Fertilidade: pesquisa descobre como espermatozoides são ativados
Estudo identifica que aumento de temperatura no trato reprodutivo feminino ativa proteína essencial na movimentação do espermatozoide

Médicos da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram que a ativação dos espermatozoides e sua capacidade de fertilização depende diretamente do aumento da temperatura ao entrar no corpo feminino.
Pela primeira vez, a pesquisa conseguiu atribuir a mudança térmica como um ativador que pode induzir a capacidade de movimentação da célula reprodutiva masculina. A investigação foi publicada na Nature Communications em 17 de abril.
Em mamíferos, o espermatozóide precisa percorrer uma distância proporcional à de uma maratona para chegar ao óvulo. Ele sai dos testículos, onde a temperatura é mais baixa, e navega pela uretra e canais vaginais nadando por um caminho que se torna progressivamente mais quente.
O estudo demonstrou que, ao atingir temperaturas superiores a 38 °C, o espermatozoide entra em um estado hiperativo. O movimento deixa de ser lento e linear e passa a incluir batidas e torções mais vigorosas que permitem a penetração na camada externa do óvulo.

CatSper, o interruptor térmico do espermatozoide
A mudança de comportamento é acionada por uma proteína chamada CatSper, comum a todos os mamíferos. Essa estrutura, ao ser ativada pela temperatura, favorece o fluxo de íons de cálcio para dentro do espermatozoide, fornecendo energia para os movimentos intensificados do flagelo.
Até então, acreditava-se que o canal CatSper fosse ativado por fatores químicos, como o pH vaginal ou a progesterona. “Esse estado hiperativo no esperma é fundamental para o sucesso da fertilização, e ninguém sabia exatamente como a temperatura o desencadeava”, afirmou a fisiologista Polina Lishko, professora de biologia celular que liderou a investigação.
O gás final
A ativação do CatSper funciona como uma espécie de nitrogênio nos carros de corrida. Quando este interruptor térmico é ligado, os espermatozoides mudam de marcha, como demonstraram os testes in vitro. Essa aceleração é decisiva para o sucesso da fecundação e precisa ocorrer no momento certo, nem antes, nem depois.
Além da temperatura, os cientistas identificaram que a espermina, uma substância presente no plasma seminal, atua como bloqueador temporário da ativação do CatSper, prevenindo a liberação precoce da energia armazenada na célula.
Evolução favoreceu órgãos reprodutores frios
Essa sensibilidade térmica do espermatozoide explica também a necessidade de manter os testículos em temperatura inferior à do corpo. Abaixo de 34 °C, o canal CatSper permanece inativo, evitando o gasto prematuro de energia antes da hora da fertilização.
Mamíferos desenvolveram mecanismos distintos para conservar a temperatura reprodutiva. Elefantes e golfinhos usam estruturas para resfriamento do sangue. Nos humanos, a posição externa dos testículos cumpre essa função de controle térmico.
Animais que não possuem essas adaptações, como as aves, também não possuem a proteína CatSper. Isso sugere que a evolução da fertilidade em mamíferos está diretamente ligada à presença desse canal sensível à temperatura.
Possibilidades para a contracepção
Compreender o mecanismo de ativação do CatSper oferece caminhos tanto para tratar a infertilidade quanto para desenvolver novos métodos anticoncepcionais masculinos. A proteína só aparece no espermatozoide, o que evita efeitos colaterais em outras células.
“Em vez de criar inibidores, pode ser possível ativar o CatSper com a temperatura, ligando prematuramente esse canal para drenar a energia do esperma, de modo que, quando o espermatozoide estiver pronto para fazer seu trabalho e entrar no óvulo, ele esteja sem energia”, sugeriu Lishko.
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