A saga de Pituco: “supercão” de HQ vira livro e mascote de cidade

Pituco, vira-lata de Marília, no interior de SP, se tornou personagem de HQ, protagonista de livro e embaixador da causa animal

Nov 2, 2025 - 01:30
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A saga de Pituco: “supercão” de HQ vira livro e mascote de cidade

Um animal de estimação é, quase sempre, encarado como um membro da família. No caso de Pituco, vira-lata natural de Marília, no interior de São Paulo, o reconhecimento ultrapassou o seio familiar: ele se tornou personagem literário, além de uma personalidade admirada pelo município e até mesmo fora do país. 11 imagensPituco em ação nos quadrinhosTrechos dos volumes dos HQs Radius Hero, em que Pituco se tornou personagem principalCachorro se tornou uma sensação em Marília, no interior paulistaPituco e Lucas, filho de TiagoTiago de Moares, idealizador do Radius Hero e tutor do PitucoFechar modal.1 de 11

Pituco, o vira-lata de estimação, e o super-herói dos quadrinhosReprodução2 de 11

Pituco em ação nos quadrinhosReprodução3 de 11

Trechos dos volumes dos HQs Radius Hero, em que Pituco se tornou personagem principalReprodução4 de 11

Cachorro se tornou uma sensação em Marília, no interior paulistaReprodução5 de 11

Pituco e Lucas, filho de TiagoReprodução6 de 11

Tiago de Moares, idealizador do Radius Hero e tutor do PitucoReprodução7 de 11

"Ele me ensinou que a arte pode nascer do afeto", disse tutor sobre PitucoReprodução8 de 11

Capa do livro Quatro Patas - A História de PitucoReprodução9 de 11

Pituco faleceu aos 4 anos de idade, vítima de atropelamentoTony Pessanha10 de 11

Após acidente, cãozinho passou a estampar campanha de conscientização de motoristasReprodução11 de 11

Pituco foi reconhecido, em agosto de 2025, como mascote oficial da causa animal em Marília, no interior de São PauloReprodução

Um vira-lata que se tornou herói de quadrinhos

A história do Pituco – ou ao menos o que viria a se tornar a jornada dele – começa bem antes do nascimento, lá em 1996, quando o hoje cartunista e publicitário Tiago de Moraes ainda era adolescente.

Na época, quando Tiago tinha 16 anos, ele idealizou o projeto Radius, uma história futurista que se passa em Marília, cujo personagem principal é um super-herói fruto da radiação. A história, no entanto, não tinha “alma”, como ele mesmo definiu.

“E aí eu fui crescendo, fui tocar e viver a minha vida, até que veio a pandemia, em 2020, e nós somos obrigados a ir para o home office. Então, sobrou-se tempo para desengavetar ideias, para pensar em coisas novas”, afirmou o publicitário, que voltou a dedicar tempo ao projeto.

Mesmo com o Radius ganhando vida, ainda faltava alguma coisa. Até que na Páscoa de 2020, o Pituco foi adotado. A família aproveitou o feriado, e a pouca idade de Lucas, filho de Tiago, para criar um momento especial para a chegada do cãozinho.

O garoto, então com nove anos, ganhou uma recompensa diferente na caça aos ovos daquele ano. O momento foi registrado em vídeo. Veja:

As variadas e divertidas expressões do Pituco logo se tornaram montagens e figurinhas, compartilhadas aos montes no WhatsApp. Enquanto criava mais cartoons do cachorro, Tiago teve a ideia de unir o amigo de quatro patas ao super-herói Radius – em semelhança à parceria entre Batman e Robin, como o cartunista descreveu.

Então, em julho de 2022, o primeiro volume de Radius Hero foi lançado. E Pituco estava lá. “Ele foi comigo ao palco, e foi muito divertido, muito legal”, lembrou Tiago.

Mais dois volumes da história em quadrinhos foram publicados, em março e setembro de 2024, mas Pituco não pode estar presente no lançamento do terceiro HQ. Isso porque, dois meses antes, aos quatro anos de idade, o cãozinho morreu vítima de um atropelamento.

De vítima a embaixador da causa animal

Era 8 de julho de 2024 quando Pituco saiu para “namorar” e passear por Marília, como sempre costumava fazer depois de se mudar com o tutor para um apartamento pequeno, sem espaço suficiente para brincar. Naquele dia, no entanto, ele não voltou.

“Era véspera de feriado, nove de julho, era uma segunda-feira meio morta. Eu desliguei minhas coisas e falei aqui no trabalho: ‘ó, preciso procurar meu cachorro’. E comecei a procurar. Procurei, procurei, naquela loucura assim, virou uma mobilização para procurar esse cachorro”, contou Tiago.

Sempre checando as redes sociais, ele relata que recebeu uma mensagem através do Instagram. “Minha mãe soube de um cachorro atropelado aqui”, dizia o texto.

O publicitário entrou em contato, já por volta das 20h, e soube que o Pituco havia sido atingido às 10h da manhã. Ele chegou a ser socorrido a um hospital veterinário, mas não resistiu. “Pelo menos ele morreu feliz, porque ele amava a rua, amava”, disse o tutor emocionado.

“Eu só queria que, naquele dia, 8 de julho de 2024, qualquer detalhe tivesse sido diferente. Que aquela moça tivesse se atrasado um minuto em seu trajeto. Que houvesse mais trânsito no caminho. Que um pneu furado mudasse o destino. Que algo tivesse acontecido para mudar aquele instante. Porque um segundo a mais ou a menos poderia ter feito com que Pituco ainda estivesse aqui”, escreveu Tiago em um livro que publicou após o terceiro volume do HQ, com o luto latente.

A dor da perda permanece, mas rapidamente se transformou em motor potente de proteção aos animais. Logo após o acidente, Pituco passou a estampar uma campanha de conscientização de motoristas contra o atropelamento de animais. Pelo menos dez mil adesivos foram entregues gratuitamente em Marília, e 75 kg de ração foram arrecadados.

A pata de Pituco virou logomarca e também estampa a campanha, pois imediatamente após à morte do animal, Tiago garantiu seu registro em um carimbo. “Então, tudo que você vê da pata dele, é a pata dele mesmo”, afirmou.

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Reconhecimento local e até internacional

Além de estampar a campanha Eu Freio para Animais, e até publicidades, Pituco se tornou, em agosto deste ano, símbolo dos cuidados com os pets nos serviços prestados pela Prefeitura de Marília, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Serviços Públicos.

E, em uma viagem recente à Argentina, Tiago encontrou por acaso uma professora da cidade de Resistência que dá aulas de língua portuguesa. Imediatamente, ele ofereceu como presente o livro em que conta a história de Pituco.

“Ela falou: ‘nossa, que coisa linda, que maravilhoso. Eu vou aplicar esse livro em sala de aula, porque a gente não tem esse tipo de material aqui, na Argentina’”, relatou o publicitário.

A história de Pituco, contada como foi, também rendeu prêmios e reconhecimentos oficiais. Em fevereiro de 2022, Tiago ganhou votos de congratulações da Câmara Municipal de Marília pela criação do super-herói Radius e contribuição cultural à cidade.

Ainda naquele ano, o primeiro volume do HQ ganhou o prêmio Fernando Pini de Excelência Gráfica (ABIGRAF Brasil) e o primeiro lugar do prêmio paranaense de Excelência Gráfica “Oscar Schrappe Sobrinho” (ABIGRAF-PR).

No ano seguinte, em 2023, o segundo volume do HQ conquistou mais uma vez, também em primeiro lugar, o prêmio paranaense de Excelência Gráfica “Oscar Schrappe Sobrinho” (ABIGRAF-PR). Naquele ano, a agência Mustache, de Tiago, ganhou votos de congratulações na Câmara de Marília pelo desenvolvimento do projeto Radius.

Em 2024, o segundo volume do HQ ganhou, em primeiro lugar, por júri popular, o troféu Dia do Super-Herói Brasileiro, em Niterói, no Rio de Janeiro. E, no ano passado, o livro Quatro Patas – A História de Pituco foi contemplado no Programa Nacional Aldir Blanc  (PNAB).

Em Marília, além de se tornar mascote oficial, Pituco também passou a nomear o Parque Pet Pituco, por indicação da vereadora Professora Daniela (CMM) em homenagem pública ao personagem e a causa animal.

“Trocaria a repercussão para ter ele aqui”

Tiago não imaginava que a admiração pelo personagem e o seu reconhecimento fossem se tornar tão grandes. “Ele veio para ser um cachorro de família, um cachorro de estimação, e foi transformado em super-herói. Coitado, nem sabia o que estava acontecendo”, disse o publicitário

Tiago enfatizou que preferia trocar toda a repercussão do personagem e das obras publicadas para ter Pituco de volta.

“Mas não posso fazer isso. Então, o meu papel é não deixar ele morrer. Eu quero que essa história chegue a todas as pessoas, porque ele é um livro de cura. Ele é um livro que vai tratar a dor do luto. E vai mostrar que os animais, eles não morrem. Eles só mudam de plano e eles voltam, eu acredito nisso”, declarou.

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