Fraudador do CNU usou ChatGPT para escrever recursos da prova

As mensagens mostram que o gabarito era enviado por Wanderlan antes da prova. Valmir apenas copiava as respostas

Oct 14, 2025 - 04:00
 0  2
Fraudador do CNU usou ChatGPT para escrever recursos da prova

A ironia atingiu o auge na investigação da Polícia Federal (PF) sobre a maior fraude em concursos públicos da história recente do país. O auditor fiscal “aprovado” Valmir Limeira de Souza, de 53 anos, não sabia sequer como escrever um recurso de prova.

Quem fazia tudo por ele era o irmão e mentor da quadrilha, Wanderlan Limeira de Sousa, que utilizava o ChatGPT, a inteligência artificial da OpenAI, para redigir contestações de questões da prova que ele próprio havia fraudado.

As mensagens recuperadas do celular de Valmir, apreendido durante a Operação Escolha Errada, apontaram que o candidato não compreendia nem o motivo de apresentar recurso. O pedido não apontava falhas da banca ou erros de correção, o objetivo era apenas “aumentar a nota”.

“Causa estranheza uma pessoa ser aprovada no concurso para auditor fiscal do trabalho e não saber, nem sequer, fazer um recurso de questões desse próprio certame em que foi aprovado”, destacou a PF, que analisou o conteúdo do aparelho.

Gabarito Valmir foi aprovado com gabarito idêntico ao de outros três candidatos: o próprio Wanderlan, Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior e Larissa de Oliveira Neves, sobrinha de ambos.

A perícia da PF calculou a probabilidade de coincidência casual em 1,5 × 10⁻¹⁴⁶, equivalente a ganhar na Mega-Sena 18 vezes seguidas.

As mensagens mostram que o gabarito era enviado por Wanderlan antes da prova. Valmir apenas copiava as respostas, sem domínio técnico algum.

A fraude o colocou entre os aprovados para o cargo de auditor fiscal do trabalho, um dos mais disputados do serviço público, com salário inicial de R$ 22,9 mil.

O recurso Incapaz de redigir um texto técnico, Valmir pediu ajuda ao irmão. Wanderlan então utilizou o ChatGPT para gerar textos de recursos prontos, reescrevendo modelos antigos e enviando-os pelo celular.

“Wanderan, utilizando uma Inteligência Artificial (IA), solicita que seja reescrito algum texto de recurso que ele anteriormente tenha feito e o envia para Valmir, dizendo para ele utilizá-lo”, descreve o relatório da PF.

Valmir copiava e colava os textos, sem saber sequer o conteúdo que estava enviando à banca. Apesar da “aprovação” no CNU, Valmir foi reprovado no curso de formação, etapa obrigatória e presencial do certame.

Dinastia da fraude

A fraude virou negócio de família. Valmir é irmão de Wanderlan e tio de Larissa, outra candidata beneficiada pelo esquema. O grupo, originário de Patos (PB), montou uma rede de manipulação de concursos.

Wanderlan, ex-policial militar, já havia sido condenado por homicídio e transformou o crime em empreendimento lucrativo, cobrando até R$ 400 mil por aprovação.

Ele controlava cada etapa: inscrições, envio de gabaritos, instruções de conduta e, agora se sabe, até os textos dos recursos, escritos por uma ferramenta de IA.

What's Your Reaction?

like

dislike

love

funny

angry

sad

wow

tibauemacao. Eu sou a senhora Rosa Alves este e o nosso Web Portal Noticias Atualizadas Diariamente