Tarcísio inicia 2026 imerso em SP, mas como plano B do bolsonarismo

O ano de 2026 começa com o senador Flávio Bolsonaro (PL) em plena pré-campanha para a Presidência da República após a indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Por outro lado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tido como favorito para representar o bolsonarismo na disputa, começa o ano eleitoral com foco na reeleição.

O cenário se reforçou na última quinta-feira (25/12), quando Flávio divulgou uma carta escrita por Bolsonaro de dentro da prisão confirmando sua escolha pelo filho 01 como seu representante nas urnas em 2026. A leitura da carta ocorreu no momento em que Bolsonaro passava por cirurgia.

Apesar disso, o entorno de Tarcísio ainda enxerga o governador como “plano B” do grupo, caso a candidatura de Flávio perca fôlego. A avaliação de aliados do chefe do Palácio dos Bandeirantes é de que o senador ainda não virou alvo dos adversários e a forma como ele reagirá aos possíveis ataques ainda é uma incógnita.

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Nos bastidores, a leitura é de que o PT só passará a explorar o passado do senador, como o envolvimento em suposto caso de rachadinha, mais adiante.

Aposta vigente

Um auxiliar de Tarcísio ainda avalia, reservadamente, que o lançamento da candidatura presidencial de Flávio pode ter sido apenas uma jogada para aumentar sua exposição e, com isso, fortalecer sua campanha de reeleição ao Senado, que estaria ameaçada com o crescimento da popularidade do governador Cláudio Castro (PL-RJ) após a megaoperação policial no complexo do Alemão.

Diante disso, interlocutores do governador paulista ainda acreditam que ele poderá concorrer à Presidência em 2026. Para isso ocorrer, Tarcísio teria de ser “ungido” tanto pelo Centrão como pelo núcleo duro do bolsonarismo para assumir a disputa na ausência de Flávio.

Não é apenas sob reserva que figuras do bolsonarismo continuam apostando em Tarcísio. Em entrevista ao Metrópoles no dia 16 de dezembro, o pastor Silas Malafaia, um dos principais conselheiros de Jair Bolsonaro e liderança do campo conservador, defendeu o recuo de Flávio para que apoie eventual candidatura de Tarcísio.

“Eu não vi ninguém de governo Lula atacar Flávio. Que coisa interessante. É como se dissessem: ‘É esse aí mesmo, é esse que nós queremos’. Uma chapa para ser combativa, para ganhar uma eleição: Tarcísio [candidato] e Michelle como vice”, disse o pastor, destacando a alta rejeição de Flávio. O movimento do pastor coincide com o praticado pelo entorno de Michelle.

Além disso, o chefe do Executivo estadual tem falado nos bastidores que não pretende, neste momento, se engajar na campanha de Flávio, segundo aliados ouvidos pela reportagem. Embora tenha declarado publicamente que apoia a candidatura do filho 01, o endosso foi feito de forma tímida.

“Ele não deve pegar na mão do Flávio como fez com Ricardo Nunes”, afirmou um interlocutor, comparando com o papel que Tarcísio teve na campanha de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na capital paulista. À época, o governador teve função central e serviu como uma espécie de padrinho do emedebista.

Movimentos de Kassab

Outro sinal de que o mundo político ainda enxerga como possível a candidatura do governador paulista ao Palácio do Planalto são os movimentos do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que ocupa o cargo de secretário de Relações Institucionais de Tarcísio.

Segundo aliados do ex-prefeito de São Paulo, Kassab passou a se movimentar nas últimas semanas para se colocar como candidato ao governo paulista em 2026, cenário que só ocorreria com a saída de Tarcísio para a corrida nacional.

Um vídeo animado de Kassab, relembrando que foi ele o responsável pela construção do primeiro hospital veterinário do Brasil, passou a circular em grupos de Whatsapp. Segundo interlocutores do cacique, sua intenção é, aos poucos, reconquistar terreno na memória do eleitorado sobre seus feitos como governante. Kassab afirma desconhecer a origem do vídeo.

Enquanto isso, Tarcísio aproveitou a pré-candidatura de Flávio para se resguardar e reforçar a mensagem de que seu foco é São Paulo. Também passou a adotar um discurso de pacificação e diálogo, destoando do modus operandi da política bolsonarista.

Pouco antes de sair de férias para os Estados Unidos, o governador de São Paulo fez um evento de balanço de sua gestão na qual deu a tônica de como deve ser sua campanha à reeleição, focando na retomada de obras e em realizações que, segundo ele, eram tidas como “impossíveis”, como a retomada do Rodoanel Norte e o “fim” da Cracolândia.