Política se rende ao algoritmo: prefeito Manga quer ensinar a arte da performance digital
A política brasileira está se tornando cada vez mais refém da lógica do marketing digital e dos algoritmos. Não faltam políticos que lançam cursos de comunicação, vendendo a ideia de que dominar redes sociais garante sucesso eleitoral. O caso mais recente é o do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, que criou um curso para […]


A política brasileira está se tornando cada vez mais refém da lógica do marketing digital e dos algoritmos. Não faltam políticos que lançam cursos de comunicação, vendendo a ideia de que dominar redes sociais garante sucesso eleitoral. O caso mais recente é o do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, que criou um curso para ensinar colegas a “viralizar” e conquistar engajamento. Antes dele, Eduardo Bolsonaro lançou treinamentos alinhados a estratégias da direita internacional, enquanto Nikolas Ferreira apostou em vídeos curtos e agressivos para o público jovem, transformando-se em influenciador político.
Não há novidade no uso das mídias. Getúlio Vargas fez do rádio seu palanque, Fernando Collor explorou a televisão e Jair Bolsonaro mobilizou redes sociais e grupos de WhatsApp como plataformas políticas. A diferença é que, hoje, a comunicação está deixando de ser diálogo e virando uma mercadoria, a ser negociada, vendida.
O resultado é que a performance digital passa a valer mais que a formulação de políticas públicas. O discurso político molda-se pelo algoritmo e pela estética das plataformas, não pelo compromisso com projetos. Cursos que ensinam “a língua das redes” podem transformar a política em mera disputa de popularidade.
A pesquisa do Instituto Opus mostra essa contradição. Embora Manga tenha forte presença digital, 76% dos entrevistados declararam preferência por Tarcísio de Freitas, com estilo menos performático e menor exposição online. Para 66%, o prefeito é “cômico, exagerado ou sensacionalista”, enquanto Tarcísio é visto como mais sério e confiável. Curtidas e engajamento, portanto, não equivalem a credibilidade.
Pierre Bourdieu já advertia que visibilidade só se transforma em poder quando reconhecida como capital simbólico, ou seja, quando gera autoridade legítima junto ao eleitor. Curtidas e compartilhamentos podem trazer exposição, mas não substituem confiança.
Eduardo Bolsonaro e Nikolas Ferreira ilustram bem essa lógica. Seus discursos polarizadores, a mobilização em bolhas e a comunicação centrada na performance funcionam dentro de bases polarizadas, mas fora delas a estratégia dificilmente se sustenta.
Em outros momentos da história, campanhas ajudaram a redemocratizar, denunciar injustiças e ampliar direitos. Esse é o papel nobre da comunicação: formar opinião crítica e fortalecer a democracia.
Cursos podem ensinar técnicas digitais, mas não substituem um projeto político. Ser popular nas redes não é o mesmo que ser respeitado ou governar com resultados. Confundir política com entretenimento tem custo. Cedo ou tarde, a popularidade digital cobra seu preço.
Curtidas podem gerar manchetes, mas apenas credibilidade e resultados concretos consolidam lideranças de fato. Essa é a diferença entre quem só “aparece” e quem governa de verdade.
Vanessa Marques: jornalista, mestre em comunicação na Espanha, e atua há 20 anos na comunicação política, com 13 anos de experiência na Câmara dos Deputados. Mestre em comunicação na Espanha e pós-graduada em economia e ciência política.
Por Vanessa Marques
Instagram: @vanessamarques.mkt
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