Quando a imagem vira escudo: o uso da aparência como narrativa emocional nas CPIs

  Na CPI das Bets, que investiga o uso de influenciadores digitais na promoção de jogos de azar, a presença de Virgínia Fonseca nesta terça-feira, 13, chamou atenção, não só pela linguagem verbal e os sorrisos , mas pela escolha de sua vestimenta: um moletom preto estampado com o rosto da filha, Maria Flor — […]

May 13, 2025 - 13:00
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Quando a imagem vira escudo: o uso da aparência como narrativa emocional nas CPIs

 

Na CPI das Bets, que investiga o uso de influenciadores digitais na promoção de jogos de azar, a presença de Virgínia Fonseca nesta terça-feira, 13, chamou atenção, não só pela linguagem verbal e os sorrisos , mas pela escolha de sua vestimenta: um moletom preto estampado com o rosto da filha, Maria Flor — uma criança de apenas dois anos — e um copo térmico rosa com canudo nas mãos. Pode parecer detalhe, mas num ambiente político, cada gesto comunica. E, nesse caso, a roupa grita.

 

O moletom com a imagem da filha é um símbolo emocional carregado. Ele não foi escolhido por acaso. Trata-se de uma estratégia de comunicação visual poderosa, baseada em princípios da neurociência e psicologia cognitiva: o cérebro humano tende a ser mais condescendente quando ativado emocionalmente. Mostrar-se como mãe, figura cuidadora, é um caminho conhecido para suavizar julgamentos, gerar empatia e desviar o foco do essencial — os fatos investigados.

 

O copo rosa com canudo, quase infantil, reforça essa estética da doçura, da vulnerabilidade, como se dissesse silenciosamente: “sou só uma mãe, uma mulher comum, não uma empresária poderosa envolvida em um esquema milionário”. É uma tentativa clara de desconstruir a imagem da influenciadora gigante, com mais de 45 milhões de seguidores e contratos publicitários que movimentam fortunas, para vestir o figurino da fragilidade.

 

Essa encenação visual não é nova. Em julgamentos e CPIs, a aparência é calculada com rigor: roupas claras, rostos lavados, gestos contidos. É a transformação da roupa em escudo — uma forma de disputar não só a narrativa jurídica, mas a emocional, aquela que conquista corações antes das mentes.

 

Mas essa escolha levanta uma questão incômoda: por que alguém precisa apelar à imagem da filha pequena para enfrentar uma investigação pública? Em vez de trazer respostas, Virgínia trouxe um figurino. E isso diz muito. Mostra como a imagem virou parte do jogo. Um jogo onde o público é plateia e a emoção, muitas vezes, substitui a verdade.

 

No fim, a CPI não julga mães, nem moletom, nem copos cor-de-rosa. Julga práticas, contratos e responsabilidades. E o público, que é quem sustenta toda essa engrenagem — inclusive com apostas que arruínam vidas — merece mais que uma boa estratégia de imagem. Merece respeito, clareza e, sobretudo, verdade.

 

Por Joyce Moura – jornalista

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