Americanas: novo delator diz que ex-CEO dava “palavra final” em fraude
Delação de ex-diretor da Americanas foi dividida em quatro anexos, com sua relação patrimonial, histórico na varejista e contato com fraudes

O ex-diretor da Americanas Márcio Cruz Meirelles, que fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da investigação sobre a fraude contábil bilionária na companhia, afirmou em seu depoimento que o ex-CEO da companhia Miguel Gutierrez tinha a “palavra final” para determinar as manipulações e fraudes reveladas naquele que é considerado o maior escândalo da história do varejo brasileiro.
O conteúdo das declarações do ex-diretor deve ser incluído na denúncia apresentada pelo órgão em março deste ano, na qual foram mencionados outros 12 ex-executivos e ex-funcionários da Americanas.
De acordo com o MPF, o grupo teria sido responsável por fraudes estimadas em pelo menos R$ 22,8 bilhões. Segundo o MPF, as afirmações de Meirelles complementam as investigações.
A delação do ex-diretor da Americanas foi dividida em quatro anexos, com dados sobre sua relação patrimonial, seu histórico na varejista, a pressão por resultados na companhia e seu primeiro contato com as fraudes contábeis.
Até então, haviam sido firmadas três delações no caso Americanas, pelos ex-executivos Marcelo Nunes, Flávia Carneiro e Fabio Abrate.
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O que disse o novo delator
O novo delator teria afirmado aos investigadores que o líder do esquema de fraudes na Americanas era o próprio Gutierrez, com participação de Anna Saicali, ex-CEO da B2W (braço de comércio eletrônico da empresa). As informações foram publicadas inicialmente pela coluna do jornalista Lauro Jardim, em O Globo.
Em um dos trechos, Meirelles teria afirmado que “a palavra final era do Miguel”. “Quando [as propostas] não estavam de acordo com o que o Miguel achava, a gente acabava mudando. Ele era a última palavra ali na estrutura.”
Em outro trecho da colaboração, o novo delator da Americanas diz que estava “abaixo do Miguel” na escala hierárquica e na tomada de decisões na empresa.
“A gente fazia as propostas ali, mas a palavra final era do Miguel. E quando não estava de acordo com o que o Miguel achava, a gente fazia mudanças para ajustar para o que ele achava”, afirma o ex-diretor da Americanas.
Ainda de acordo com Meirelles, Anna Saicali seria uma espécie de braço direito de Gutierrez no esquema e tinha “ascendência” sobre ele e José Timotheo de Barros – que também fazia parte da cúpula da varejista.
Quando questionado pelos procuradores do MPF se Miguel Gutierrez tinha conhecimento das fraudes na B2W, Meirelles afirma: “Acho que sabia. Aí depende do período, né? Tem períodos que a gente tem certeza que sabia”.
Escândalo na Americanas
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas informou ao mercado que havia detectado “inconsistências contábeis” em seus balanços corporativos. Até então, o rombo era estimado em cerca de R$ 20 bilhões. Era o início do desmoronamento de uma das companhias mais tradicionais do país.
O episódio, hoje apontado como o maior escândalo corporativo da história do Brasil, deflagrou uma série de acontecimentos que levaram a Americanas à lona. Mais de 2 anos depois, a varejista ainda está longe de uma recuperação total.
Em abril de 2025, o MPF denunciou 13 ex-executivos e ex-funcionários da Americanas por supostas fraudes na companhia, cujo prejuízo é estimado em cerca de R$ 25 bilhões. A decisão foi tomada após a Polícia Federal (PF) indiciar os envolvidos.
Entre os denunciados pelo MPF, estão o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, além de Anna Saicali (ex-CEO da B2W) e dos ex-vice-presidentes Thimoteo Barros e Marcio Cruz.
Também fazem parte da lista os ex-diretores Carlos Padilha, João Guerra, Murilo Correa, Maria Christina Nascimento, Fabien Picavet, Raoni Fabiano, Luiz Augusto Saraiva Henriques, Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira e Anna Christina da Silva Sotero.
Todos eles foram denunciados pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica e manipulação de mercado. Nove pessoas também foram denunciadas por informação privilegiada.
Os três acionistas de referência da empresa – além de Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – não foram denunciados.
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