Metanol: investigação sobre bebida adulterada aguarda laudo há 1 ano
Suspeito foi preso em SP por reaproveitar garrafas de uísque e colocar bebida de origem duvidosa, vendidas para comércios como originais

Em meio às investigações sobre intoxicação por metanol em São Paulo que mobilizam autoridades de todo o país, a Polícia Civil aguarda há quase um ano laudos do Instituto de Criminalística (IC) que vão determinar se 34 garrafas de uísque apreendidas em Monte Alto, no interior paulista, contêm metanol em amostras recolhidas na casa do empresário Celso Ricardo Veloso Rodrigues, o Corolla.
Celso foi preso em novembro de 2024 pela Delegacia de Plantão de Jaboticabal, que pediu a perícia para comprovar a falsificação da bebida e identificar contaminantes.
Segundo a polícia, o empresário mantinha um ponto de venda informal, identificado como Empório da Cerveja, em Monte Alto, que funcionava como fachada para a revenda dos uísques adulterados.
Corolla foi autuado por falsificação de produto destinado ao consumo humano e corrupção ativa, após tentar subornar os policiais militares que o prenderam com parte do dinheiro encontrado em sua casa. Na casa dele também foram apreendidos um tijolo de maconha e 262 cápsulas de cocaína — por essa razão, ele também responde por tráfico de drogas.
A prisão do empresário foi convertida em preventiva e ele permanece encarcerado na Cadeia Pública de Pradópolis. Sua defesa não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
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Bahia registra primeiro caso suspeito de intoxicação por metanolValto Novaes/Prefeitura de Feira de Santana3 de 15
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Empresário era bebedor contumaz, segundo familiarReprodução/Facebook9 de 15
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Advogado Marcelo Macedo Lombardi, morto após ingerir bebida com metanol em SPReprodução/Redes Sociais12 de 15
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A apreensão na casa do empresário incluiu garrafas com rótulos de marcas famosas de uísque e vodca, totalizando dezenas de litros. A Polícia Civil, então, encaminhou amostras para exame, com o objetivo de comprovar “eventual falsificação de bebida alcoólica”.
O método de falsificação
Documentos anexados ao inquérito policial, obtido pelo Metrópoles, mostram que o método usado por Corolla replicava procedimentos apurados em outras investigações sobre bebidas clandestinas. Garrafas de marcas conhecidas eram obtidas em pontos de coleta, como bares, depósitos, revendas, ou reaproveitadas após o uso, nas quais eram colocados tampas e lacres originais.
Os vasilhames eram lavados e abastecidos com destilados de procedência duvidosa, muitas vezes álcool etílico de baixa qualidade ou fórmulas produzidas à base de álcoois industriais. Apenas o exame laboratorial identifica resíduos e composições atípicas como essas, incluindo o metanol.
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Segundo a polícia, rótulos, cápsulas e selos térmicos eram reproduzidos ou colados para simular o produto original. Também eram introduzidas tampas ou rolhas não certificadas para dar aparência de autenticidade.
As garrafas então eram vendidas a bares, adegas e pequenos comerciantes por preços muito abaixo do mercado, ampliando a circulação e o risco. O lucro para o criminoso advinha, de acordo com a investigação, da diferença entre o custo reduzido do “recheio” e o preço cobrado como produto de marca. Corolla, por exemplo, gastava cerca de R$ 15 para falsificar uma garrafa, posteriormente revendida como se fosse original por R$ 120
Tanto em sua prisão como em depoimento, o empresário admitiu operar uma pequena distribuidora, identificada no processo como Empório da Cerveja, e declarou que os lotes seriam revendidos. Foi a partir daí que a polícia solicitou perícia específica nas garrafas, para verificar adulterações e, se fosse o caso, identificar componentes tóxicos como o metanol.
Por que o metanol é perigoso
O metanol é um álcool tóxico, usado na indústria como solvente, que, ingerido, é metabolizado no organismo em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que podem levar à cegueira, insuficiência renal, edema (inchaço) cerebral e morte. A identificação depende exclusivamente de análises laboratoriais como cromatografia, espectrometria ou testes toxicológicos, as mesmas solicitadas pela Polícia Civil ao IC no caso Corolla.
As investigações em Monte Alto coincidem com uma onda de intoxicações por ingestão de bebidas adulteradas com metanol que vem sendo noticiada em diferentes pontos do estado. O Metrópoles mostrou que, até o momento, ao menos nove mortes estariam relacionadas à intoxicação pelo consumo acidental da substância.
Entre os mortos, alguns tiveram as identidades levantadas pela reportagem. São eles:
- Ricardo Lopes Mira, 54 anos — empresário do setor de plásticos, morador da Mooca, zona leste da capital paulista. Ele foi identificado como a primeira morte oficialmente confirmada por laudos periciais ligados ao surto em São Paulo. Um laudo clínico apontou intoxicação exógena por álcool, com evidência de acidez no sangue e inchaço cerebral como causas associadas à morte, após alguns dias de internação.
- Marcelo Macedo Lombardi, 45 anos — a reportagem apurou que o advogado morreu após ter passado mal em uma confraternização. Registros policiais e hospitalares indicaram sintomas típicos de intoxicação por álcool, como náusea, visão turva, rebaixamento de consciência, antes da evolução do quadro clínico para falência múltipla dos órgãos.
Além das mortes, há constantes notificações sobre hospitalizações supostamente relacionadas à ingestão de metanol desde o mês passado.
O que falta apurar e por que os laudos são cruciais
- Composição química das amostras: apenas o laudo do IC confirmará se houve contaminação por metanol e em que concentração. Isso determina se as garrafas apreendidas representam risco letal e se há conexão técnico-forense com outras amostras de casos noticiados no estado.
- Rastreabilidade da cadeia: vão ajudar a identificar fornecedores de insumos como álcool anidro, “recheios” a granel, pontos de venda e eventuais redes de distribuição que conectem lotes apreendidos a casos clínicos em hospitais.
Recomendações e alerta à população
Autoridades de saúde e segurança reiteram que produtos com preços muito abaixo do mercado, venda sem nota fiscal, tampas ou lacres quebrados, irregulares e recipientes reaproveitados são indicadores de risco.
Em casos de náusea intensa, visão embaçada, dor de cabeça forte ou mudança do nível de consciência após ingestão alcoólica, a orientação é procurar atendimento médico imediato e informar aos profissionais a suspeita de ingestão de bebida adulterada. O tempo é decisivo no tratamento de intoxicação por metanol.
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