Câmara corre contra o tempo para regulamentar mototáxi com restrições
Projeto para regulamentar mototáxi por aplicativo deve ser apresentado nesta 4ª feira para ser votado em definitivo na próxima 2ª feira
Após quase um ano de discussões, a Câmara Municipal de São Paulo corre contra o tempo para aprovar até a próxima segunda-feira (8/12), e de forma definitiva, um projeto de lei para regulamentar o serviço de mototáxi na cidade.
Isso porque a Justiça de São Paulo determinou que a prefeitura regulamente a modalidade até o próxima quinta-feira (11/12). A gestão municipal chegou a recorrer, mas o Tribunal de Justiça manteve a decisão.
Desde o início do ano, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) vive uma batalha judicial contra plataformas como Uber e 99, que brigam para operar o mototáxi por aplicativo na cidade.
Um decreto municipal proíbe a atividade, o que foi considerado inconstitucional pela Supremo Tribunal Federal (STF). A prefeitura alega que a liberação fará aumentar as mortes no trânsito.
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Diante disso, a gestão Nunes e sua base aliada na Câmara buscam apresentar um texto que não corra o risco de ser judicializado, mas ao mesmo tempo não ceda a um “libera geral” da modalidade. As plataformas anunciaram que voltarão a oferecer o serviço no dia 12 de dezembro.
Nessa terça-feira (2/12), o Colégio de Líderes decidiu que a subcomissão criada em março deste ano para debater o tema apresentará um relatório final das atividades na sessão desta quarta-feira (3/12).
Ficou decidido que, a partir do texto que será apresentado pelo relator Paulo Frange (MDB), um projeto de lei será redigido e já passar, no mesmo dia, por votação na Comissão de Transportes. Passando no colegiado, a ideia é que o texto seja aprovado na Comissão de Constituição e Justiça na quinta-feira (4/12) e, na sequência, vá para votação em primeiro turno no plenário.
“Não temos outra saída agora a não ser regulamentar”, afirmou Frange ao Metrópoles. O objetivo é votar o texto em segundo turno na próxima segunda-feira (8/12).
“Nesse momento de pressão pelo prazo imposto pela Justiça, nosso trabalho é garantir que as melhores práticas do que ouvimos de dezenas de especialistas, ao longo de oito meses de trabalho, sejam incorporadas em um eventual projeto de lei”, afirma a vereadora Renata Falzoni (PSB), cicloativista e presidente da subcomissão.
Restrições à atividade
- Segundo o relator, o objetivo é chegar a um texto que não tenha risco de ser judicializado.
- De acordo com Frange, a ideia não é proibir, mas limitar o mototáxi em algumas situações.
- “Você pode proibir onde você quiser, onde seja incontestável a ausência desse tipo de trabalho. Vamos tentar traduzir isso em uma orientação simples e compreensível”, disse o relator.
- Segundo ele, a legislação garante ao município o direito de legislar sobre o ordenamento do espaço urbano, a mobilidade urbana e também sobre os meios de transporte.
- “Quando temos um corredor pela Radial Leste, ele é lá porque o município permitiu que seja lá. Agora é a hora de estabelecer regras para que esse pessoal possa trabalhar e não colocar as próprias vidas em risco”, afirmou.
- Uma das ideias debatidas seria restringir o mototáxi em zonas de rodízio.
- Outra, defendida por Renata Falzoni, prevê a restrição da modalidade em áreas onde já há alta disponibilidade de transporte público. A ideia seria mapear regiões onde há deficiência de oferta de transporte para que as pessoas usem o mototáxi, evitando que o modal se “canibalize” com o transporte coletivo.
- “Temos defendido o uso do Índice de Permeabilidade do Transporte Coletivo, que são exatamente essas várias zonas, especialmente na periferia, onde a oferta de ônibus é bastante limitada. Isso permitiria fazer essa integração levando os usuários para um terminal mais próximo. Então, você inclusive pode potencializar o uso de transportes coletivos ao invés de concorrer diretamente com ele”, disse Daniel Guth, especialista em mobilidade urbana e assessor parlamentar no gabinete de Falzoni.
Críticas ao “atropelo”
Apesar do prazo judicial, a pressa em apresentar um projeto de lei e, na mesma semana, já submetê-lo ao plenário pegou de supressa vereadores e movimentos que acompanham as discussão. E suscitou críticas.
“Eles vão votar um projeto secreto. E por que eu falo secreto? Porque eu acho um absurdo a subcomissão não chamar, pelo menos por consideração, a categoria que esteve lutando há tanto tempo dentro da Câmara dos Vereadores, não chamar as lideranças para pelo menos apresentar o relatório final. Vai apresentar no mesmo dia que vai ter a votação?”, afirmou JR Freitas (Psol), líder do movimento dos motoboys na cidade e opositor de Nunes ao longo dos debates.
Nos bastidores, vereadores reclamaram do que chamam “atropelo” e afirmam temer que as sugestões colhidas na subcomissão não sejam contempladas no texto. Em oito meses de trabalho, o colegiado realizou 15 reuniões e ouviu cerca de 60 grupos especializados no tema.
Na noite dessa terça-feira (2/12), Frange ainda não tinha um texto pronto e conversava com outros vereadores para chegar a um consenso. O próprio gabinete de Falzoni, presidente da subcomissão, não tinha conhecimento de qual seria o teor do relatório do relator.
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