“Homem Dragão”: cientistas acham origem de caveira de 146 mil anos

Cientistas conseguiram finalmente identificar uma ossada misteriosa que havia sido descoberta em 1930. Conhecido cientificamente como indivíduo de Harbin, o crânio do Homem Dragão tem 146 mil anos.

Ele era um mistério para arqueólogos que estudam a evolução humana, já que a caveira não se encaixava em nenhuma das categorias conhecidas de ancestrais hominídeos.

Em dois artigos publicados na Science e na Cell, duas prestigiadas revistas científicas, arqueólogos chineses conseguiram identificar a origem do crânio, incluindo-o como um dos hominídeos de Denisova, um grupo do norte da Ásia que foi descoberto em 2008, na Sibéria.

Os denisovanos são um grupo extinto de hominídeos pouco compreendido. Eles habitaram a Europa e a Ásia entre 400 e 100 mil anos atrás, mas o espécime chinês é o primeiro crânio quase completo já identificado como denisovano. Até hoje, os cientistas conheciam esse grupo apenas por fragmentos de mandíbula, dentes e alguns ossos localizados principalmente na Sibéria.

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Caveira histórica escondida por décadas

Durante quase um século, um crânio antigo permaneceu sem explicação clara. Conhecido como Homem Dragão, ele foi encontrado por um trabalhador na década de 1930, em Harbin,  no nordeste da China. A ossada estava às margens de um rio que tem o nome do animal mitológico.

No entanto, o fóssil foi descoberto em plena ocupação japonesa na China, às vésperas da Segunda Guerra. O operário que o encontrou, durante a construção de uma ponte sobre o rio Songhua, decidiu esconder o achado no fundo de um poço. Só em 2018, sua família entregou o crânio à Universidade de Hebei.

Em 2021, com base apenas em comparações morfológicas, o crânio foi classificado como Homo longi. Essa categorização inicial foi feita a partir da análise visual do formato do crânio. No entanto, a aparência física nem sempre reflete corretamente a posição de um fóssil na árvore evolutiva, alertam os cientistas. 3 imagensFechar modal.1 de 3

DNA do dente da ossada foi essencial para conectar o crânio à linhagem de hominídeosReprodução/Cell2 de 3

Crânio foi encontrado em 1930,mas só veio a público em 2008Reprodução/Cell3 de 3

Ossada é a mais preservada entre os denisovanos Reprodução/Cell

Nova técnica de análise

A paleontóloga Qiaomei Fu, da Academia Chinesa de Ciências, liderou os estudos que mudaram o entendimento do fóssil. Fu é especialista em assentamentos humanos antigos na Ásia e conduziu a análise molecular do crânio.

A equipe da paleontóloga usou técnicas avançadas para recuperar proteínas e DNA mitocondrial do osso petroso — um dos mais densos do corpo humano, localizado dentro da orelha interna — onde acreditava que conseguiria uma amostra mais preservada, além de parte dos dentes do Homem Dragão.

O DNA mitocondrial, extraído de apenas 0,3 miligrama de cálculo dentário, revelou grande semelhança com o de cinco outros denisovanos conhecidos, cujos restos foram encontrados na Sibéria décadas depois.

Os dados genéticos indicam que o indivíduo de Harbin pertence a uma população de denisovanos. A descoberta amplia a compreensão sobre a presença geográfica do grupo.

Os pesquisadores concluíram que o Homo longi não representa uma nova linhagem. A aparência robusta do crânio enganou os cientistas anteriormente. Agora, ele é reconhecido como um representante de maior porte dos denisovanos.

“A descoberta de que o DNA humano do espécime de Harbin está melhor preservado no cálculo dentário do que em ossos densos, incluindo o osso petroso, sugere que o cálculo dentário pode ser uma fonte valiosa para investigar o DNA em hominídeos do Pleistoceno Médio”, escrevem Fu e sua equipe no artigo.

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