Um grito de socorro
Alex Medeiros @alexmedeiros1959 Na quarta-feira fez 60 anos que o mundo ouviu um grito, na voz de John Lennon e ressonada pelos outros três membros da então já consagrada banda The Beatles. “Socorro! Eu preciso de alguém; não de qualquer pessoa; você sabe que eu preciso de alguém. Socorro!”. Era o grito da canção que […]


Alex Medeiros
@alexmedeiros1959
Na quarta-feira fez 60 anos que o mundo ouviu um grito, na voz de John Lennon e ressonada pelos outros três membros da então já consagrada banda The Beatles. “Socorro! Eu preciso de alguém; não de qualquer pessoa; você sabe que eu preciso de alguém. Socorro!”. Era o grito da canção que dava título ao quinto álbum, “Help!”, e também ao filme que já estava em cartaz nas telas do mundo desde o mês anterior.
Aquele grito seria repetido à exaustão nas emissoras de rádio do planeta e nas televisões. Em Natal, a geração que aderiu à beatlemania – tanto na fonte original quanto na reverberação do movimento Jovem Guarda – se lançou no pioneirismo do novo comportamento que mudava o mundo. Entre aquele agosto de 1965 e até o fim da década, eu ouvi por demais aquele grito. Ainda estava na estrada da infância ladrilhada pelas visões de Piaget e Freud.
Mas quando pisei na fronteira de uma puberdade inocente com uma adolescência insurreta, injetei Beatles na mente e nos pulmões. Meu primeiro disco do quarteto inglês não foi aquele; e ele também não é o meu preferido.
De 1976, quando ganhei “Let it Be” (cuja capa foi inspiração para meu livro de haikais Três Por Quatro), até completar a coleção dos 12 álbuns de estúdio, se passaram mais de 40 anos. E “Help” só veio em 2002, achado no Leblon.
E se não é o melhor disco do grupo, tem o peso icônico de um divisor de águas, um rito de passagem que estabelece um adeus aos adolescentes de Liverpool e uma recepção aos músicos maduros e universais que chegavam.
Naquele agosto de 1965, a Beatlemania estava sacudindo o mundo como uma intempérie sem freio, desde a turnê nos EUA em 1964. Mas foi com “Help” que vieram as primeiras rachaduras de quem começava a sentir o peso da fama.
O próprio Lennon, vinte anos depois, revelaria que o álbum e a música eram seu grito de socorro, uma confissão de que a fama era uma barra pesada. Sentia-se gordo e infeliz, sem saber expressar ou extravasar; aí veio a letra.
Mas é um bom álbum (repetindo, não o melhor), que não transmite apenas a angústia de John – e muito provavelmente dos outros; é um turbilhão de emoções e gêneros que refletem muito bem a versatilidade dos Fab Four.
Quatro músicas são obrigatórias nas turnês de Paul McCartney e nas playlists de qualquer fã, de qualquer idade, dos quatro rapazes: “Yesterday”, “Ticket To Ride”, “I Need You”, “The Night Before” e, obvio, “Help”, a placenta do LP.
Olhando para trás, 60 anos no tempo que já se esgota, imaginar que uma das canções mais gravadas e tocadas no mundo foi composta por um garoto de 23 anos, é algo divinal mesmo para quem não admite divindades e demônios.
Pois é. McCartney era um boy, um boyfriend nos sonhos de meninas e madames enrustidas, quando fez “Yesterday”, a música que Frank Sinatra queria ter feito em troca de tudo que fez na carreira de lenda viva e morta.
E que coisa linda no romantismo do gênio que foi George Harrison ao compor “I Need You”, uma singela e ao mesmo tempo solene declaração de amor para a loiríssima Pattie Boyd, a paixão que floresceu no primeiro filme da banda.
O quinto álbum foi como uma porta da quinta dimensão por onde viajou a inocência da banda, que retornaria na madureza de um novo rock a ser ofertado nas vitrines de uma nova era que explodiria quatro meses depois.
O grito não foi só a respeito de música, mas também sobre um momento histórico. Por estar no auge do sucesso, o quarteto assumiu autoridade de impor algo novo, saindo do pop puro para o experimental que viria em série com os LPs “Rubber Soul”, “Revolver”, “Sgt Peppers” e “The White Album”. Como todo grito reverbera no eco, ele ainda ecoa e a gente pensa que foi ontem.
Por Tribuna do Norte
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