Entre o tiro e o tuíte: a guerra de versões sobre a megaoperação do RJ

A ação no RJ mobilizou 2,5 mil policiais civis e militares e deixou 121 mortos, sendo 117 suspeitos e quatro policiais

Nov 8, 2025 - 06:30
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Entre o tiro e o tuíte: a guerra de versões sobre a megaoperação do RJ

A megaoperação Contenção deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), em 28 outubro deste ano, não terminou quando cessaram os disparos. Ela apenas mudou de campo. Dos becos para as telas, dos tiros para os tuítes, o que se seguiu foi uma guerra de narrativas tão intensa quanto o próprio confronto armado.

A ação, que mobilizou 2,5 mil policiais civis e militares e deixou 121 mortos, sendo 117 suspeitos e quatro policiais, se transformou rapidamente em um campo de disputa política e simbólica.

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Enquanto o som dos fuzis ecoava por mais de 12 horas seguidas nas comunidades, a disputa pela versão dos fatos se travava em tempo real nas redes sociais. O que estava em jogo não era apenas a legitimidade da operação, mas a definição de qual verdade o país acreditaria.

O discurso oficial: “Guerra ao crime”

A narrativa do governo do Rio e da cúpula da Segurança Pública foi de que era uma operação necessária. Em entrevista coletiva após a operação, o governador Cláudio Castro (PL) afirmou que o Estado “não fugiria da luta contra o crime organizado” e que a ação foi “planejada com inteligência, estratégia e rigor técnico”.

A Polícia Militar sustentou que seus policiais foram recebidos a tiros por criminosos do Comando Vermelho (CV) e que os confrontos se deram durante o cumprimento de mandados de prisão.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, reforçou que a operação visava “desmantelar o núcleo armado de uma facção que aterroriza o Rio há décadas”.
11 imagensA incerteza sobre a própria segurança impede o descanso e compromete a saúde mental de quem vive sob risco constanteSegundo líder do PT na Câmara, atuação de milícias nas favelas do Rio também será alvo de investigação da PFMegaoperação policial nos complexos do Alemão e da PenhaQuatro policiais perderam a vida durante megaoperação no RioMegaoperação das polícias deixa vários policiais feridos e mortos. O Hospital Getúlio Vargas, na Penha, recebeu os feridosFechar modal.1 de 11

Cerca de 2.500 agentes das policias civil e militar participam nesta terca-feira (28) da "Operacao Contencaoî nos complexos da Penha e do Alemao, Zona Norte do Rio, com o objetivo de cumprir cerca de 100 mandados de prisao e 150 de busca e apreensao contra integrantes da faccao Comando Vermelho EGBERTO RAS/Agencia Enquadrar/Agencia O Globo2 de 11

A incerteza sobre a própria segurança impede o descanso e compromete a saúde mental de quem vive sob risco constanteFabiano Rocha/Agência O Globo3 de 11

Segundo líder do PT na Câmara, atuação de milícias nas favelas do Rio também será alvo de investigação da PFReprodução/X4 de 11

Megaoperação policial nos complexos do Alemão e da PenhaFabiano Rocha / Agência O Globo5 de 11

Quatro policiais perderam a vida durante megaoperação no RioFabiano Rocha / Agência O Globo6 de 11

Megaoperação das polícias deixa vários policiais feridos e mortos. O Hospital Getúlio Vargas, na Penha, recebeu os feridosGabriel de Paiva / Agência O Globo7 de 11

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Megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha (RJ)Tercio Teixeira/Metrópoles10 de 11

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Megaoperação no Rio de JaneiroReprodução / Redes sociais

Nos bastidores, integrantes da própria cúpula da segurança admitiram que a operação era também uma demonstração de força, planejada após uma sequência de emboscadas e ataques a policiais.

O governo buscava, segundo fontes da Polícia Civil, reafirmar o controle do Estado sobre áreas dominadas pelo tráfico, num momento em que a pressão pública por respostas crescia.

A reação das ONGs: “Chacina” e terror

Organizações sociais classificaram o episódio como uma “chacina sem precedentes”. No dia seguinte à operação, mais de 60 corpos foram retirados por moradores da mata da Serra da Misericórdia, corpos que ainda não constavam nos registros oficiais.

A discrepância entre as versões oficiais e os relatos locais gerou uma crise. O Supremo Tribunal Federal (STF) cobrou explicações do governo do Rio, após o Ministério Público apontar divergências entre os números enviados ao tribunal e os divulgados à imprensa.

ONGs e coletivos de direitos humanos pediram a atuação de organismos internacionais, alegando execuções sumárias e uso desproporcional da força.

A disputa política e o uso das redes

O episódio extrapolou os limites do Rio e se tornou o principal tema político do país. Em Brasília, deputados de oposição acusaram Cláudio Castro de transformar a política de segurança em “palanque eleitoral”.

Do outro lado, aliados do governador e parte da bancada conservadora defenderam a “coragem” da ação e culparam o governo federal por “omissão”.

Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou o tamanho da batalha digital: 1,9 milhão de postagens e 60 milhões de interações em apenas 24 horas.

As redes sociais se dividiram em dois blocos, de um lado, o discurso da “guerra contra o crime”, amplificado por perfis ligados à direita; de outro, a narrativa de “massacre” e “chacina”, impulsionada por parlamentares e movimentos de esquerda.

O governador Cláudio Castro foi o nome mais citado nas redes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foi alvo, opositores o acusaram de “lavar as mãos” e negar apoio logístico à operação.

Em um nível extremo de polarização, comparações com o conflito entre Israel e Hamas passaram a surgir em postagens, associando as cenas no Alemão à Faixa de Gaza. A operação, de questão policial, tornou-se símbolo político e ideológico, uma metáfora da guerra que divide o Brasil.

A era da desinformação: tiros reais, imagens falsas

O ambiente digital rapidamente se transformou em uma usina de fake news. Um dos vídeos mais compartilhados mostrava um suposto “traficante arrependido” pedindo perdão minutos antes de ser morto pelo Bope.

O vídeo, com milhões de visualizações, era gerado por Inteligência Artificial, o rosto e a voz do homem não pertenciam a ninguém real.

Outro episódio de desinformação ganhou força com a figura de uma mulher apelidada de “Japinha do CV”, suposta integrante do Comando Vermelho que teria sido morta durante a operação. A história viralizou em grupos de WhatsApp e no X.

Vídeos e postagens afirmavam que a jovem havia sido executada por policiais e teve a cabeça dilacerada. Dias depois, a Polícia Civil confirmou que a “Japinha do CV” não constava entre os mortos da lista oficial, e que as imagens que circulavam eram de um traficante baiano.

Ainda assim, o nome da jovem se tornou símbolo de uma tragédia inflada por desinformação, uma personagem real usada em narrativas falsas.

Outra fake news de grande alcance dizia que o presidente Lula teria determinado indenizações e pensões vitalícias às famílias dos mortos. Um print forjado de uma matéria jornalística circulou amplamente, forçando tanto o portal quanto o Ministério dos Direitos Humanos a desmentirem publicamente o boato.

Houve ainda manipulação de dados sobre a apreensão de armas. Postagens afirmavam que os 93 fuzis confiscados pertenciam a colecionadores e atiradores esportivos (CACs). A informação foi checada e classificada como falsa por jornalistas profissionais.

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