Caso Vai de Bet: Augusto Melo teria sido ameaçado de morte por agiota
Uma denúncia anônima revelou que Augusto Melo devia dinheiro de doações de campanhas a um agiota e teria até usado colete a prova de balas

O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, teria sido ameaçado de morte por um agiota da zona leste de São Paulo, por conta de dívidas acumuladas das campanhas eleitorais de 2020 e 2023 para a presidência do clube alvinegro. Os relatos sobre as ameaças surgiram no inquérito policial que investiga irregularidades na negociação de patrocínio entre o Corinthians e a empresa de apostas Vai de Bet, finalizado na última segunda-feira (23/6).
As ameaças foram apresentadas ao Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) da Polícia Civil em uma denúncia anônima, em dezembro de 2024. No documento, o denunciante diz que Augusto Melo recebeu muitas doações nas duas campanhas eleitorais, dando a entender que os doadores seriam “empresários de jogadores de base; esse monte de MC, como Buzeira; um empresário com atuação no futebol do time de São Bernardo do Campo, laboratório EMS, de Campinas; e um doleiro do Tatuapé”.
Segundo o inquérito policial, a denúncia diz que as doações foram tratadas como “dívidas” e foi asseverado que um agiota da zona leste paulistana estaria no “encalço de Augusto”, ameaçando-o de morte, caso o valor não fosse pago.
Outra parte da carta denunciante se refere ao mandatário afastado e ao seu grupo dizendo que “agora ele teria que pagar tudo o que havia recebido nas duas campanhas [2020 e 2023]. Se não pagar já sabe como os caras fazem.”
A carta ainda diz que Augusto Melo teve que usar colete a prova de balas em algumas ocasiões na zona leste porque o agiota que estava lhe ameaçando disse que iria lhe matar se não pagasse a dívida.
Indiciados
Ao todo, o inquérito policial indiciou cinco pessoas. São elas:
- Augusto Melo – presidente afastado do Corinthians
- Marcelo Mariano – ex-dirigente do Corinthians
- Sérgio Moura – ex-dirigente do Corinthians
- Alex Cassundé – suposto intermediário na negociação entre Vai de Bet e Corinthians
- Yun Ki Lee – ex-diretor jurídico do Corinthians.
Os quatro primeiros foram indiciados por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Já Yun Ki Lee foi autuado por omissão imprópria.
Para o indiciamento, as autoridades policiais levaram em conta algumas inconsistências nos depoimentos dos envolvidos, principalmente sobre o encontro que apresentou o atual mandatário Corinthians e Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design Ltda, contratada para intermediar o contrato entre a empresa de apostas e a equipe da zona leste de São Paulo.
8 imagens
Fechar modal.
1 de 8
Augusto Melo foi afastado na última segunda-feira (26/5)Jose Manoel Idalgo/Corinthians2 de 8
Presidente afastado do Corinthians, Augusto MeloReprodução3 de 8
Defesa de Augusto Melo entrou com HC horas antes de votação de impeachment.Rodrigo Coca/Agência Corinthians4 de 8
Conselho Deliberativo do clube aguarda fim das investigações.Ricardo Moreira/Getty Images5 de 8
Dorival Jr estreou como técnico do Corinthians em 30 de abril, na vitória por 1–0 contra o Novorizontino pela Copa do Brasil.Sipa US / Alamy Stock Photo6 de 8
Impeachment de Augusto Melo será votado nesta segunda-feira (26/5)Leonardo Amaro/Metrópoles7 de 8
Memphis teve pênalti defendido por WalterReprodução8 de 8
No entanto, o jogador se recupera de uma lesão no tornozeloAndré Ricardo/Sports Press Photo/Getty Images
Além disso, os investigadores acreditam que não foi Cassundé quem intermediou a negociação entre a empresa e o clube. Segundo o inquérito policial, quem aproximou a empresa do ramo de apostas do clube do Parque São Jorge foram outras três pessoas: Antônio Pereira dos Santos (conhecido como Toninho), Sandro dos Santos Ribeiro e Washington de Araújo Silva. “Isso nos está muito claro”, escreve a autoridade policial no inquérito.
Após relatado, o documento policial deve ser encaminhado ao Ministério Público do estado (MPSP), que analisará o inquérito e decidirá sobre o oferecimento de uma denúncia à Justiça. Caso esse processo seja apresentado e aceito, Augusto Melo e os outros três envolvidos viram réus em um processo judicial pelos crimes citados.
No caso de Yun Ki Lee, o relatório final da investigação, obtido pelo Metrópoles, aponta que a omissão dele teve um papel significativo na trama criminosa. De acordo com as autoridades, o ex-dirigente foi responsável pela checagem cadastral das empresas envolvidas na negociação, incluindo a “suposta intermediária”, mesmo existindo um setor específico no Corinthians para essa função.
A polícia também estranhou o fato de o ex-diretor jurídico do clube não tomar nenhuma providência na negociação mesmo após ter identificado inconsistências na empresa Rede Social, que não correspondia à atividade de intermediação, não tinha experiência comprovada no setor, especialmente no ramo esportivo e era uma empresa inexpressiva, como apenas R$ 10 mil de capital social.
Além disso, Yun Ki Lee não sugeriu nem alertou sobre as possíveis irregularidades, mesmo ciente de que a empresa seria beneficiada com um pagamento de R$ 25 milhões, que sairia dos cofres do Corinthians.
Em nota, o ex-diretor se defendeu dizendo que sabia sobre os fatos e da própria participação na elaboração do contrato de patrocínio entre o clube alvinegro e a Vai de Bet, mas que “fez de tudo para preservar os interesses do clube o que incluiu a pesquisa cadastral das pessoas físicas e jurídicas envolvidas; incluiu também inserção de cláusula de fiança prestada pelo representante legal da Vai de Bet no Brasil e de sua esposa””.
Yun Ki Lee ainda contou que não participou das negociações comerciais, e que, por isso, somente recebeu os dados que deveriam constar no contrato, incluindo os da empresa intermediadora e dos representantes. O ex-diretor jurídico também afirmou que sabia que a empresa não tinha atividade na intermediação, mas que em sua opinião jurídica, isso não era impeditivo, “pois havia outras atividades relacionadas que permitiriam a atuação”. Ele também contou que o capital social da empresa é um item “absolutamente irrelevante” para realizar a intermediação.
Impeachment
- Augusto Melo foi afastado do cargo de presidente do Corinthians depois do Conselho Deliberativo do clube aprovar, por 176 votos a 57 , o impeachment do mandatário.
- Uma segunda votação, agora com votos do quadro associativo do clube, está marcada para agosto para decidir o afastamento definitivo ou não de Augusto Melo.
- Com a saída de Augusto Melo, quem assumiu a presidência do Corinthians de forma interina foi o primeiro vice-presidente, Osmar Stabile.
What's Your Reaction?






