A incerteza da política: nem vencidos nem vencedores até 2026
Há poucos meses bolsonaristas, setores da mídia, parte do mercado financeiro e até alguns especialistas em marketing político apontavam como certa a derrota de Lula em 2026. Não era uma previsão totalmente descabida: pesquisas indicavam queda na aprovação e desgaste crescente do governo, agravados pela dificuldade de comunicação com a sociedade. Esse cenário abriu […]


Há poucos meses bolsonaristas, setores da mídia, parte do mercado financeiro e até alguns especialistas em marketing político apontavam como certa a derrota de Lula em 2026. Não era uma previsão totalmente descabida: pesquisas indicavam queda na aprovação e desgaste crescente do governo, agravados pela dificuldade de comunicação com a sociedade. Esse cenário abriu espaço para que a extrema direita surfasse com força, alimentando a narrativa de um governo enfraquecido e incapaz de reagir. O quadro, porém, começou a mudar.
Pesquisa Datafolha mostrou que Lula lidera todos os cenários de primeiro turno e amplia a vantagem no segundo, superando nomes bolsonaristas como Tarcísio de Freitas, Michelle, Eduardo e Flávio Bolsonaro. Esses números indicam uma recuperação política significativa e reforçam que, na disputa eleitoral, percepções podem se alterar rapidamente quando bem trabalhadas. E, curiosamente, parte do conteúdo utilizado na comunicação recente foi gerado por inteligência artificial.
Esse movimento reforça uma premissa central: o humor do eleitor muda constantemente.
Prever comportamento eleitoral, portanto, é tarefa arriscada. Pesquisas ajudam a analisar retratos momentâneos. Também captam sentimentos predominantes em determinado contexto. Contudo, nada é estático na política. Basta um fato novo, uma crise inesperada ou uma narrativa bem conduzida para alterar completamente o cenário.
Até recentemente, a oposição capitalizava o desgaste do governo e alimentava a ideia de que nomes como Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro teriam caminho livre para derrotar Lula. Hoje, a recuperação da aprovação presidencial já coloca dúvidas sobre essa narrativa e evidencia o dilema oposicionista: permanecer sob a sombra de Bolsonaro ou ampliar o discurso para dialogar com o centro.
O Brasil tem tradição em reviravoltas eleitorais. Em 2002, Lula saiu de índices baixos e venceu com folga. Em 2017, Bolsonaro parecia improvável até mesmo dentro da direita e, em menos de um ano, capitalizou crises e conquistou a Presidência. Soma-se a isso o fato de que o principal adversário de Bolsonaro, Lula, que liderava até então as intenções de voto, encontrava-se preso. Esses exemplos mostram como previsões lineares quase sempre falham diante da força das narrativas.
Lula ainda tem condições reais de vencer em 2026, especialmente se estabilizar sua imagem e transformar desafios em oportunidades. Já a direita mantém uma base fiel, mas enfrenta desgaste diante da atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA. O deputado licenciado está sendo investigado pelo STF por crimes ligados à obstrução de investigações e ataques ao Estado Democrático de Direito, após tentar interferir no julgamento de seu pai, Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado.
O jogo está em aberto. Até que as urnas sejam fechadas, previsões servem mais a disputas narrativas do que a análises consistentes. Em um país polarizado e hiperconectado, certezas têm validade curta. Quem dominar a narrativa, falar no tom certo e compreender as mudanças de humor do eleitor terá vantagem decisiva.
Por Vanessa Marques
@vanessamarques.mkt
Foto: © RICARDO STUCKERT / PR
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