R$ 4 mil para receber de Francine, já há mais de um ano e ainda sem previsão de pagamento. A cifra, no entanto, é baixa em comparação a outros valores informados pela apresentadora.

“São milhões [faturados com os supostos golpes] mesmo. Tem pessoas que ela deu golpe de bolsas, da Hermés, que custam R$ 200 mil, por exemplo”, afirmou. “Como ela continua usando o nome e vendendo?”, questionou a vítima.

Francine tinha acordado com Bárbara que efetuaria o pagamento até o dia 30 de julho, mas, posteriormente, afirmou que não conseguiria enviar o valor devido a nenhum dos clientes lesados, “porque entraram numa questão judicial onde eles não podem mexer nas contas”, explicou a apresentadora. A apresentadora revelou que está em contato com advogada para ajuizar uma ação.

Leia também

Famosas que fazem negócios com o Desapego Legal

  • Nicole Bahls, Gkay, Pri Lessa, Rafa Uccman e Niina Secrets estão entre as famosas que aparecem com destaque no Instagram do Desapego Legal.
  • Como os conteúdos mostram, as celebridades compraram bolsas e outros acessórios de luxo, além de terem comercializado itens próprios.
  • Em março de 2023, Bahls compartilhou a alegria de ter comprado uma mala da Louis Vuitton na loja. Ela destacou que o produto veio em perfeito estado, acompanhado de certificação.
  • Meses antes, em outubro de 2022, Gkay havia desapegado de diversas peças de roupa de grife, vendendo-as ao brechó.
  • Em novembro de 2021, Rafa Uccman publicou um vídeo no Instagram em que comemorava a aquisição de sua primeira peça de luxo, comprada no Desapego Legal.

Pedido de recuperação judicial

Em 11 de julho, o Desapego Legal entrou com um pedido de recuperação judicial, para renegociar suas dívidas e evitar a falência. No documento, obtido pelo Metrópoles, a empresa diz enfrentar uma crise econômica desde o ano passado, “gerada especialmente pelo aumento do dólar, além de custos operacionais elevados e falhas na organização e administração advindas do crescimento” do negócio.

Os advogados da empresa afirmam que a crise se deve a custos operacionais elevados, aumento do custo dos produtos, inclusive em razão da desvalorização do real frente ao dólar e dificuldade na gestão de estoque e curadoria, “diante do aumento incontrolável das vendas”, e mencionam ainda que há clientes devedores.

Eles alegam também que, quando o CNPJ do negócio foi aberto, em 2018, o mundo enfrentou forte crise financeira. A expectativa era que o cenário fosse melhorar com a troca do governo brasileiro, mas a desvalorização do real frente ao dólar, que atingiu seu ápice em 2024, atrapalhou os planos da empresa.

A crise teria levado a dificuldades para cumprir obrigações com clientes e fornecedores, além do bloqueio de créditos das principais instituições financeiras parceiras.

Apesar disso, o brechó continuou em atividade, acumulando condenações que agravaram a situação da empresa. Por isso, os advogados pedem que as ações e execuções judiciais contra ela sejam suspensas, no chamado stay period, previsto na Lei de Falências e Recuperações.

“Considerando as centenas de ações de cobrança e indenização distribuídas nos últimos 12 meses, somadas às dificuldades no acesso a novas linhas de crédito junto às instituições financeiras, a situação da empresa restou ainda mais prejudicada”, afirma a defesa do negócio.

De acordo com o documento, a dívida total do Desapego Legal chega em R$ 19.897.856,37, dos quais R$ 1.200.603,97 são de questões trabalhistas. À Justiça, a empresa apresentou pesquisas e estimativas que apontam para a capacidade do negócio de se recuperar.

Em resposta ao pedido de recuperação judicial, a juíza Andréa Galhardo Palma considerou que a demanda não foi suficientemente instruída. Por isso, a empresa foi intimada a complementar a documentação exigida pela Lei de Falências e Recuperações em 48 horas a partir da decisão, de 31 de julho, sob pena de extinção do feito.

A magistrada exigiu a apresentação de documentos contábeis (DRE, Balanço Patrimonial e Balancete) relativos aos anos de 2022, 2023 e 2024, devidamente assinados pelo representante da empresa e pelo profissional contábil responsável, além do balanço especial do ano corrente e o relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção. A empresa deve apresentar ainda a relação completa e discriminada de credores, dentre outras documentações.

De acordo com os autos, a defesa apresentou os documentos solicitados nessa quarta-feira (6/8). Desde então, não houve mais andamentos no processo.

O que diz o brechó

A reportagem procurou os advogados de defesa de Francine e do brechó Desapego Legal em ações do TJSP para comentar o caso mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

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