Irmã gêmea de serial killer foi “conselheira” de crimes, diz polícia
Trocas de mensagens ajudaram polícia a relacionar crimes e verificar envolvimento de irmãs em assassinatos por envenenamento

A Polícia Civil de São Paulo desvendou um complexo esquema de homicídios em série supostamente orquestrado pelas irmãs gêmeas Ana Paula Veloso Fernandes e Roberta Cristina Veloso Fernandes, de 35 anos.
Ana Paula, que tem grau de instrução superior incompleto e se identifica profissionalmente como enfermeira e estagiária em escritório de advocacia, é a principal investigada, sendo classificada pelas autoridades judiciais como uma “verdadeira serial killer”. Tanto ela como a irmã estão presas.
Articulação Criminosa e o Código “TCC”
As investigações revelaram que a parceria criminosa era marcada por planejamento prévio e divisão de tarefas, conforme comprovado em mensagens e áudios recuperados dos celulares apreendidos. Para se referirem à execução das mortes, de forma velada, as irmãs utilizavam o código TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).
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Ana Paula confessou ter matado colega de moradia à polícia Reprodução/TJSP2 de 6
Ana matou Neil por encomenda, no Rio de JaneiroReprodução/TJSP3 de 6
Na casa dela foi encontrado veneno Reprodução/TJSP4 de 6
Uma da vítimas foi morta após encontro via appReprodução/TJSP5 de 6
Criminosa está presa desde setembroReprodução/TJSP6 de 6
Acusada está envolvida em ao menos quatro mortes por envenenamento Reprodução/TJSP
As conversas mostram que Roberta orientava Ana Paula sobre os aspectos logísticos e financeiros dos homicídios. Roberta, por exemplo, instruía a irmã a “cobrar” por futuros TCCs. Ela ainda alertava sobre a necessidade de sigilo. “Coisas mais importantes, melhor por ligação”, diz trecho dos diálogos mencionados em processo obtido pela reportagem.
Os quatro homicídios e a motivação
As provas técnicas e confissões indicam que quatro homicídios estão ligados diretamente à atuação de Ana Paula, todos praticados, em tese, com o uso de veneno, dificultando a defesa das vítimas. Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência das investigadas, foi encontrado chumbinho, um veneno altamente tóxico e ilegal usado antigamente para matar ratos.
Os crimes, ocorridos entre janeiro e maio deste ano, vitimaram pessoas em Guarulhos, São Paulo e Rio de Janeiro.
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O contexto dos crimes
- Marcelo Hari Fonseca, morto em 31 de janeiro, havia alugado parte da casa para Ana Paula e Roberta no início de janeiro e foi encontrado morto em estado avançado de putrefação. Ana Paula foi quem acionou a Polícia Militar. Roberta confessou ter queimado o sofá, alegando que ele “estava fedendo muito em razão do estado que Marcelo foi encontrado”. Ana Paula confessou o assassinato, afirmando que o fez após desentendimentos e ameaças. Ela negou ter tido um relacionamento amoroso com Marcelo, admitindo que falou de namoro apenas para tentar permanecer no imóvel após a morte.
- Maria Aparecida Rodrigues, morta em abril, era amiga de Ana Paula e esteve na residência das gêmeas, onde comeu um bolo com café. Horas depois, foi encontrada morta. Ana Paula admitiu que foi a última pessoa a ter contato alimentar com Maria. O crime foi uma tentativa de incriminação do policial militar Diego Sakaguchi (ex-amante de Ana Paula). A investigada inseriu bilhetes na casa da vítima com as frases “Diego Ferreira polícia não presta” e “Giuliana Fonseca Santana”.
- Neil Corrêa da Silva, morto em 26 de abril, o idoso, de 64 anos, foi vítima de homicídio por encomenda, com a filha Michelle como suposta mandante. Ana Paula viajou ao Rio de Janeiro para o assassinato. Em áudio enviado para a irmã, Ana Paula relata a execução. Ela confessou o homicídio de Neil, em depoimento. Michele foi presa no último dia 7. A defesa dela não foi encontrada, assim como das irmãs gêmeas. O espaço segue aberto para manifestações.
- Hayder Mhazres, morto em 23 de maio. Cidadão tunisiano de 21 anos, ele era um contato de Ana Paula via aplicativo de relacionamento. O irmão de Hayder, Hazem Mhazres, relatou que Ana Paula estaria perseguindo a vítima alegando estar grávida para forçar o casamento. Após a morte, Ana Paula contatou o Consulado da Tunísia, mentindo que morava com ele e queria se casar post mortem para garantir os direitos como viúva grávida.
Risco à ordem pública
Atualmente, Ana Paula está presa na Penitenciária Feminina de Santana, zona norte paulistana. Roberta está detida em Guarulhos, na Grande São Paulo.
As Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo destacaram que a liberdade de Ana Paula representaria um risco à ordem pública e à instrução criminal, dada a postura de manipular provas e ao fato de ela ser uma “serial killer”.
O 1º DP de Guarulhos instaurou um novo Inquérito Policial para aprofundar a investigação da participação de Roberta Cristina Veloso Fernandes nos crimes, bem como de outros eventuais cúmplices nos assassinatos.
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