CPMI do INSS: investigação ou espetáculo?

  O Congresso Nacional será, mais uma vez, palco de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e, ao que tudo indica, a polêmica está mais do que garantida. A CPMI foi criada para apurar os descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), após denúncias envolvendo descontos […]

Jun 18, 2025 - 19:00
 0  0
CPMI do INSS: investigação ou espetáculo?

 

O Congresso Nacional será, mais uma vez, palco de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e, ao que tudo indica, a polêmica está mais do que garantida. A CPMI foi criada para apurar os descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), após denúncias envolvendo descontos automáticos feitos por instituições financeiras, sem autorização expressa dos beneficiários, que causaram prejuízos bilionários a aposentados e pensionistas.

 

A investigação carrega uma pauta legítima, relevante, afinal, milhares de pessoas foram lesadas. No entanto, há o risco de que o cenário se converta em mais um palco para o espetáculo político e para os debates acalorados entre integrantes da base do governo e da oposição. Parlamentares podem querer direcionar suas intervenções com o objetivo de chocar, entreter e viralizar. Afinal, vivemos um tempo em que a política migrou da racionalidade programática para uma lógica performática, sustentada pela presença contínua nas redes sociais. Se isso acontecer, a comissão pode virar palco para autopromoção, deixando, de forma deliberada e até irresponsável, a investigação proposta inicialmente.

 

Essa possibilidade nos remete à discussão mais ampla sobre a plataformização da política. A ascensão das redes sociais acelerou a espetacularização da vida pública, uma vez que os algoritmos privilegiam conteúdos que geram engajamento emocional, e não reflexão crítica. Temas complexos estão sendo reduzidos a slogans fáceis e imagens impactantes, pois, hoje, viralizar tornou-se mais importante do que explicar.

 

Essa dinâmica não é casual; ela é estrutural. Como antecipou Guy Debord, em A sociedade do espetáculo, a política moderna tende a se converter em imagem e emoção, e não mais em razão e programa. A lógica algorítmica das redes sociais intensifica esse processo: quanto mais um conteúdo provoca reações emocionais, maior seu alcance. O algoritmo recompensa a performance e pune a ponderação.

 

Nesse ambiente, a coerência programática é desvalorizada, e a presença digital se torna critério de viabilidade política. Já evidenciamos, em vários episódios, que muitos parlamentares não falam mais para o plenário, mas para os cortes de vídeo; não argumentam para convencer, mas para “viralizar”. Assim, a CPMI da INSS corre o risco de se transformar em mais um capítulo dessa lógica performática, em que o escândalo e a autopromoção suplantam o compromisso com os fatos.

 

A CPMI da INSS pode, e deve ser um espaço de investigação. Para isso, é preciso resistir à tentação da autopromoção digital e recolocar o foco na função pública da política. O eleitorado já viu o espetáculo na CPI das Bets. Talvez, agora, deseje, e mereça, responsabilidade.

 

Vanessa Marques é jornalista, mestre em comunicação na Espanha, e atua há 20 anos na comunicação política, com 13 anos de experiência como coordenadora de comunicação de mandato na Câmara dos Deputados. Pesquisadora sobre espetacularização, neopopulismo e a plataformização do discurso pela direita conservadora na América.

 

Por Vanessa Marques – jornalista

@vanessamarques.mkt

 

Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

What's Your Reaction?

like

dislike

love

funny

angry

sad

wow

tibauemacao. Eu sou a senhora Rosa Alves este e o nosso Web Portal Noticias Atualizadas Diariamente