Verdades amazônicas (por André Gustavo Stumpf)
Os governos brasileiros sempre mantiveram posição dúbia na relação com a Amazônia
A realização da COP 30 em Belém significa a redescoberta da Amazônia para brasileiros e alguns estrangeiros. Os europeus conhecem a região desde há muito. Ingleses roubaram o látex para fazer borracha na Malásia e diversos produtos da região foram patenteados por marcas internacionais. Mas o resultado da reunião na capital do Pará será positivo, porque os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no norte do Brasil.
Os governos brasileiros sempre mantiveram posição dúbia na relação com a Amazônia. A primeira reação é nacionalista, no sentido de que a Amazônia é brasileira e ninguém toca. Mas os governos nada fizeram em 500 anos para integrar a região que é a metade do território nacional. Getúlio Vargas iniciou tímida marcha para oeste com a criação das cidades de Ceres e Rialma em Goiás. E visitou Belém rapidamente. Juscelino Kubitschek fez mais: criou a rodovia Belém-Brasília sob violentas críticas dos chamados especialistas no Sul do país. Jânio Quadros, sucessor de JK, chegou a designar a obra de estrada das onças. Hoje ao longo de seu trajeto florescem boas cidades médias com economia própria e dinamismo impressionante. O Brasil cresce apesar dos críticos.
Mas a Amazônia guarda segredos e mistérios, além de aldeias indígenas que mexem com a imaginação dos europeus. São os povos nativos que sobraram sobre a face da Terra, depois que os conquistadores devastaram as Américas. Na Amazônia vivem cerca de 20 milhões de pessoas que precisam de emprego, renda e comércio para prosperar. E a região, além de índios e animais selvagens, possui enorme capacidade de gerar renda através da pesquisa e lavra de minerais preciosos, como diamantes, ouro e agora petróleo. São raras as regiões do planeta que oferecem ao mesmo tempo quantidades significativas de petróleo e ouro. Há o outro lado: seus rios se transformaram em caminhos do tráfico de drogas.
Não há número exato de garimpeiros no Brasil. No entanto, é possível estimar a quantidade deles com base no número de permissões de lavra ativas (2.765) e na área ocupada pelo garimpo ilegal na Amazônia. Na região funcionam mais de quatro mil garimpos ilegais, de acordo com estudos de organismo especializado. Em 2022, o garimpo ilegal ocupava 25 mil hectares.
Ninguém sabe o número exato de garimpeiros que atuam no Brasil. Hoje eles estão mais concentrados no extremo norte do Pará e no Amapá. Há quem fale em 80 mil, o que parece um exagero. Mas 40 mil pode ser um número perto da realidade. É um exército de gente que se conecta diretamente com o mercado exterior. Os estrangeiros compram ouro, sem pagar qualquer imposto. É uma farra; O garimpo ilegal é problema crescente, com aumento de 265% na área ocupada em terras indígenas entre 2018 e 2022. Estimativas sugerem que pelo menos um terço do ouro exportado anualmente pelo país tem origem no garimpo ilegal.
O preço do ouro hoje varia de acordo com a fonte, mas está cotado em torno de R$ 700,97 a R$ 717,31 por grama, enquanto a cotação internacional em dólares é de aproximadamente $4.032,02. Os valores exatos podem mudar dependendo da pureza do ouro e do local de compra ou venda. A medida do ouro é chamada de onça troy que equivale a 32 gramas. Ou seja, cabe na palma da mão. Valor hoje é cerca de quatro mil dólares.
O interessado pode carregar seu tesouro no bolso da calça e chegar a Amsterdã e conseguir os dólares. Ou o contrário: Amsterdã vai a ele. A ingenuidade brasileira supõe que será possível com Polícia ou Exército conter as levas de gente que está ganhando dinheiro dentro e fora do Brasil com o garimpo. Há um atuante mercado de ouro em plena atividade. O dólar está em queda e o ouro se coloca como referência monetária em qualquer lugar do mundo. A Amazônia abastece este mercado.
Representantes de 143 países confirmaram a presença na COP 30. Estados Unidos e Argentina não estão no grupo. A questão da hospedagem foi resolvida. O presidente Lula, que está morando num barco, transferiu a capital para Belém, cidade que está recebendo melhorias jamais imaginadas nos últimos séculos. O presidente brasileiro vai se reunir com os principais chefes de estado na Cúpula dos Líderes. Inegável sucesso diplomático. Estrangeiros poderão comer pato no tucupi, tacacá, provar jambu, experimentar os melhores sorvetes de sabores exóticos, fotografar macaco e jacaré, além de descobrir que a região é riquíssima, mas habitada por povo pobre. A Amazônia resistiu e sobreviveu desde o confuso episódio da Independência do Brasil no norte do país, em agosto de 1823. Brasileiros e estrangeiros, até jornalistas, poderão desfrutar, afinal, da oportunidade de descobrir a realidade.
André Gustavo Stumpf, jornalista (angregustavo10@terra.com.br)
What's Your Reaction?