Preso de MG alugava celular por R$ 100 a hora para comprar droga do CV
Conhecido no mundo do crime como Gás, presidiário mantinha negócio ilegal ativo e mantinha conexões com facção do RJ no interior de SP
Preso no Complexo Penitenciário de Ponte Nova (MG), Olessandro Silva dos Santos, o Gás, transformou um celular clandestino em instrumento central de comando do tráfico de drogas. Segundo documentos do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtidos pelo Metrópoles, ele pagava um aluguel de R$ 100 a hora, dentro do presídio, para custear e viabilizar negociações de drogas com criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV) em São Paulo.
De acordo com o processo, o aparelho ficava sob a guarida de ao menos três presos, que o alugavam ilegalmente aos detentos. Os valores pagos pelo uso eram depositados em contas bancárias de mulheres ligadas a presos do mesmo complexo, mecanismo que permitia diluir o rastro financeiro do esquema.
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A partir desse celular, Olessandro negociava compras, combinava preços e definia rotas de distribuição. O controle do telefone significava controle da operação. Era por ele que passavam as decisões centrais do tráfico.
Compras em São Paulo e o elo com o CV
As mensagens analisadas pelo Grupo que Investiga o Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, mostram que a droga negociada por Olessandro era adquirida fora de Minas Gerais, com origem em São Paulo, onde atuavam criminosos ligados ao CV. O elo com o estado paulista era feito principalmente por Gesiel dos Santos Monteiro, sobrinho de Olessandro, descrito no processo como colaborador e fornecedor.
Gesiel, com vínculos em São Paulo, ficava encarregado de adquirir a droga e repassá-la ao esquema mineiro, funcionando como ponte entre os fornecedores paulistas e os distribuidores indicados por Olessandro em diversas cidades.
Em uma das conversas destacadas no processo, Olessandro pede “ajuda” ao sobrinho para buscar duas “peças” de “exportação”, expressão usada para se referir a cocaína em estágio mais puro. Gesiel responde informando que já possui o material e estipula o preço por quilo, deixando clara a negociação direta de grandes quantidades.
Ordens curtas, negócios contínuos
Os diálogos revelam uma dinâmica marcada por comandos objetivos e linguagem cifrada. Mesmo preso no complexo penitenciário mineiro, Olessandro acompanhava de perto o andamento das vendas e cobrava alinhamento com outros integrantes do grupo, determinando para quem a droga deveria ser entregue e em quais condições.
As mensagens também mostram discussões sobre valores, reclamações por preços não cumpridos e ajustes nos prazos de pagamento, indicando que o tráfico seguia operando como um negócio regular, com conflitos e renegociações próprias de qualquer comércio, neste caso ilegal.
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A entrada do parceiro de SP
Paralelamente, o inquérito descreve a atuação de Lucas Henrique Rocha Pereira como um dos responsáveis pela distribuição de drogas no interior paulista. Ele — apontado como parceiro de um importante liderança do CV em São Paulo — aparece como encarregado de receber e pagar a droga enviada, utilizando outros indivíduos para manipulá-la e manter o funcionamento da rede.
Assim como Olessandro, Lucas manteve participação ativa mesmo após ser preso em Minas Gerais, justamente por envolvimento no envio de drogas para aquele estado, segundo documentos do caso.
A parceria com o CV em Rio Claro
Lucas atuava em parceria direta com Leonardo Felipe Panono Scupin Calixto, o Bode, líder do CV no interior paulista, como revelado pelo Metrópoles. De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), Bode exercia as mesmas funções de Lucas, como dono e distribuidor de drogas prontas para o consumo, mantendo contato constante com ele para tratar do tráfico.
Bode foi batizado pelo CV, em território fluminense, e passou a ser descrito como o principal nome da facção em Rio Claro, no interior paulista, assumindo papel de liderança local e garantindo a continuidade das atividades criminosas.
Ele segue foragido e, segundo o serviço velado da Polícia Militar paulista, estaria sob a guarda do CV no Rio de Janeiro, após sua morte ser decretada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), em decorrência da disputa pelo tráfico em Rio Claro e região, que deixou um rastro de sangue, com baixas em ambos os lados.
Um esquema que ignora grades e fronteiras
A investigação conclui que o tráfico descrito no processo operava de forma integrada, conectando o Complexo Penitenciário de Ponte Nova, fornecedores com acesso a São Paulo e distribuidores no interior paulista.
O protagonismo de Olessandro Silva dos Santos, mesmo encarcerado, o papel operacional de Gesiel, a atuação de Lucas Henrique e a liderança local atribuída a Bode evidenciam, segundo os investigadores, a capacidade de adaptação da organização.
Para o Gaeco, o caso ilustra como o tráfico de drogas segue funcionando apesar das prisões, sustentado por celulares clandestinos, mensagens curtas e uma cadeia de comando que atravessa muros, cidades e estados.
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