Chama o papa presidente (por Roberto Caminha)
O último doidão, com poder, que tivemos por perto, incinerou muitos avós e bisavós de amigos nossos.

O espetacular Lulinha Paz e Amor deixou-se levar pelos seus novos marqueteiros, que ainda não entenderam a sua ligação cármica com as classes D e E do Brasil. Na sua última aparição, ficou muito aquém dos seus sensacionais apelos, aqueles difíceis, em que os necessitados, nunca disseram não, para picanhas e chopps.
Vivemos dias difíceis, mas nem por isso: sem graça. Enquanto o nosso Presidente Luiz Inácio passeia pelos palanques da vida domando a plebe ignara com sua conversa macia — que só o povo sofrido deste Brasilzão aceita com alegria desmedida — o mundo gira em outra rotação. Nosso PIB mal bate 2,8 trilhões de dólares (com muito suor e pouquinho crescimento), enquanto o Donald Trump, mesmo em descendente, já balança um PIB de 24 trilhões, na sua moeda, como quem exibe um carrinho de controle remoto novo, no recreio da escola. Então, nós agora somos a plebe e o Lourão é o Lula.
No playground global, Trump não é exatamente o mais popular. Os colegas coreanos, japoneses, iranianos, venezuelanos, cubanos e os eternos palestinos já estão de saco cheio do Lourão, que, ao invés de brincar, prefere dar carrinhos e cotoveladas. Trump é aquele menino mimado que traz a bola, mas se não deixarem ele fazer três gols e bater, do pênalti ao escanteio, vai embora com a gorduchinha. Resultado? Ficam todos olhando para o chão de terra batida, esperando que alguém empreste uma bola nova — ou pelo menos uma de meia.
E o Brasil, com seu jeitinho de quem mora no kitnet da geopolítica, acaba entrando na confusão sem ter culpa no cartório. Quando os poderosos das coberturas brigam entre si, geralmente se entendem. Mas quando o pessoal do térreo entra no rolo, o pau quebra. E adivinha quem leva a bolada na cara? A gente, claro. Com a bronca americana contra nossos amigos chineses, o suco de laranja brasileiro, que antes fazia sucesso nas manhãs dos estadunidenses, começa a ser importado de outro canto — e sobra para nós chupar mil laranjas azedas por dia, cada um. E ainda sobram! E os aviões da EMBRAER? Só o Santos Dumont, se estiver de bem com o Pai e o Filho, para resolver a parada. Vai ser difícil de empurrar uns aeroplanos. Eu torço por um pensamento de amigos: São Paulo não pode parar! Se parar, o resto do Brasil…endoida!
Enquanto isso, o nosso Presidente, que é bom de gogó, tenta segurar o rojão no grito. Mas, convenhamos, a coisa tá ficando feia. Talvez seja hora de acionar forças mais elevadas. E aqui entra a grande proposta desta meiga coluna: chamar o Papa. Não é brincadeira essa bronca em que nos metemos. Só o Papa!
Isso mesmo, o Papa! Mas não qualquer um. Precisamos de um Leão XIV, reencarnado em forma de diplomata, com cara de santo e alma de Chicaguense. Sim, senhoras e senhores, estamos falando de Robert Prevost, um Papa nascido na mesma cidade onde atuou Alphonse Gabriel Capone, o mais famoso exportador de “ordem pública” da América.
Se Alphonse Capone mandava no porrete, Prevost reza no silêncio. E como está difícil resolver essa confusão com diplomacia laica, que tal jogar água benta e fitinha do Bomfim e de Nazaré, nos mísseis? O mundo está tão bagunçado que a gente já começa a cogitar o impossível: pedir ajuda aos Bolsonarinhos. Mas calma lá! Antes de ajoelhar e rezar para essa novena, melhor tentar uma intercessão com quem tem conexão direta com o alto escalão celestial. Por favor, deixem o Pastor Valdomiro, a Fafá de Belém e o Malafaia fora dessa.
Kennedy, aquele outro americano mais chique e bem-educado, já deixou a lição quando perdeu a paciência com Fidel Castro, que andava estocando mísseis soviéticos na Ilha Encantada, ao seu ladinho. Disse, com aquele sotaque carregado, de Princeton com Harvard: “Para com a graça, senão eu afundo essa merda de ilha”. Não precisava nem de tradução simultânea. Foi direto, seco e eficaz. E o barbudo segurou a onda. A bola do Barbudo era bem mais redondinha que a do nosso Presidente.
Mas, convenhamos, ninguém aqui quer ver Cuba afundar, nem o Brasil afogado em jarras de suco azedo. A gente só quer vender nossas laranjas, comprar arroz, para o almoço, sem leiloar o salário mínimo e, quem sabe, conseguir um iPhone parcelado em 36 vezes, sem juros, assistindo a Netflix.
Meu querido Presidente Lula, com todo o respeito: já que o Lourão americano está nervoso, a China está com sono, a Europa está em crise de identidade e o Putin está sempre de cara fechada — chama logo o Papa. E que ele venha com toda a pompa, incenso e Prada branca com dourados. Porque, se for depender só da diplomacia brasileira, daqui a pouco a gente vai estar trocando café por tererê, no mercado internacional e comprando feijão mexicano, a preço de iogurte grego. O último doidão, com poder, que tivemos por perto, incinerou muitos avós e bisavós de amigos nossos. Não devemos brincar com meninos, bêbados e doidos, pois não sabemos o que pode voltar, dizia o velho Frei Fulgêncio.
E para os mais céticos que ainda não acreditam na força papal, lembrem-se: se o Vaticano não resolve, pelo menos bota ordem no recreio. E, com sorte, salva a próxima safra de laranja, servida em aviões canarinhos. Amém.
Roberto Caminha Filho, economista, roga ao Papa americano Leão XIV, pela sua entrada na causa. O Brasil tem que sair dessa furada com dignidade.
What's Your Reaction?






