Cadáver ambulante: conheça síndrome em que pessoa acredita estar morta
Distúrbio raro faz paciente acreditar que está morto ou que partes do corpo deixaram de existir. Entenda causas, sintomas e tratamento

A síndrome de Cotard é um distúrbio psiquiátrico raro, caracterizado por uma desconexão profunda entre percepção e realidade. Quem sofre da condição pode acreditar que está morto ou que partes do corpo deixaram de existir, negligenciando alimentação e cuidados pessoais.
O quadro pode surgir por alterações cerebrais, fatores psiquiátricos ou uma combinação de ambos. Reconhecer os sinais precocemente é essencial para oferecer tratamento adequado e prevenir complicações graves.
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O que é a síndrome de Cotard?
- Distúrbio psiquiátrico raro com delírio de negação da própria existência.
- Sensação de que órgãos ou partes do corpo estão mortos ou em decomposição.
- Alterações em áreas cerebrais ligadas à percepção corporal e integração emocional.
- Surge frequentemente em conjunto com transtornos psiquiátricos ou neurológicos.
- Pode levar ao isolamento social e abandono de atividades diárias.
Síndrome de Cotard e transtornos mentais
A síndrome de Cotard frequentemente surge em associação com transtornos psiquiátricos graves, como depressão psicótica, esquizofrenia e algumas doenças neurodegenerativas. Alterações neurológicas decorrentes de lesões cerebrais, infecções ou traumas também podem contribuir para o desenvolvimento dela.
A doença afeta áreas do cérebro responsáveis pela percepção do corpo, das emoções e da própria identidade. O delírio de negação, característica central da síndrome, provoca uma percepção distorcida da realidade, na qual o indivíduo não reconhece partes do próprio corpo ou acredita que está morto.
O neurologista Lucas Cruz, médico do Hospital Anchieta de Brasília, esclarece que não existem marcadores para a síndrome. Por isso, o diagnóstico é feito através da avaliação psiquiátrica. “Exames neurológicos podem ser solicitados para descartar causas orgânicas, como lesões cerebrais ou infecções”, afirma.
No dia a dia, a síndrome interfere profundamente na percepção do corpo e na capacidade de realizar atividades cotidianas. Renata Gondini, psiquiatra que atende em São Paulo, explica que a manifestação do distúrbio no dia a dia do paciente pode ser muito difícil de lidar, exigindo cuidados e rede de apoio.
“No cotidiano, essa distorção da percepção de si mesmo pode ser devastadora. O indivíduo passa a não reconhecer sua própria imagem, sente que perdeu a alma ou que o corpo é apenas uma carcaça vazia. Há quem verbalize frases como ‘meu coração parou’ ou ‘meu corpo está morto’, refletindo a quebra completa do vínculo entre mente e identidade”, conta Renata.

O afastamento da realidade compromete atividades cotidianas essenciais, como alimentação, higiene e interação social. Sem diagnóstico e tratamento adequados, o quadro tende a se agravar, aumentando o risco de isolamento, desnutrição e, em casos mais graves, suicídio.
Além de fatores psiquiátricos, alterações neurológicas podem contribuir para o surgimento da síndrome de Cotard. Lesões no cérebro ou desequilíbrios químicos podem interferir na percepção do próprio corpo e na integração das emoções, criando condições para que o distúrbio se manifeste.
“Lesões causadas por acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano, infecções como meningoencefalites e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, estão comumente relacionadas ao desencadeamento da síndrome, explica o neurologista Sergio Jordy, membro da American Academy of Neurology (AAN) e da European Academy of Neurology (EAN).
Principais sintomas da síndrome de Cotard
- Crença de que está morto ou partes do corpo não existem.
- Perda de interesse e apatia intensa.
- Isolamento social.
- Negligência com alimentação e higiene.
- Sensação de desconexão do próprio corpo.
Tratamento da síndrome de Cotard
O acompanhamento de pacientes com síndrome de Cotard exige atenção multidisciplinar, pois o distúrbio compromete a percepção de si mesmo e a capacidade de realizar cuidados básicos, como se alimentar e manter a higiene.
O manejo combina medicamentos, como antidepressivos e antipsicóticos, com psicoterapia, que ajuda a reconstruir a percepção da realidade e a restabelecer a conexão com o próprio corpo.
Pesquisas recentes indicam que alterações em circuitos cerebrais ligados à consciência de si e ao processamento emocional influenciam o desenvolvimento da síndrome, permitindo tratamentos mais direcionados e eficazes.
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