Derrite faz recuo pontual antes de endurecer discurso, dizem aliados
O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) modelou discurso na relatoria de projeto e aliados veem possibilidade de disputar governo em SP
O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) foi às redes sociais anunciar que está “disposto a escutar todos os lados” como relator do projeto de lei que altera a definição de organização criminosa. Aliados veem esse discurso conciliador como momentâneo, em vias de ser endurecido em breve novamente por Derrite contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo fontes do governo de São Paulo, após a relatoria do projeto, chamado por Derrite de “marco legal de combate ao crime organizado no Brasil”, o deputado deve retornar à Secretaria de Segurança Pública paulista para, na sequência, desembarcar de vez do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) até janeiro. A avaliação de aliados é de que a saída definitiva do governo estadual vai libertá-lo mais das amarras institucionais do cargo, e Derrite poderá se posicionar com firmeza em temas que hoje são considerados espinhosos.
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“Nas cordas”
De acordo com o colunista Igor Gadelha, Derrite e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foram alertados por expoentes do mercado financeiro sobre a possibilidade de que a equiparação de facções a grupos terroristas, uma bandeira alardeada pelo parlamentar até a semana passada, possa afugentar investimentos estrangeiros. O alerta teria mudado o texto e amainado o tom bélico de Derrite. Em vez das facções serem equiparadas a terroristas, as penas dos crimes praticados por faccionados serão as mesmas penalidades aplicadas em atos de terrorismo.
Um aliado avalia que o projeto de lei relatado por Derrite irá “colocar o governo Lula ainda mais nas cordas”, em relação à segurança pública, assunto identificado pela oposição como capaz de gerar mais desgaste ao petista. Outra pessoa próxima ao secretário pondera que Derrite “não pode errar”, embora tenha “uma grande oportunidade em mãos” e deve corrigir diversas anomalias do sistema criminal.
Sucessor de Tarcísio?
A aceitação pública detectada em pesquisas de opinião sobre a incursão policial nos complexos do Alemão e da Penha, feita há duas semanas no Rio de Janeiro, reacendeu a direita na disputa ao governo federal. Antes, o grupo foi fustigado por turbulências causadas por seus próprios representantes em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos, pelo julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e pelos dois encontros de Donald Trump com Lula.
Esse novo cenário renova as aspirações de governadores de direita, como Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, que saiu fortalecido para uma disputa ao Senado, e reacende as especulações sobre uma possível corrida presidencial com Tarcísio como principal candidato de oposição a Lula, abrindo uma briga nos bastidores pela sucessão ao governo paulista.
Bolsonaristas de São Paulo dizem que Derrite é o candidato mais bem aceito pela direita para suceder Tarcísio. Quando e se o deputado se tornar candidato, porém, ele teria de defender as principais pautas bolsonaristas. Dois aliados paulistas de Bolsonaro afirmaram que esses acenos devem ocorrer “de forma natural” pelo relator do “marco legal do combate ao crime organizado no Brasil”.
A simpatia do bolsonarismo a seu nome tornaria a candidatura de Derrite mais fácil, já que o ex-policial teria de fazer acenos apenas ao centro, enquanto outros postulantes – como o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB), o secretário de governo Gilberto Kassab e o vice-governador Felício Ramuth, do PSD, e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL) – teriam de dar afagos ao centrão e ao bolsonarismo.
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O prefeito Ricardo Nunes Edson Lopes Jr./SECOM
Tarcísio de Freitas, André do Prado e Guilherme Derrite durante solenidade que celebra os 93 anos da Revolução Constitucionalista de 1932Ramiro Brites/Metrópoles
Governador de SP Tarcísio de Freitas (Republicados) a esquerda e Guilherme DerriteReprodução/Instagram
Gilberto Kassab, presidente nacional do PSDBruna Sampaio e Carol Jacob/Alesp
Felício Ramuth e Tarcísio de FreitasGoverno do Estado de São Paulo
O presidente da Alesp, André do Prado (PL)
“Banho de Progressistas”
Outro aliado, membro do mesmo partido de Derrite, afirma que o parlamentar “tomou um banho de Progressistas” quando ele saiu do PL para se filiar à legenda. A avaliação é de que o perfil mais afeito “ao diálogo” e à centro-direita teria o objetivo de credenciar o secretário como um candidato ao governo de São Paulo, caso Tarcísio seja candidato ao Planalto.
No entanto, a tese mais consolidada na centro-direita paulista é a de que Derrite será mesmo candidato ao Senado. Segundo um interlocutor, ele deve se reunir com o Bolsonaro em Brasília, que deve expor ao deputado a necessidade de montar uma nominata forte de senadores.
O próprio Derrite diz a aliados que está disposto a trabalhar no Legislativo para promover o endurecimento de penas e fim de visita íntima, progressão de pena, audiências de custódia e outras medidas apontadas como “regalias” para criminosos.
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