Dino vê “neocolonialismo” em pressões externas sobre Brasil e STF
Para Dino, imposições ameaçam soberania e segurança jurídica. Ministro pontua que decisões estrangeiras não tem efeito automático

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino criticou práticas de “neocolonialismo e protecionismo” impostas por países mais fortes contra nações vulneráveis, destacando o desrespeito a tratados internacionais e a instituições multilaterais.
Dino afirmou que, em pouco mais de um ano, “o suporte empírico dessa controvérsia se alterou significativamente, sobretudo com o fortalecimento de ondas de imposição de força de algumas nações sobre outras” e que, com isso, “na prática, têm sido agredidos postulados essenciais do Direito Internacional”.
“Instituições do multilateralismo são absolutamente ignoradas. Tratados internacionais são abertamente desrespeitados, inclusive os que versam sobre a proteção de populações civis em terríveis conflitos armados, alcançando idosos, crianças, pessoas com deficiência, mulheres. Diferentes tipos de protecionismos e de neocolonialismos são utilizados contra os povos mais frágeis, sem diálogos bilaterais adequados ou submissão a instâncias supranacionais”, escreveu Dino.
O ministro, ao destacar que bancos que atuam no Brasil devem observar exclusivamente a legislação brasileira — reforçando que, no território nacional, apenas a lei brasileira tem validade, e não a de outros países —, destacou que o país tem sido alvo de diversas sanções e ameaças que buscam “impor pensamentos a serem apenas ‘ratificados’ pelos órgãos que exercem a soberania nacional”.
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Com a decisão de Dino, proferida na tarde desta segunda-feira (18/8), o ministro reforça a soberania da jurisdição brasileira, impedindo que medidas estrangeiras — como as sanções dos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes, baseadas na Lei Magnitsky — tenham efeito automático no país. No entanto, essas restrições seguem válidas no exterior.
“Desse modo, ficam vedadas imposições, restrições de direitos ou instrumentos de coerção executados por pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País, bem como aquelas que tenham filial ou qualquer atividade profissional, comercial ou de intermediação no mercado brasileiro, decorrentes de determinações constantes em atos unilaterais estrangeiros”, escreveu Dino.
Moraes foi alvo da legislação norte-americana que tem como objetivo punir autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos. O governo de Donald Trump citou o processo em curso no STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se tornou réu por tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022. Na ocasião, o líder dos EUA acusou a Justiça brasileira de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
O nome de Moraes consta no sistema do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, que administra e aplica programas de sanções, e também no site do Departamento de Tesouro, ambos dos Estados Unidos. A lei é usada para punir estrangeiros. Moraes é alvo da Lei Magnitsky, legislação norte-americana que tem como objetivo punir autoridades internacionais acusadas de violação aos direitos humanos.
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O ministro Flávio Dino (STF) é alvo de pedido de impeachmentFotos: Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
Mariana
A decisão de Dino ocorre em meio ao movimento de municípios brasileiros que recorreram a tribunais estrangeiros em busca de indenizações maiores contra a mineradora Samarco, após o rompimento da barragem de Mariana (MG).
Cidades como Mariana, Ouro Preto, Resplendor, Ipaba, Aimorés e Baixo Guandu chegaram a contratar escritórios internacionais para ajuizar ações na Inglaterra contra a BHP Billiton — uma das controladoras da Samarco — em busca de compensações mais rápidas e vultosas.
O movimento foi questionado no STF pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que alegou falta de legitimidade dos municípios para litigar em jurisdições estrangeiras. Dino acatou o pedido e ressaltou que entes locais não podem propor nem manter ações em Cortes fora do país.
“Estados e municípios brasileiros estão, doravante, impedidos de propor novas demandas perante tribunais estrangeiros, em respeito à soberania nacional e às competências atribuídas ao Poder Judiciário brasileiro pela Constituição”, escreveu Dino.
Ao fim, Dino ressaltou que mesmo que Mariana ou outros municípios tenham entrado na Justiça inglesa, essas ações não podem produzir efeitos no Brasil sem passar pelo crivo do STF ou pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Recentemente, o STF manteve um acordo bilionário de reparação por tragédia em Mariana.
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