O delírio do conspirador (por Mary Zaidan)
Eduardo Bolsonaro dobra a aposta contra o Brasil e incendeia as redes bolsonaristas

O Brasil é uma ditadura comandada pelo supremo juiz Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro é vítima de perseguição política e Donald Trump é um estadista. Sandices desse porte dominam as falas do bolsonarismo e tendem a se tornar ainda mais delirantes com a proximidade do julgamento do ex por tentativa de golpe, marcado para ter início no dia 2 de setembro. Até lá, o filho Eduardo, deputado federal que abandonou o mandato para conspirar contra o Brasil nos Estados Unidos, continuará embalado no desatino de que pressões podem fazer o Judiciário recuar no processo contra o seu papai. Parece não ver que cada tiro que dá fura mais os seus pés.
Na semana passada, o zero três anunciou em alto e bom som que viriam novas punições, desta vez para Viviane Moraes, mulher do ministro-relator da tentativa de golpe. E não descartou uma nova onda de tarifas, embora esteja fazendo um esforço gigantesco – e inútil – para se desvencilhar da chantagem de Trump em relação ao Brasil.
Na sexta-feira, o deputado exibiu uma foto ao lado do secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessen, feita na quarta-feira, dia da reunião virtual com o ministro Fernando Haddad, cancelada por Bessen sob alegação de dificuldades de agenda. Ao secretário, Eduardo “denunciou” que os bancos brasileiros estavam descumprindo as punições impostas a Moraes. “Nós passamos para ele matérias da imprensa dando conta de que os bancos brasileiros não estavam cumprindo fielmente a Lei Magnitsky”, disse.
Mas a exibição de proximidade com gente do governo Trump e os aplausos à chantagem trumpista para livrar o seu pai da cadeia só aprofundam os seus reveses. Na mesma sexta-feira, o parlamentar tomou conhecimento do calendário de julgamento do pai, determinado pelo presidente da Primeira Turma do STF, Cristiano Zanin, e de que quatro pedidos de cassação de seu mandato foram (finalmente) encaminhados para a Comissão de Ética pelo presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos-PB).
Neste caso, é altíssima a probabilidade de punir quem instiga punições. Mas não para por aí.
Em sua cruzada pró-papai e anti-Brasil, Eduardo conseguiu não só encher a bola do líder do campo adversário, o presidente Lula, como estabelecer um armistício entre o governo e o Congresso, que viviam às turras até o advento das tarifas. Mais: fortaleceu o amálgama entre os ministros da Suprema Corte.
Até a esperança dos bolsonaristas depositada no ministro Luiz Fux começa a minguar. Poupado por Trump na cassação de vistos para os Estados Unidos, Fux teve suas opiniões citadas uma dezena de vezes na peça de defesa do ex, apontando o tamanho das apostas no ministro. Primeiro, falava-se em pedido de vistas, o que poderia atrasar em 90 dias o julgamento, ação que Fux já teria dito a colegas que não pretende adotar. Acredita-se que, no máximo, o ministro deverá pontuar algumas divergências quanto à condução do processo, e, talvez, na tipificação dos crimes e na dosagem das penas.
Já na Câmara, as chances de Eduardo são remotas. O próprio Motta falou em cassação em entrevista à GloboNews, e o clima entre os deputados, muitos deles apoiados por setores punidos com tarifas, como o agro e a indústria siderúrgica, consideram que não vale a pena arriscar o pescoço por um parlamentar que escolheu um caminho heterodoxo e indefensável. O PL, partido pelo qual Eduardo se elegeu, com mais de 741 mil votos dos paulistas, finge que não é com ele. Na verdade, preferia que o deputado-problema migrasse para outra sigla.
Paralelamente, a Polícia Federal avança no inquérito que apura as conspirações de Eduardo, tendo incluído o pai e agora, o pastor Silas Malafaia. Que a investigação acabe em processo é mais do que uma hipótese – é praticamente certa.
Diante do julgamento iminente que reavivará os passos da trama golpista, aos radicais do bolsonarismo resta o delírio. Nas redes, as maluquices vão de bloqueio de contas de empresários amigos de ministros do STF até a intervenção de tropas armadas de Trump. Imaginação fértil que não tem o condão de transformar a realidade: o Brasil vai punir os golpistas – todos eles.
Mary Zaidan é jornalista
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