Ameaça do shutdown à economia dos EUA depende do tempo da paralisação

O Escritório de Orçamento do Congresso americano calcula que cerca de 750 mil funcionários deixarão de trabalhar, sem receber salários

Oct 2, 2025 - 02:30
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Ameaça do shutdown à economia dos EUA depende do tempo da paralisação

O governo dos Estados Unidos entrou em situação de paralisação na quarta-feira (1/10), após o fracasso de uma última votação no Senado para aprovar um projeto orçamentário que estenderia o financiamento federal. O famoso shutdown resulta no congelamento de parte dos serviços federais e pode ter um impacto real sobre a atividade econômica dos EUA. “Tudo depende da resolução política dessa crise e de quanto tempo vai durar a paralisação”, avalia Nicolas Véron, pesquisador do Peterson Institute for International Economics, em Washington.

O Escritório de Orçamento do Congresso americano calcula que cerca de 750 mil funcionários deixarão de trabalhar, sem receber salários, enquanto durar a paralisação. O tráfego aéreo pode ser afetado, e o pagamento de diversos benefícios sociais deve ser prejudicado. Segundo estimativas da seguradora Nationwide, cada semana de shutdown pode reduzir o crescimento anual do PIB americano em 0,2 ponto percentual.

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“Um shutdown que se resolva rapidamente não é muito prejudicial para a economia americana, como já ocorreu em episódios anteriores. Por outro lado, se não houver uma saída para esse shutdown após uma semana, três semanas ou até mais, os efeitos econômicos podem ser bastante significativos. Tudo depende, na verdade, da resolução política dessa crise”, afirma Nicolas Véron, também pesquisador do Bruegel, centro de reflexão pró-europeu, em entrevista à RFI.

Antes mesmo da votação no Senado, republicanos e democratas já se acusavam mutuamente pelo fracasso das negociações. “Os democratas querem fechar tudo, nós não queremos”, declarou o presidente Donald Trump, do Salão Oval. Ele ameaçou consequências “irreversíveis” caso os democratas não aceitem o orçamento proposto pelos republicanos, como a intensificação das demissões de milhares de funcionários federais, já iniciadas com a comissão Doge de seu ex-aliado Elon Musk.

Por outro lado, os democratas criticam a falta de disposição dos republicanos para negociar. “É meia-noite (hora do início do shutdown). Isso significa que o bloqueio republicano acaba de começar porque eles se recusam a proteger a saúde dos americanos. Vamos continuar lutando pelo povo americano”, publicou Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Senado, em sua conta no X.

O presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, acusou os democratas de egoísmo. “Os democratas votaram oficialmente para paralisar o governo. Resultado: mães e crianças agora perdem os programas de ajuda alimentar. Veteranos perdem cuidados médicos e programas de prevenção ao suicídio. A FEMA (agência de resposta a desastres naturais) perde recursos em plena temporada de furacões. Soldados e agentes de segurança aérea não serão pagos. A única pergunta agora: por quanto tempo Chuck Schumer deixará essa dor continuar – por razões egoístas?”, publicou Johnson no X.

Cenário conhecido pelos americanos

Democratas e republicanos geralmente tentam evitar a paralisação federal, às vezes no último momento. O último shutdown, entre o fim de dezembro de 2018 e o fim de janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Trump, durou 35 dias — um recorde.

Agora, o presidente americano volta a atacar os líderes democratas pela situação. Trump chegou a publicar em sua rede Truth Social um vídeo gerado por inteligência artificial mostrando Hakeem Jeffries, líder da minoria democrata na Câmara, com um grande bigode e um sombrero mexicano. A montagem foi denunciada como “racista” por Jeffries, que também lamentou a falta de diálogo construtivo.

Ambos os partidos já têm em mente as eleições legislativas de meio de mandato, em novembro de 2026, quando a maioria republicana no Congresso estará em disputa.

Divergências orçamentárias

Os republicanos propuseram no Senado a extensão do orçamento atual até o fim de novembro. Os democratas se recusaram a ceder nas despesas com saúde e decidiram, em nome dos mais vulneráveis, defender o Obamacare, que subsidia pacientes pobres, informa o correspondente da RFI em Washington, Vincent Souriau. Trata-se de um símbolo para a esquerda americana. Os líderes democratas, que em abril evitaram o shutdown e foram criticados por ceder às ameaças de Trump, desta vez optaram pelo confronto.

A ex-candidata democrata Jennifer Ambler, de 42 anos, está preocupada com o possível corte dos benefícios e o impacto da medida no preço do seguro saúde. “Provavelmente terei que pagar uma quantia considerável a mais, talvez US$ 1 mil por ano. Atualmente, pago algumas centenas de dólares por mês. É muito importante para mim ter um plano de saúde”, disse à RFI.

Embora os republicanos tenham maioria nas duas casas do Congresso, o regimento do Senado exige que um texto orçamentário seja aprovado com 60 votos dos 100, o que requer pelo menos sete votos democratas.

Shutdown como laboratório para o desmonte da administração

Trump recebeu na segunda-feira, na Casa Branca, os principais líderes republicanos e democratas do Congresso. O encontro confirmou o impasse. O presidente chamou de “loucos” os democratas que foram negociar, alegando que pediam demais.

Trump sabe que os funcionários federais vão sofrer, e isso, de certa forma, lhe convém, pois sua administração quer transformar o shutdown em uma espécie de laboratório. O Escritório de Orçamento antecipa demissões em massa após o shutdown — ou seja, em vez de retornarem ao trabalho após a paralisação, os funcionários considerados não essenciais seriam simplesmente demitidos. E Trump poderá colocar a culpa nos democratas.

“Temos a vontade e a capacidade de encontrar um caminho comum”, afirmou o democrata Hakeem Jeffries na terça-feira. Mas “não apoiaremos um projeto de lei republicano partidário que continue a desmontar o sistema de saúde americano, nem agora, nem nunca”, declarou o parlamentar em frente ao Capitólio.

Leia mais em RFI, parceira do Metrópoles.

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