“Sobreviventes”: filme sobre naufrágio de navio negreiro questiona colonialismo português

Por RFI “Sobreviventes” encerra a trajetória de Barahona, cineasta que dedicou grande parte de sua carreira a questionar as relações históricas entre Brasil e Portugal. “O projeto nasceu em 2012, quando José escreveu a primeira versão da história, ainda como um resquício do documentário ‘Manuscrito Perdido’, que ele tinha filmado antes no Brasil”, relembra a […]

May 9, 2025 - 10:00
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“Sobreviventes”: filme sobre naufrágio de navio negreiro questiona colonialismo português

Por RFI

“Sobreviventes” encerra a trajetória de Barahona, cineasta que dedicou grande parte de sua carreira a questionar as relações históricas entre Brasil e Portugal.

“O projeto nasceu em 2012, quando José escreveu a primeira versão da história, ainda como um resquício do documentário ‘Manuscrito Perdido’, que ele tinha filmado antes no Brasil”, relembra a produtora Carolina Dias. O roteiro foi desenvolvido em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, uma escolha que ela considera essencial: “Fazia todo o sentido trazer um roteirista africano, e o Agualusa tem esse conhecimento tão vasto da cultura angolana, mas também portuguesa”.

A obra traduz, segundo a produtora, diversas questões que o diretor levantava frequentemente sobre as relações históricas de Portugal com o Brasil e a África. “Ele gostava de questionar esse olhar de glória que os portugueses têm sobre o colonialismo. Ele não estava de acordo com esse olhar, ‘a custa de quem a gente fez tudo isso? O que a gente provocou no mundo com esse colonialismo?’ Ele gostava de cutucar, colocar essas questões e suscitar esses debates”, relembra Carolina.

Desafios das filmagens

As filmagens, em uma ilha do Oceano Atlântico, transformaram-se em uma verdadeira aventura, refletindo a própria temática do filme. Foram cinco semanas de gravação, com a equipe enfrentando grandes desafios de acesso às locações e as variações do clima. “José teve a ideia numa praia de acesso difícil, onde a gente tem que descer por uma trilha com corda no final. Para ele, sempre tinha que ser nessa praia”, conta Carolina. A natureza torna-se, assim, elemento fundamental na narrativa: “Foi sempre um personagem que ele quis que fizesse parte do filme”.

Paulo Azevedo, que interpreta o Padre Angelim, descreve seu personagem como um espelho das contradições sociais ainda presentes. “É um personagem que nasce em Portugal e vai muito cedo para o Brasil. Ele fala um pouco dessas pessoas sem raízes, que não são nem de um lugar nem de outro, mas que se escondem por trás dos personagens sociais que vestem”, explica o ator, que já havia colaborado com Barahona em outros dois longas-metragens, “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” (2015) e “Alma Clandestina” (2018).

“Durante as sessões, tanto no IndieLisboa quanto na Mostra de São Paulo, a gente pode ver o quanto as pessoas têm quase um riso nervoso por perceber que, mesmo em uma situação no século 19, algumas falas e situações estão presentes ainda hoje”, observa Paulo, destacando a contemporaneidade das questões abordadas no filme.

O ator ressalta a importância de revisitar esse período histórico: “Assim como a Europa e o hemisfério norte olham tanto para a Segunda Guerra e a gente vê tantas versões sobre esse mesmo fato, ainda falta muito para entendermos como a escravatura envolveu tantos países e qual o papel de cada um deles, e como isso está presente ainda hoje”.

Paulo Azevedo destaca ainda a mensagem que o filme propõe ao dialogar com o momento atual da sociedade. “A gente fala muito de como manter viva a democracia, e não tem como avançar qualquer discussão sem pensar o racismo. É olhar para essas cicatrizes e tentar construir alguma forma de reparação para ter uma sociedade que vale a pena para todo mundo”.

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