Dólar abre em baixa com “ressaca” do Copom, isenção do IR e Petrobras
Na véspera, o dólar terminou a sessão em queda de 0,7%, a R$ 5,361. Ibovespa voltou a bater recorde histórico e fechou aos 153,2 mil pontos
O dólar operava em queda na manhã desta quinta-feira (6/11), um dia depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter inalterada a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 15% ao ano.
Embora a decisão da autoridade monetária tenha sido esperada, os analistas do mercado se surpreenderam com o tom mais duro do comunicado divulgado pelo Copom. A maioria do mercado projeta o início do ciclo de cortes de juros apenas no início do ano que vem – o comitê ainda se reunirá mais uma vez em 2025, nos dias 9 e 10 de dezembro.
Ainda no cenário doméstico, os investidores repercutem a aprovação, pelo plenário do Senado Federal, do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) no Brasil para quem recebe até R$ 5 mil mensais – uma das bandeiras de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dólar
- Às 9h16, a moeda norte-americana recuava 0,31% e era negociada a R$ 5,344.
- Na véspera, o dólar terminou a sessão em queda de 0,7%, cotado a R$ 5,361.
- Com o resultado, a moeda dos Estados Unidos acumula perdas de 0,35% em novembro e de 13,25% frente ao real em 2025.
Ibovespa
- As negociações do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), começam às 10 horas.
- No dia anterior, o indicador fechou o pregão em forte alta de 1,72%, aos 153,2 mil pontos. Foi o recorde histórico de fechamento da Bolsa pela oitava sessão consecutiva.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 0,78% no mês e de 25,29% no ano.
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Como o mercado reagiu ao Copom
Nesta quinta-feira, o mercado financeiro vive uma espécie de “ressaca” após a decisão do Copom de manter a Selic no patamar de 15% ao ano, o mais alto em quase duas décadas.
No comunicado que acompanhou a decisão, o colegiado adotou um tom mais duro do que muitos analistas esperavam, afirmando que “o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária”.
“O comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, diz o texto.
A expectativa do mercado era a de que a expressão “período bastante prolongado” para a manutenção da taxa no patamar de 15% pudesse ser atenuada, ou mesmo, suprimida, o que não ocorreu.
“A expressão ‘por período bastante prolongado de tempo’ seguiu. Isso não deixa de ser uma surpresa, uma vez que a expectativa era que o ‘bastante’ saísse e, com isso, abrisse uma brecha para que a redução da taxa de juros passasse de março para janeiro. Não deve ser o caso. As apostas agora devem se concentrar em março”, avalia Felipe Cima, especialista da Manchester Investimentos.
“Parece haver um círculo vicioso. O mercado traça um cenário em que a inflação deve cair, mas ao mesmo tempo, reluta em ajustar os modelos com medo da política fiscal mais expansionista e, principalmente, do que ainda pode vir a ser anunciado e que tem impacto inflacionário”, explica Felipe. “Então, se o governo se comprometesse com uma política fiscal mais responsável ou entregasse a meta sem fazer tantos gols de mão, muito provavelmente, essa projeção da inflação cairia mais rapidamente e a Selic também teria um corte mais rápido.”
Segundo Pedro Cutolo, estrategista da One Wealth Management, o Copom “reconheceu sinais de desaceleração tanto na inflação cheia quanto nas medidas subjacentes”. “Apesar disso, manteve um tom austero, reiterando a intenção de manter a taxa no nível atual por um período prolongado. Em nossa avaliação, uma mudança nessa postura seria necessária para permitir uma eventual flexibilização da política monetária na reunião de dezembro”, afirma.
Para Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, houve “pouca mudança” no comunicado do Copom, “com uma maior confiança na atual estratégia, mas mantendo o tom duro e indicando a manutenção da taxa no atual patamar por período bastante prolongado”.
“De novidade, a projeção de inflação do BC para o prazo relevante da política monetária já está em 3,3%, bem próxima do centro da meta. Com a manutenção do atual cenário de câmbio favorável e desaceleração da atividade, a queda da inflação deve seguir consistente, ainda que lenta, observada tanto em bens como serviços”, projeta Rafaela.
“A mudança recente no cenário também inclui novas revisões de baixa das expectativas de inflação, incluindo para o longo prazo, e projetamos que o início dos cortes na Selic deve ocorrer a partir de janeiro de 2026. O risco permanece sendo o impacto da expansão fiscal para o próximo ano, principalmente o reaquecimento da demanda doméstica com o aumento da isenção de IR a partir de janeiro, além de novas iniciativas de gastos fiscais devido ao ano eleitoral”, completa a economista.
Isenção do IR até R$ 5 mil
Outro tema que repercute no pregão desta quinta é a aprovação, pelo Senado, do Projeto de Lei nº 1.087/2025, que isenta do IR quem ganha até R$ 5 mil por mês. Com a votação, o projeto vai à sanção de Lula e poderá valer já em 2026.
O projeto foi apresentado pelo Ministério da Fazenda em março deste ano e tramitou no Congresso Nacional por cerca de nove meses. O texto havia sido aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), também em votação simbólica, sob relatoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), e chegou ao plenário com pedido de regime de urgência para acelerar a tramitação.
A ampliação da isenção é uma das principais iniciativas do governo Lula, que prometeu a medida ainda durante a campanha eleitoral de 2022 e deverá fazer da lei um dos motes da campanha à reeleição no ano que vem. A votação no Senado foi acompanhada pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).
Ao todo, 25 milhões de pessoas deverão ser beneficiadas pelo aumento na faixa de isenção do IR, segundo dados do Ministério da Fazenda. Além da desoneração total para quem ganha até R$ 5 mil, a proposta dá isenção parcial para quem recebe até R$ 7.350. Como medida compensatória, o projeto do governo propõe a taxação dos chamados “super-ricos”, criando uma alíquota de 10% sobre pessoas físicas que recebem mais de R$ 600 mil por ano.
Petrobras
Uma das maiores empresas do país, a Petrobras divulga nesta quinta-feira, após o fechamento do mercado, seus resultados financeiros referentes ao terceiro trimestre de 2025, o que gera grande expectativa entre os investidores, dado o peso da companhia sobre os ativos negociados na Bolsa de Valores.
De acordo com as estimativas de analistas consultados pela Bloomberg, a estatal deve reportar uma receita líquida de cerca de R$ 118,6 bilhões. O lucro líquido estimado é de R$ 19,6 bilhões. O período entre julho e setembro foi marcado por um maior volume de exportações e um ambiente de volatilidade nos preços internacionais do petróleo, o que deve influenciar a percepção sobre a rentabilidade e a eficiência operacional da empresa.
As ações da Petrobras negociadas na Bolsa brasileira passam por um período de instabilidade. Depois de bater a máxima histórica em R$ 36,02, os papéis da companhia perderam força até chegarem à mínima do ano, em R$ 28,31. Nos últimos dias, a Petrobras foi ultrapassada pelo Nubank e pelo Itaú em valor de mercado.
Além do balanço da Petrobras, devem ser divulgados nesta quinta os resultados de empresas como Suzano, Smart Fit, Renner, Assaí e Magalu.
EUA
No front internacional, os investidores voltam suas atenções para uma série de discursos de autoridades do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA). Devem falar nesta quinta Michael Barr, vice-presidente de supervisão do Fed, e John Williams, membro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).
Também são esperados discursos de Christopher Waller, membro do Fed, e Henry Paulson, ex-secretário do Tesouro norte-americano.
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