Cantor sertanejo alvo do MP teve música compartilhada por Neymar

Alvo da Operação Desafino, Ronaldo Torres já foi um cantor famoso e no auge teve a música "Sexta-feira, sua linda" compartilhada por Neymar

May 4, 2025 - 04:00
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Cantor sertanejo alvo do MP teve música compartilhada por Neymar

Alvo de denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO), Ronaldo Torres Souza é investigado por roubar músicas de cantores sertanejos e usar contas fakes para publicá-las no Spotify. Ele ainda tinha em sua posse 21 computadores abertos reproduzindo as músicas, no que é chamado Fazenda de Streaming.

Ronaldo fez sucesso em 2016 com a música “Sexta-feira, sua linda”, que chegou a ser compartilhada pelo jogador de futebol Neymar na época. Ele fazia parte da dupla Alex e Ronaldo, mas, com a separação do grupo, o cantor assumiu para si o nome Alex Ronaldo. Nas redes sociais, ele divulga imagens de shows e fotos com carros de luxo.

O que não aparece à primeira vista é que Ronaldo adota nomes falsos na plataforma de áudio para assim publicar músicas que chegavam até ele em listas no Whatsapp. Compositores do país, especialmente sertanejos, divulgavam os conteúdos para artistas, empresários e produtores que pudessem investir nas canções.

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Ronaldo teria lançado as músicas em uma plataforma e inflado o conteúdo
Ronaldo Torres é investigado por roubar músicas de compositores sertanejos
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Ronaldo ganhou dinheiro indevidamente ao se apropriar de músicas, segundo MPGOInstagram/Reprodução

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Ronaldo teria lançado as músicas em uma plataforma e inflado o conteúdo Instagram/Reprodução

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Ronaldo Torres é investigado por roubar músicas de compositores sertanejos Instagram/Reprodução

Como tinha uma carreira na área, Ronaldo estava presente nas listas, mas se aproveitava da condição para se apropriar da música e lançar com nomes falsos em plataformas digitais para adquirir dinheiro. Em sequência, usava das fazendas de streamings para inflar o alcance das músicas.

Os nomes adotados por Ronaldo identificados pelo Ministério Público de Goiás foram:  Aldo Vanuti, Alexandre Volts, Alla Rick, Amadeu Lins, Andre Allk, Antony Faisão, Augusto Travis, Barto Lima, Breno Cardoso, Caike Lobato, Carlos Brenan, Carlos Makito, Carlos Max, Cesar Baroni, Diego Damian, Dinho Chaves, Elias Solto, Elizel Torres, Fabio Biu, Fabio Brits, Fabio Kaue, Fabricio Garan, Fagner Fael, Gean Gal, Gean Loyola, Geraldo Gel, Henrique Feitosa, Hugo Hulk, Junior Kobal etc.

“A divulgação de uma forma muito grande permite com que pessoas possam pegar essas guias e postar sem que seja até possível se suspeitar de quem fez. Então, a mais importante é principalmente para compositores que tem guia, que tem cuidado com quem espalha sua obra forma espalhar”, orientou o promotor Fabrício Lamas, do MPGO.

Foi como nome de Junior Kobal que Ronaldo se aproveitou da música “Banalizando Intimidade” e substituiu o título da canção para “Você Anda” – a primeira frase da música. A canção original era de Valéria Costa, Walace Dias, Igor Neto e Daniel Deck, que foi disparada apenas com voz e violão em uma dessas listas em grupos de potenciais investidores na canção. O conteúdo teve 1 milhão de visualizações. Já o original, não tem registros de lançamento nas redes.

Na denúncia do MP, consta o depoimento de Valéria Costa, uma das autoras da música Banalizando a Intimidade. Ela destaca que há um roubo também imaterial, já que a partir da divulgação do conteúdo, o investigado também divulga a ideia na canção, fazendo até perder uma originalidade.

“Às vezes você tem um tema que é muito original, uma música que é muito diferente, você tem certeza que não tem nada no mercado parecido com aquilo, se caiu ali no Spotify, o que está impedindo outra pessoa de fazer?”, disse Valéria ao Ministério Público.

As investigações apontam que Ronaldo embolsou cerca de R$ 300 mil indevidamente, mas que teria ocasionado um prejuízo de até R$ 6 milhões no mercado da música roubando os conteúdos.


Entenda o que é fazenda de streamings

  • Com apenas um computador, o cantor Ronaldo Torres Souza conseguia abrir 2 mil janelas na plataforma de música Spotify e replicar as suas canções, apresentando números de reprodução muito maiores do que de fato acontecia.
  • A prática é chamada de Fazendinha de Streamings e foi flagrada pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) na Operação Desafino, que já investigava a artista por roubar músicas de compositores e disponibilizar nas plataformas para arrecadar dinheiro.
  • A denúncia do MPGO foi feita em janeiro deste ano.
  • Segundo a investigação, a fazenda é uma configuração técnica para gerar artificialmente um grande volume de reproduções ou visualizações em plataformas que pagam pelos conteúdos, como é o caso do Spotify.

Os promotores do caso Fabrício Lamas e Diego Cordeiro detalharam ao Metrópoles como funcionava a fazendinha do cantor de música sertaneja. Os dois também disseram que há outras investigações em curso que apontam alvos além de Ronaldo, mas que usam a mesma prática.

“Ele tinha 21 máquinas de notebook que estavam em pleno funcionamento no momento do flagrante”, destacou o promotor Diego Cordeiro. “Ele tinha um aplicativo, que simula a existência de outras máquinas e em cada uma delas, ele conseguia abrir mais navegadores e abas”, completou.

“Ele fazia artificialmente que aquela música que ele postou lá tivesse muitos acessos, muitos plays. E aí ele ganhava dinheiro, tirando dinheiro do jogo de outras pessoas também das outras, dos outros artistas, mesmo que não vinculados à queles outros usos”, ressaltou.

Quando o promotor diz que Ronaldo tirava o dinheiro de outra pessoa, é porque o pagamento feito por essas plataformas ocorre por meio de um rateio de lucros proporcional ao número de reprodução do conteúdo. Dessa forma, um artista que falseia esse engajamento adquire para si um valor maior do que realmente teria e disputa com outros profissionais que agem conforme a regra.

O que diz a defesa

O empresário de Ronaldo, Sílvio França, disse que o seu cliente está colaborando com as investigações. Ele ressaltou que Ronaldo não está bem e tem feito terapia porque, segundo ele, “cadeia não cura ninguém”.

“Uma coisa é botar um bandido na cadeia, que está acostumado com cadeia, outra coisa é botar uma pessoa que não tem um passado nada sujo, tipo um passado limpo e botar na cadeia”, destaca o empresário.

“Ele está cooperando com a justiça. Então, vamos deixar a justiça resolver o que tem que resolver, mas ele tem que voltar a trabalhar, tem que voltar a trabalhar e viver”. Sílvio reforçou que a operação atrapalha a carreira do cantor e disse ainda que o “Brasil  tem tantas outras coisas mais importantes que estão acontecendo”.

O Metrópoles também questionou ao Spotify sobre as medidas adotadas para identificar e coibir fazendas de streaming, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

 

 

 

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