Lula reconhece a necessidade do voto conservador (por Leonardo Barreto
Reação cautelosa do governo em relação aos combates no Rio de Janeiro
Mais de 24 horas depois dos combates no Rio de Janeiro, Lula se manifestou via X. Em um texto conservador, o presidente caminhou para bem longe do lugar que a esquerda normalmente ocupa nesse tipo debate.
Não usou termos comumente utilizados nesse tipo de evento, como “chacina” ou “extermínio”. A ideia de defesa de “direitos humanos” também não é lembrada. Mas ele presta condolências à política e usa palavras como “família” e “crianças” como vítimas do crime organizado.
Trata-se de uma mudança em tanto em relação ao discurso feito durante sua viagem pela Ásia no qual se referiu aos traficantes como vítimas dos usuários, argumento que faz parte da forma tradicional como alguns segmentos intelectuais e políticos da esquerda percebem esse problema.
A mudança de postura revela duas coisas: a preponderância do ministro Sidônio Palmeira sobre o comportamento e a opinião do presidente Lula e a centralidade do voto conservador para o projeto de reeleição.
Apesar da recente onda de entusiasmo que tomou uma parte da mídia e dos analistas quanto à inevitabilidade da reeleição – Lula assumiu oficialmente sua condição de candidato no mesmo tour asiático –, os números de pesquisa continuam sugerindo que o pleito será apertado.
Segundo o último levantamento da Paraná Pesquisa, feito antes antes das cenas de guerra, o gap entre satisfeitos e insatisfeitos, que chegou a ser negativo em mais de 20 pontos percentuais, caiu para 6 pontos, como 41% avaliando a gestão como ruim ou péssima e 35,3% como ótima ou boa.
Aí vem o outro lado da moeda.
Apesar da melhora, os mesmos dados sinalizam uma eleição apertadíssima. Nas simulações eleitorais, mesmo após um período considerado superpositivo pelos petistas, Lula empata na margem de erro com Jair Bolsonaro, que está preso, e com Tarcísio de Freitas, que é desconhecido de muita gente.
Isso quer dizer que Lula não pode fazer um governo totalmente à esquerda porque ainda precisa de um eleitor de características conservadoras, uma pessoa que, provavelmente, é um simpatizante do antipetismo e só apertou o 13 porque detestava mais Bolsonaro do que antipatizava com o petista em 2022.
Só isso pode explicar a nota conservadora que o onipresente ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, escreveu para Lula, provavelmente após analisar muitas pesquisas tracking. Ele sabe que Lula melhorou muito, mas não o suficiente para se sentir seguro na próxima eleição.
Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília
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