Guerra das mansões: Justiça embarga obra de bilionário nos Jardins

Obra de mansão de dono da farmacêutica Cimed é alvo de reclamações de associação e de banqueiro nos Jardins. Empresário nega irregularidades

Dezembro 31, 2025 - 04:30
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Guerra das mansões: Justiça embarga obra de bilionário nos Jardins

A construção de uma mansão de proporções faraônicas no coração do Jardins, um dos bairros mais caros de São Paulo, provocou revolta entre vizinhos endinheirados, denúncia de dano ao imóvel de um banqueiro e uma ação civil movida pela associação local. O mais novo capítulo dessa novela foi uma decisão judicial, neste mês, que determinou a paralisação da obra.

O responsável pela construção é o empresário João Adibe (foto em destaque), presidente da farmacêutica Cimed e 86º homem mais rico do país, com patrimônio estimado em R$ 5,2 bilhões, segundo a revista Forbes. Nos últimos meses, Adibe também passou a frequentar o noticiário esportivo, citado como possível futuro presidente do Palmeiras. Guerra das mansões: Justiça embarga obra de bilionário nos Jardins - destaque galeria4 imagensImagem da obra da mansão de João Adibe anexada ao processoImagem aérea de obra de mansão anexada ao processo Imóvel de João Adibe visto de fora, em imagem anexada ao processoFechar modal.MetrópolesTrabalhadores em obra de mansão de João Adibe, em imagem anexada ao processo1 de 4

Trabalhadores em obra de mansão de João Adibe, em imagem anexada ao processoReproduçãoImagem da obra da mansão de João Adibe anexada ao processo2 de 4

Imagem da obra da mansão de João Adibe anexada ao processoReproduçãoImagem aérea de obra de mansão anexada ao processo 3 de 4

Imagem aérea de obra de mansão anexada ao processo Imóvel de João Adibe visto de fora, em imagem anexada ao processo4 de 4

Imóvel de João Adibe visto de fora, em imagem anexada ao processoReprodução

A Associação dos Moradores dos Jardins (AME Jardins) entrou com uma ação civil pública alegando que a obra foi aprovada como uma simples reforma, mas resultou na demolição quase total da construção original — um imponente casarão que teria tido apenas a fachada preservada, segundo a petição. A defesa de Adibe, por sua vez, afirmou que a obra foi autorizada por todos os órgãos competentes e já foi concluída há meses.

O Jardim Paulista, onde fica o lote, é um bairro estritamente residencial e submetido a rígidas restrições urbanísticas. Segundo a associação, a construção desrespeita regras de tombamento dos Jardins ao extrapolar alturas máximas, descumprir recuos obrigatórios e realizar intervenções não previstas no projeto aprovado, como a construção de um segundo pavimento em uma edícula.

 

A AME Jardins ainda denunciou a supressão da vegetação do lote, com pavimentação que compromete a permeabilidade do solo, além de danos como infiltrações, redução de insolação e invasão de privacidade imóvel vizinho.

A ação relata também que as obras continuaram apesar de embargos do Condephaat (órgão estadual de patrimônio histórico) e da Subprefeitura de Pinheiros.

“Os vídeos em anexo, datados de 06/12/2025 (sábado), demonstram com clareza a continuidade da conduta recalcitrante, irregular e mesmo ilegal dos réus, que menosprezam as decisões administrativas e as multas aplicadas, seguindo seu intento construtivo como melhor lhe aprouver, ainda que ao arrepio das normativas”, diz a inicial.

Casa de banqueiro com fissuras

Um dos vizinhos que se dizem diretamente afetados pelas obras é o banqueiro André Schwartz, CEO do banco Genial. Um laudo técnico anexado à ação aponta que a demolição quase integral do imóvel vizinho, somada a serviços de terraplenagem pesada e uso de equipamentos de grande porte, teria provocado danos à residência de Schwartz.

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O documento aponta o surgimento de trincas e fissuras nas paredes da casa, além de prejuízos ao uso regular do imóvel, que fica ao lado da mansão.

Em meio à polêmica, o banqueiro apresentou uma petição ao Condephaat na qual classificou como “deboche” um vídeo publicado pela mulher de Adibe, a influencer Cinthya Marques, em meio às ordens de embargo.

Na gravação publicada no fim de agosto (veja abaixo), ela descreve a movimentação de trabalhadores no local. “A betoneira está rolando ali. Tem gesseiro, tem eletricista. Também não sei o nome de tudo”, diz no vídeo, cujo link foi anexado no documento.

Assista:

 

Em seu perfil com quase 300 mil seguidores, Cinthya ainda mostra detalhes da residência – como a fonte de inspiração para sua piscina. ”Quando eu assisti o documentário do Gianni Versace, eu tinha certeza de uma coisa, que a próxima piscina da minha casa ia ser inspirada nele. Eu acho que o Gianni Versace ia ficar orgulhoso de mim, hein?”

Em outros trechos, a influencer exibe a enorme garagem, o closet e o banheiro, acrescentando que a obra utilizou 43 tipos diferentes de pedras.  “E as pedras mais bonitas são as nacionais”, frisa.

Juíza dá razão a associação

No último dia 19, a juíza Mariana Medeiros Lenz, da 9ª Vara da Fazenda Pública, determinou uma série de ordens cautelares, entre elas a que determina a paralisação imediata da obra ou serviços no local.

A decisão cita penalizações administrativas anteriores, além da constatação de “desvirtuamento do Alvará de Execução” pelo Condephaat. A juíza também afirma que a fiscalização foi cerceada, mas foi possível ver a partir de um imóvel vizinho que a “edícula avançou sobre o recuo obrigatório e atingiu altura superior ao limite permitido”.

“O perigo de dano é evidente, dado o caráter irreversível das intervenções em patrimônio ambiental e urbanístico tombado. A continuidade das obras ao arrepio das ordens administrativas de embargo evidencia o risco de consolidação de uma situação fática ilegal, prejudicando a fruição do patrimônio cultural e ambiental pela coletividade e causando danos por impermeabilização do solo e supressão de vegetação protegida”, diz a magistrada.

Além da paralisação da obra, a juíza determinou uma multa diária de R$ 50 mil em caso de desobediência, estabelecendo valor máximo de R$ 5 milhões. Também concedeu autorização aos servidores do Condephaat para entrar no imóvel e realizar vistoria completa para “apuração das irregularidades”.

A decisão ainda vetou a concessão de “Habite-se” ou certificado de conclusão da obra pela prefeitura e ordenou a averbação da existência da ação na matrícula do imóvel no cartório. Decisão judicialDecisão judicial determina embargo da obra na casa de João Adibe

O que diz o dono da mansão

Os advogados de João Adibe, Daniel Bialski e Fabio Kadi, afirmaram que “a obra da casa foi autorizada por todos os órgãos competentes e já foi concluída há meses, portanto, não procede qualquer imputação de embargo”.

“O imóvel inclusive possui o Habite-se, o que comprova a inidoneidade das alegações apresentadas. Aliás, a família reside no local há tempos”, acrescenta o comunicado.

A nota afirma ainda que, em ação anterior, há um laudo elaborado por perito judicial que descartou qualquer responsabilidade de João Adibe sobre os problemas relatados pelo vizinhos. “O documento atesta, ainda, que os danos relatados são oriundos de má conservação daquele”.

De acordo com o comunicado, uma ação sobre o mesmo caso movida pelo vizinho teve todas as cautelares indeferidas pela Justiça.

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