“Surto psicótico”: filho que matou ex-deputado tratava bipolaridade
Residente do RJ, Francisco Frateschi estava em São Paulo, acompahado da família, onde seria submetido a tratamento psiquiátrico
Familiares de Francisco Frateschi, de 34 anos, afirmaram à Polícia Civil que um “episódio de surto” do rapaz resultou no assassinato do pai dele, o ex-deputado e fundador do Partidos dos Trabalhadores Paulo Frateschi, 75. Segundo registros oficiais, o autor do crime, diagnosticado com bipolaridade, teve uma crise de agressividade que terminou, além da morte do pai, em ferimentos na mãe e irmã, ambas socorridas após a chegada da Polícia Militar.
De acordo com registros do 91º DP (Ceagesp), por volta das 7h Francisco estava “muito agitado”. A irmã, a cozinheira Luísa Maux Vianna Frateschi, 42 anos, tentou contê-lo, mas ele empurrou a mãe, que caiu e fraturou o braço. Em seguida, partiu para cima do pai com uma faca. Na tentativa de impedir o ataque, Luísa brigou fisicamente com o irmão, que a mordeu no braço e deu-lhe um tapa no rosto. Ela reagiu, tentando afastá-lo, e acabou fraturando um dedo.
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Frateschi (no meio) com o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica (esquerda) e o presidente brasileiro Lula (PT)Reprodução/ Facebook
O ex-deputado estadual e ex-presidente estadual do PT em SP Paulo FrateschiDivulgação/Alesp
Paulo Frateschi foi presidente do PT estadual de SPReprodução/ Facebook
Francisco Frateschi, filho do ex-deputado Paulo FrateschiReprodução
Francisco Frateschi, filho do ex-deputado Paulo FrateschiReprodução
Francisco Frateschi com o pai, o ex-deputado Paulo FrateschiReprodução
Francisco Frateschi e a mãe, Yolanda ViannaReprodução
Francisco Frateschi com o pai, o ex-deputado Paulo FrateschiReprodução
Francisco Frateschi e a mãe, Yolanda ViannaReprodução
“Pessoa doce e carinhosa”
Luísa contou aos investigadores que, após o confronto, Francisco saiu correndo, voltou logo em seguida e se jogou no chão, dizendo que estava morrendo. Quando os policiais militares chegaram, ele voltou a ficar agressivo e precisou ser contido e algemado. O Samu foi acionado e os socorristas precisaram sedá-lo no local. A mãe foi levada para o Hospital das Clínicas, onde passou por cirurgia em razão dos ferimentos.
Luísa afirmou que o irmão fazia tratamento psiquiátrico e tomava medicamentos para controlar o humor.
“Acredito que ele sofreu um surto, porque sempre foi uma pessoa doce e carinhosa”, declarou à Polícia Civil.
O psicanalista Cássio Barroso, que atendia Francisco havia cerca de um ano, confirmou que o paciente apresentava quadro de bipolaridade e episódios de hipomania (quadro de euforia e irritabilidade). “Pela minha experiência clínica, acredito que ele teve um surto psicótico”, afirmou em depoimento formal.
O advogado da família, Lucas Bostolozzo Clemente, acompanhou todo o registro do caso. Francisco permaneceu internado na Unidade de Pronto Atendimento da Lapa, sob escolta de policiais militares, sedado e incomunicável.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil, que aguarda a alta médica da mãe para ouvi-la e concluir o inquérito.
Trajetória política
O ex-deputado estadual e ex-presidente do PT em São Paulo Paulo Frateschi fez parte da fundação do partido e concorreu a cargos eletivos desde o fim da ditadura militar. Nos últimos anos, segundo petistas, Frateschi estava um pouco afastado da política partidária.
Na virada do século, Frateschi foi presidente do PT paulista. Entre 1983 e 1987, foi deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). No ano seguinte, em 1988, ele foi candidato a vereador na capital paulista. Durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2005), na prefeitura de São Paulo, Frateschi foi secretário de Relações Governamentais, pasta da qual também foi titular na gestão do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, em 2014.
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Paulo Frateschi foi preso e torturado durante a ditadura militar em 1969, aos 19 anos, quando era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Em um relato feito à Agência Pública, ele contou sobre o episódio em que foi levado à sala do delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos símbolos da tortura no país.
“Fleury xingava, falava palavrões. Repetia ‘Porra! Bosta!’ e cuspia. Logo pensei: ‘Putz, vai começar tudo de novo [tortura]’. De repente, ele olhou fixo pra mim e falou: ‘O merda do juiz mandou te soltar. Se alguém te procurar, você vai voltar aqui e me contar!’”, afirmou Frateschi à agência.
Oceanógrafo e marinheiro
Nas redes sociais, Francisco Frateschi falava sobre a vida em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, onde a família vive e tem um barco.
Em um post de agosto de 2022, ele comentou que, além de oceanógrafo, havia acabado de concluir um curso que o credenciou como profissional aquaviário.
“Receba!!! Além de oceanógrafo, marinheiro! Aí, mãe, seu filho também é um profissional aquaviário formado pela Marinha do Brasil”, escreveu. “E viver em Paraty tem me oferecido muitas oportunidades, vivências e encontros com pessoas incríveis e maravilhosas.”
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