SP: projeto busca barrar mudança em apoio escolar a alunos PCD
Projeto apresentado na Alesp questiona medida do governo de SP para unificar funções de cuidador e auxiliar em um só cargo

Um projeto apresentado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), nesta sexta-feira (10/10), busca barrar a proposta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para mudar a divisão de trabalho dos profissionais que apoiam alunos com autismo nas escolas estaduais.
A medida da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) unifica as funções de cuidador e de auxiliar de atividades escolares em um só cargo:Profissional de Apoio Escolar.
A deputada estadual Professora Bebel (PT), no entanto, apresentou um projeto de Decreto Legislativo contra a mudança. Segundo ela, a resolução da Seduc fere legislações nacionais e princípios de inclusão, além de precarizar o atendimento educacional e sobrecarregar professores.
“Essa resolução desmonta a política de educação inclusiva em São Paulo. Substituir professores auxiliares por profissionais sem formação é precarizar o atendimento, sobrecarregar os docentes regentes e retirar dos estudantes com deficiência o direito a uma mediação pedagógica qualificada, garantida em lei. Não aceitaremos retrocessos em direitos conquistados com tanta luta”, afirmou a deputada.
O que vai mudar?
- Hoje, os cuidadores, chamados formalmente de Profissionais de Apoio Escolar para Atividades de Vida Diária (PAE-AVD), ajudam alunos em tarefas como locomoção, banheiro e alimentação.
- Já os Profissionais de Apoio Escolar para Atividades Escolares (PAE-AE) ficam com o estudante dentro da sala de aula, e auxiliam na realização de atividades com a turma.
- Com a mudança, um mesmo profissional ficará responsável por atender a todas essas funções.
- A unificação dos cargos começará a ser colocada em prática a partir dos próximos editais de contratação para profissionais de apoio escolar.
- Para quem já trabalha na rede, a medida será implementada de forma gradual e prevê ainda o remanejamento de professores temporários que atuam como PAE-AEs para outras áreas (entenda mais abaixo).
Confusão de nomenclaturas
Em entrevista ao Metrópoles, o secretário executivo da Educação, Vinícius Neiva, disse que a decisão visa corrigir uma “distorção” na rede, que tinha especificidades não previstas pela legislação federal, e nasceu após conversas da pasta com a Defensoria Pública e o Ministério Público de São Paulo.
“Acho que o principal objetivo dessa resolução é trazer uma harmonização conceitual, para evitar qualquer tipo de confusão em nomenclaturas. E isso vale também para o profissional de apoio”, diz ele.
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A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, conhecida como Lei Berenice Piana, afirma que “em casos de comprovada necessidade”, os estudantes autistas têm direito a um acompanhante especializado. A legislação não explica, no entanto, qual deve ser a formação deste profissional, se ele deve ou não ter ensino superior, e quais as funções esperadas dele.
Já o Estatuto da Pessoa com Deficiência determina que o poder público deve ofertar um profissional de apoio escolar, que exerce “atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária”.
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Estudante com deficiência visual recebe explicação de professora, enquanto profissional de apoio acompanha ao lado deleJéssica Bernardo/Metrópoles2 de 8
Diretora da E.E. Louis Braille abraça aluno autistaJéssica Bernardo/Metrópoles3 de 8
Professora auxiliar e professora de educação especial ajudam estudante com deficiência em atividade em escola estadual na LapaJéssica Bernardo/Metrópoles4 de 8
Professora de educação especial já precisou levar materiais da própria casa para auxiliar alunosJéssica Bernardo/Metrópoles5 de 8
Sala de Recursos Multifuncionais de Escola EstadualJéssica Bernardo/Metrópoles6 de 8
Patrícia Ramos Santos é mãe do autista Kaiky. Hoje na E.E. Louis Braille, o menino já foi negado em outras escolasJéssica Bernardo/Metrópoles7 de 8
Sala de aula escolaJéssica Bernardo/Metrópoles8 de 8
De todas as diretorias regionais de ensino, a maioria ocorre no interior (55,93%) e na capital (24,31%)Jéssica Bernardo/Metrópoles
Na rede estadual de São Paulo, o cargo de PAE-AE era visto como forma de cumprir com a determinação da Lei Berenice Piana, enquanto o PAE-AVD era uma resposta ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Com a unificação das duas funções, e apoiada no fato de que a lei federal não exige que o acompanhante especializado deva ser um professor auxiliar, a secretaria diz que os novos contratados para o cargo não terão exigência de ensino superior, mas passarão por uma capacitação.
“É inaceitável que estudantes PCD sejam privados de atendimento pedagógico especializado. Precisamos de mais profissionais: tem aquele que faz a parte mais funcional, mas também quem lida com a parte cognitiva”, indagou Bebel. A proposta da deputada deverá ser analisada pela Alesp.
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