Com doações, motoboys criam ponto de apoio da categoria na Sé. Vídeo

Ponto no centro de SP, com banheiro e áreas de alimentação e descanso, distribui até marmitas. Espaço está aberto a outras categorias

Oct 26, 2025 - 03:00
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Com doações, motoboys criam ponto de apoio da categoria na Sé. Vídeo

O que parecia só uma rua sem saída virou um ponto de apoio para motoboys na região central de São Paulo, no subsolo de um prédio na Rua Irmã Simpliciana, a pouco mais de 100 metros do marco zero da Praça da Sé. O Movimento dos Trabalhadores Sem Direito inaugurou, no fim de agosto, a Base, um raro local na capital paulista em que os entregadores podem almoçar, esquentar a marmita, tomar um café, carregar o celular, descansar durante as jornadas e até jogar videogame para arejar a cabeça.

Veja imagens:

Fundador da Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos, Elias Freitas Júnior, conhecido como JR Freitas, afirma que a ideia de criar um ponto de apoio era antiga, mas que se fortaleceu mesmo a partir do breque nacional (a paralisação dos entregadores) realizado em março.

Houve, então, uma aproximação com representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Direito e, a partir das conversas, foi possível viabilizar o plano. 5 imagensMotos em frente à Base, na SéPraça da Sé, em São PauloMotos em frente à Base, na SéEntregadores na Base, na região da SéFechar modal.1 de 5

Interior da Base, na região da SéWilliam Cardoso/Metrópoles2 de 5

Motos em frente à Base, na SéWilliam Cardoso/Metrópoles3 de 5

Praça da Sé, em São Paulo4 de 5

Motos em frente à Base, na SéWilliam Cardoso/Metrópoles5 de 5

Entregadores na Base, na região da SéWilliam Cardoso/Metrópoles

Em agosto, o Metrópoles publicou reportagem especial mostrando as dificuldades enfrentadas pelos entregadores na cidade de São Paulo, entre elas a falta de pontos de apoio em quantidade suficiente para dar conta das necessidades de quem trabalha para aplicativos. Como exemplo, a própria Avenida Paulista, um dos lugares mais movimentados do setor, não tinha um local sequer para que um motoboy ou ciclista esquentasse a própria marmita.

“Particularmente, acho um absurdo um entregador de aplicativo não ter onde lavar a mão, usar o banheiro, almoçar. A gente almoça na calçada, isso aí não é uma situação aceitável para um trabalhador prestando serviço para empresas milionárias, multimilionárias, bilionárias. O ponto de apoio é uma questão de humanidade”, diz JR Freitas.

O movimento já tinha o projeto da cozinha solidária na Irmã Simpliciana e abraçou os entregadores com a oferta do espaço e também de marmitas para aqueles que chegam com fome ao local (são cerca de 40 por dia, atualmente). Os motoboys relatam que, no dia a dia, muitas vezes, o almoço acaba sendo um pacote de bolachas entre uma corrida e outra, daí a necessidade de uma alimentação saudável.

Doações ajudam a manter local

Para receber as pessoas, doações viabilizaram a compra de cadeiras, mesas, puffs, televisão e internet, entre outros. O custo de manutenção do local, com tudo o que é necessário, fica em torno de R$ 25 mil por mês e os motoboys pedem ajuda a quem possa colaborar.

Os entregadores dizem que a própria Prefeitura de São Paulo só começou a se movimentar para criar pontos de apoio públicos depois da iniciativa tornada realidade na Irmã Simpliciana — a gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou, na última semana, o início das obras do primeiro ponto de apoio municipal voltado a motoboys e entregadores de aplicativo.

Apesar de lutarem pela ampliação de unidades da Base por todo o Brasil, os entregadores dizem que não vão deixar de cobrar as empresas sobre suas responsabilidades. “As empresas de aplicativo têm a obrigação mínima de dar essa dignidade para o trabalhador”, afirma Freitas.

Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Direito, Diego Araújo diz que a Base serve também para dar atendimento psicossocial e jurídico para os entregadores. Ele também vê como uma oportunidade para conscientizar as pessoas sobre seus direitos, em um momento de esfacelamento das relações trabalhistas. “Por enquanto, nós estamos falando somente dos entregadores, mas a tendência de toda profissão é gerar precarização através da plataforma digital. Tem aí um outro aplicativo que você contrata qualquer tipo de serviço”, diz.

Mesmo ligados a organizações próximas do campo progressista, os responsáveis pela Base dizem que o local recebe e atende com o mesmo cuidado e atenção pessoas de qualquer orientação política.

Estrutura para todos

Embora voltada a entregadores, a Base não exclui outros profissionais. Junior Santos, uma das lideranças do local e integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Direito, diz que é um lugar aberto também a outras pessoas que necessitem de apoio. “A união dessa base é isso. É acolher o entregador, a costureira, a mulher da tapioca, o puxador, o carroceiro”, afirma.

Os entregadores pretendem ampliar o número de pontos de apoio, servindo de exemplo também para outras cidades. “De início, a gente trata isso como uma resposta para aqueles que podem fazer e não fazem. Agora, a gente tem condições de ampliar esse projeto e realmente fazer sem esperar mais nada de ninguém”, afirma JR Freitas, da Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos.

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“A gente pensa em umas 3 mil bases no Brasil todo para atender os outros trabalhadores. Então isso é pensar amplo, pensar grande e atender ao máximo, mostrar para a sociedade que todos os trabalhadores informais, independentemente da categoria que seja, merecem ser tratados com dignidade e respeito”, acrescenta Diego Araújo, coordenador do movimento.

Uma das lideranças do projeto, Josenildo Amorim resume o sentido da Base. “A gente não é uma máquina. A gente tem que comer, se alimentar, tomar água, carregar o celular. A gente tem que ter um tempo para trocar ideia”, diz.

O que dizem os frequentadores

Luiz Aguiar, de 34 anos, faz entregas há cinco meses com bicicleta e aprovou a ideia da Base. “Pode me dar auxílio no almoço, fazer eu me alimentar melhor.  Muitas vezes, tem gente que não tem o que comer”, diz.

A Base também trouxe para Aguiar uma dignidade difícil de ser encontrada na rua, onde ele conta que é alvo de preconceito por ser entregador tanto nas portarias dos prédios quanto em restaurantes. “Eles querem que você fique ali naquela portinha ao lado”, diz.

Alan Silva, 25 anos, é motoboy e diz que a vida nas ruas é com uma “tremenda adrenalina, uma correria total”. Para ele, a Base trouxe um momento de paz em meio à agitação do dia a dia. “Dá algum fôlego para aquela pessoa que já está desacreditada”, afirma.

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