Chaminé da Capela Sistina: tradição da fumaça para anunciar papa tem 'apenas' duas centenas de anos e começou fora do Vaticano

Numa época em que o conclave acontecia no Palácio do Quirinal, a alguns quilômetros da Basílica de São Pedro, os romanos se reuniam para ver a fumaça da queima das cédulas de votação dos cardeais. Só em 1914 o costume foi formalizado, e a fumaça branca surgiu. Fumaça preta sai de chaminé da Capela Sistina, em 7 de abril de 2025. Hannah McKay/ Reuters Com os portões da Capela Sistina fechados durante o conclave, os olhos do mundo se voltam para uma chaminé de cerca de 2 metros de altura instalada no teto do Palácio Apostólico, na Cidade do Vaticano. É ela que vai dizer se um novo papa foi escolhido ou não pelo colégio de cardeais nesta quinta-feira (8). A pequena torre de metal é provisória, e só permanece instalada no teto do edifício histórico durante os conclaves. Mas ela faz parte de uma tradição relativamente nova da Igreja Católica, de "apenas" cerca de 200 anos. E que sequer começou no Vaticano, mas a alguns quilômetros dali, em uma outra colina de Roma. AO VIVO: Acompanhe em tempo real o conclave que elegerá o novo papa ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A Capela Sistina, um dos cômodos mais famosos do Palácio Apostólico, recebeu seu primeiro conclave em 1942, mas os locais das votações variaram ao longo do tempo, saindo de Roma muitas vezes. Após um conclave realizado em Veneza em meio às Guerras Napoleônicas, em 1800, as votações voltaram a Roma, passando a ser realizadas no Palácio do Quirinal, um enorme complexo usado como residência do pontífice numa época em que ele não era apenas o líder religioso dos católicos, mas o comandante supremo dos Estados Papais, que tinha boa parte da atual Itália sob os seus domínios. Era na praça do Quirinal que os romanos se reuniam para descobrir se um novo papa havia ou não sido eleito. Segundo o pesquisador Frederic J. Baumgartner, citado pelo jornal "The New York Times", a primeira evidência do uso da fumaça para indicar uma decisão dos cardeais data do conclave de 1823. A fumaça era simplesmente resultado da queima das cédulas de votação, indicando aos que estavam de fora que os eleitores ainda não haviam chegado a um consenso. O costume foi transferido para a Praça São Pedro a partir de 1878, depois que o rei Vittorio Emanuelle II conquistou Roma, abolindo os Estados Papais e incorporando Roma ao Reino da Itália. O antigo palácio dos papas, no Quirinal, se tornou a residência do monarca. Primeira votação do conclave tem fumaça preta Fumaça branca... e amarela? Apenas em 1914 a tradição foi formalizada, e o anúncio da escolha do papa Bento 15 foi feito com uma fumaça branca — a fumaça preta continuou sendo a indicação de uma votação mal sucedida. O sinal dado para os fiéis nem sempre foi claro, porém. Ao longo do século 20, não foram poucas as vezes em que a cor da fumaça era inconclusiva, levando a alarmes falsos da imprensa. Em 1958, um dos episódios mais famosos, a fumaça pareceu branca por alguns segundos, até se tornar preta: o caso deu origem a uma famosa teoria da conspiração, de que o cardeal genovês Giuseppe Siri, eleito e já com seu nome papal escolhido (Gregório XVII), foi obrigado a renunciar em favor de Angelo Roncalli, que se tornou o papa João XXIII. Só a partir de 1978 cartuchos que produziam fumaça foram instalados na chaminé da Capela Sistina para realçar a cor da fumaça que subiria pela Praça São Pedro. Em 2005, o atual sistema, com ignição eletrônica e mais avançado, foi instalado em definitivo. Os votos dos cardeais continuam a ser queimados, em uma estufa de ferro fundido usada desde 1939, e a fumaça resultante sai da mesma chaminé. Nem todos os procedimentos, contudo, viram tradição nos conclaves. Em alguns deles, uma fumaça amarela foi usada antes do início das votações para testar o sistema. Este passo não é mais utilizado e virou coisa do passado.

May 8, 2025 - 00:30
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Chaminé da Capela Sistina: tradição da fumaça para anunciar papa tem 'apenas' duas centenas de anos e começou fora do Vaticano

Numa época em que o conclave acontecia no Palácio do Quirinal, a alguns quilômetros da Basílica de São Pedro, os romanos se reuniam para ver a fumaça da queima das cédulas de votação dos cardeais. Só em 1914 o costume foi formalizado, e a fumaça branca surgiu. Fumaça preta sai de chaminé da Capela Sistina, em 7 de abril de 2025. Hannah McKay/ Reuters Com os portões da Capela Sistina fechados durante o conclave, os olhos do mundo se voltam para uma chaminé de cerca de 2 metros de altura instalada no teto do Palácio Apostólico, na Cidade do Vaticano. É ela que vai dizer se um novo papa foi escolhido ou não pelo colégio de cardeais nesta quinta-feira (8). A pequena torre de metal é provisória, e só permanece instalada no teto do edifício histórico durante os conclaves. Mas ela faz parte de uma tradição relativamente nova da Igreja Católica, de "apenas" cerca de 200 anos. E que sequer começou no Vaticano, mas a alguns quilômetros dali, em uma outra colina de Roma. AO VIVO: Acompanhe em tempo real o conclave que elegerá o novo papa ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A Capela Sistina, um dos cômodos mais famosos do Palácio Apostólico, recebeu seu primeiro conclave em 1942, mas os locais das votações variaram ao longo do tempo, saindo de Roma muitas vezes. Após um conclave realizado em Veneza em meio às Guerras Napoleônicas, em 1800, as votações voltaram a Roma, passando a ser realizadas no Palácio do Quirinal, um enorme complexo usado como residência do pontífice numa época em que ele não era apenas o líder religioso dos católicos, mas o comandante supremo dos Estados Papais, que tinha boa parte da atual Itália sob os seus domínios. Era na praça do Quirinal que os romanos se reuniam para descobrir se um novo papa havia ou não sido eleito. Segundo o pesquisador Frederic J. Baumgartner, citado pelo jornal "The New York Times", a primeira evidência do uso da fumaça para indicar uma decisão dos cardeais data do conclave de 1823. A fumaça era simplesmente resultado da queima das cédulas de votação, indicando aos que estavam de fora que os eleitores ainda não haviam chegado a um consenso. O costume foi transferido para a Praça São Pedro a partir de 1878, depois que o rei Vittorio Emanuelle II conquistou Roma, abolindo os Estados Papais e incorporando Roma ao Reino da Itália. O antigo palácio dos papas, no Quirinal, se tornou a residência do monarca. Primeira votação do conclave tem fumaça preta Fumaça branca... e amarela? Apenas em 1914 a tradição foi formalizada, e o anúncio da escolha do papa Bento 15 foi feito com uma fumaça branca — a fumaça preta continuou sendo a indicação de uma votação mal sucedida. O sinal dado para os fiéis nem sempre foi claro, porém. Ao longo do século 20, não foram poucas as vezes em que a cor da fumaça era inconclusiva, levando a alarmes falsos da imprensa. Em 1958, um dos episódios mais famosos, a fumaça pareceu branca por alguns segundos, até se tornar preta: o caso deu origem a uma famosa teoria da conspiração, de que o cardeal genovês Giuseppe Siri, eleito e já com seu nome papal escolhido (Gregório XVII), foi obrigado a renunciar em favor de Angelo Roncalli, que se tornou o papa João XXIII. Só a partir de 1978 cartuchos que produziam fumaça foram instalados na chaminé da Capela Sistina para realçar a cor da fumaça que subiria pela Praça São Pedro. Em 2005, o atual sistema, com ignição eletrônica e mais avançado, foi instalado em definitivo. Os votos dos cardeais continuam a ser queimados, em uma estufa de ferro fundido usada desde 1939, e a fumaça resultante sai da mesma chaminé. Nem todos os procedimentos, contudo, viram tradição nos conclaves. Em alguns deles, uma fumaça amarela foi usada antes do início das votações para testar o sistema. Este passo não é mais utilizado e virou coisa do passado.

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