CPMI inicia com duelo de narrativas e entra em fase de ouvir ministros
Governo e oposição travam disputa sobre qual governo é culpado pelas fraudes; colegiado ouvirá ministros da Previdência dos últimos 10 anos

Antes mesmo da instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), governo e oposição já disputavam narrativas sobre quando as fraudes começaram e qual gestão seria responsável: a de Jair Bolsonaro (PL) ou a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A partir desta semana, o colegiado dará início à fase de audiências dos ex-ministros da Previdência. O primeiro a depor será Carlos Lupi, que deixou o ministério no governo Lula em 2 de maio de 2025 após os escândalos virem à tona.
Serão ouvidos ministros dos últimos 10 anos, o que inclui o terceiro mandato de Lula, a gestão de Bolsonaro e de Dilma Rousseff (PT).
Caso revelado
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
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O que aconteceu até aqui
Logo na instalação, em 20 de agosto, a CPMI teve uma reviravolta: Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito presidente e derrotou Omar Aziz (MDB-AM), indicado pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP). Para a relatoria, foi escolhido Alfredo Gaspar (União-AL), de perfil claramente oposicionista.
A comissão foi criada para investigar um esquema de fraudes envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e pensões, revelado por reportagens do Metrópoles. As investigações apontam para a atuação de entidades sindicais que firmaram convênios com o INSS, resultando em filiações fraudulentas e cobranças ilegais.
A CPMI recebeu 253 requerimentos, incluindo pedidos de convocação e quebra de sigilo de figuras como o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva (Frei Chico), o ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, e o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”
O primeiro dia da comissão, porém, não foi tão negativo para o governo, apesar da derrota na eleição da presidência e da relatoria, articulada pela oposição. Governistas conseguiram segurar convocações sensíveis ao presidente Lula, evitando desgaste político ao chefe do Planalto.
Em 26 de agosto, o presidente da CPMI, Carlos Viana, disse que, no momento, não há previsão para convocar o sindicalista Frei Chico, irmão do presidente Lula. Ele afirmou que o colegiado, no momento, chamará “pessoas sejam identificadas com algum tipo de desvio, decisão ou interferência nos desvios do INSS”.
“Ao longo da CPMI ficar provado que essa pessoa ou qualquer outra tenha de fato participado, será colocado o requerimento para convocação” declarou Viana.
José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi). Segundo as investigações da Polícia Federal, a entidade arrecadou R$ 259 milhões em descontos ilegais.
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