Núcleo financeiro do CV liderado por Doca e Gardenal é alvo da polícia
Investigações apontam que os criminosos estruturaram e coordenaram o esquema, que chegou a movimentar R$ 600 milhões
Policiais civis da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), com apoio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), deflagraram, nesta terça-feira (16/12), mais uma fase da Operação Contenção. A ação tem como foco o núcleo financeiro do Comando Vermelho (CV) e mira um esquema de lavagem de dinheiro em larga escala comandado por Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, e Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”.
Nesta etapa, são cumpridos mandados de busca e apreensão, além do bloqueio de contas bancárias pessoais e empresariais, sequestro de bens móveis e imóveis e pedido de bloqueio judicial de aproximadamente R$ 600 milhões.
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As diligências ocorrem na capital fluminense, na Baixada Fluminense e no município de Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, além de Juiz de Fora (MG) e Pontes e Lacerda (MT).
Estrutura complexa
A investigação, que contou com o apoio do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), aponta que a sustentação da facção criminosa vai além do tráfico de drogas, sendo baseada em um complexo e estruturado sistema de lavagem de dinheiro. O esquema era responsável por receber, ocultar, movimentar e reinserir recursos ilícitos no sistema financeiro formal.
De acordo com as apurações, Doca, uma das principais lideranças do Comando Vermelho, e Gardenal, apontado como seu principal operador financeiro, estruturaram e coordenaram o esquema por meio de terceiros e empresas de fachada, com o objetivo de dissimular a origem criminosa dos valores.
No centro da operação financeira foi identificado um responsável por concentrar e movimentar grandes volumes de dinheiro em contas bancárias pessoais e empresariais sob seu controle, conforme demonstram Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs).
Segundo a Polícia Civil, os recursos eram utilizados para financiar a compra de drogas, armas, veículos, imóveis e a manutenção do domínio territorial da facção. Ao atingir diretamente esse fluxo financeiro, a operação busca provocar o colapso do caixa da organização criminosa, comprometendo sua capacidade operacional.
As movimentações financeiras identificadas são incompatíveis com a renda declarada dos investigados, evidenciando que as contas funcionavam como verdadeiros caixas centrais da facção, agora neutralizadas por decisões judiciais.
O esquema também utilizava “mulas financeiras” responsáveis por realizar depósitos em dinheiro vivo. Esses depósitos eram feitos em valores elevados, frequentemente fracionados, em diferentes agências bancárias e, muitas vezes, no mesmo dia, por pessoas distintas, um padrão clássico de lavagem de dinheiro, segundo os investigadores.
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1 de 3Seu nome aparece em mais de 100 anotações criminaisArte/Metrópoles
Edgar Alves de Andrade, o Doca
Cartaz do disque-denúncia que oferece recompensa por Doca Reprodução/Disque Denúncia
O caminho do dinheiro
A Polícia Civil concentrou a investigação no rastreamento do caminho do dinheiro, demonstrando que, enquanto o crime se manifesta nas comunidades dominadas pela facção, os valores arrecadados eram direcionados a contas específicas, onde eram concentrados e redistribuídos para sustentar toda a estrutura criminosa.
Documentos apontam que o município de Pontes e Lacerda, no Mato Grosso, foi utilizado como um dos principais polos de concentração financeira do esquema. A localidade funcionava como base para recebimento e movimentação dos valores ilícitos, distante dos principais pontos do tráfico, justamente para reduzir a exposição das lideranças criminosas.
Com base nas provas reunidas, a Polícia Civil representou judicialmente pelo bloqueio de cerca de R$ 600 milhões, montante correspondente à movimentação financeira suspeita identificada ao longo de aproximadamente dois anos. As medidas atingiram contas bancárias pessoais, empresariais e de outras pessoas físicas e jurídicas utilizadas no esquema.
Além dos bloqueios, houve o sequestro de bens móveis e imóveis, incluindo uma propriedade rural no Estado do Mato Grosso, considerada incompatível com a renda declarada dos investigados, com o objetivo de impedir a ocultação patrimonial e reforçar a responsabilização penal.
Operação Contenção
A operação cumpre mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso, com foco na apreensão de documentos, mídias digitais, valores, veículos e outros elementos probatórios que devem aprofundar a investigação financeira.
A ação integra a Operação Contenção, ofensiva estratégica do Governo do Estado voltada ao enfrentamento e à contenção do avanço territorial do Comando Vermelho. O objetivo é desarticular as estruturas financeira, logística e operacional da facção, além de prender traficantes atuantes nas regiões alvo.
Até o momento, a operação resultou em mais de 250 capturas, 136 criminosos neutralizados em confrontos, além da apreensão de cerca de 460 armas, sendo 189 fuzis, e mais de 50 mil munições.
Também participam da ação policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), de unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) e agentes das polícias civis de Minas Gerais e do Mato Grosso.
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