“Desumano”: soldado da FAB relata jornada árdua e “punição” aos doentes
À coluna, ele relatou que após um colega ser internado em uma clínica psiquiátrica, tornou-se obrigatório cumprir os atestados na Base Áerea

Longas jornadas de trabalho sem descanso, no modelo “24×0” de escala de trabalho, colapsos psicológicos e internações em hospitais psiquiátricos. Segundo um soldado da Força Aérea Brasileira (FAB), da Base Aérea de Brasília (BABR), essa é a melhor descrição para o atual cenário no local.
O homem, que preferiu não se identificar, relatou que, recentemente, um soldado da Base teve um surto após meses atuando no esquema “24×0”.
Leia também
-
Mirelle Pinheiro
Traficante “Maradona” é fuzilado no Rio um dia após deixar a prisão
-
Mirelle Pinheiro
No CTI há 3 meses, policial baleado na testa precisa de sangue
-
Mirelle Pinheiro
PM preso arrumou amante em app e falsificou CNH para ter visita íntima
-
Mirelle Pinheiro
Salários de Gabigol e Kannemman vão parar em caixa de papelão. Veja
“Plantões de 24 horas com quase nenhuma folga de verdade. Nas últimas semanas, ele ainda estava dobrando direto, praticamente sem descanso. O cara colapsou, teve pensamento suicida e precisou ser internado no hospital psiquiátrico por 15 dias”, disse.
Segundo ele, se não bastasse a imposição da jornada árdua, o comando teria respondido de forma negativa à ausência do rapaz, ainda que por motivos de saúde.
“Em vez de rever as escalas ou dar algum tipo de apoio psicológico, mandaram uma mensagem oficial dizendo que agora todo mundo que pegar atestado vai ter que ficar dentro do alojamento durante o período da dispensa”, expôs.
De acordo com o soldado, mesmo doente e em crise, todos devem ficar “presos” dentro da BABR sendo monitorados. “Na prática, é punição. Um recado claro: se adoecer, vai ser vigiado”, indignou-se.
O entrevistado relatou que “a tropa está revoltada, mas com medo”. Ele ainda declarou que o comando trata doenças como fraqueza e controle como cuidado. “Isso é desumano”, apontou.
A coluna teve acesso ao aviso do novo modelo de cumprimento de atestados. No comunicado, o Capitão Aviador Lopes anunciou que, por determinação do Senhor Comandante do GOP-BR, novo procedimento relativo à apresentação de dispensas médicas por Cabos e Soldados que prestam serviço nas atividades gerenciadas pela BABR seriam adotados.
“A partir de amanhã, todas as dispensas médicas deverão ser entregues diretamente a mim. Com o intuito de aprimorar o acompanhamento das condições de saúde e agilizar os atendimentos médicos, os militares dispensados deverão permanecer nas instalações do alojamento do GSD-BR durante todo o período de vigência da dispensa”, sinalizou.
Apesar do comunicado declarar que a medida é uma forma de assegurar o cumprimento das orientações médicas e facilitar o monitoramento diário da evolução do quadro clínico do doente, o denunciante reiterou à coluna que a nova regra foi implementada como forma de punição.
“Para eles é normal. Em qualquer força, soldado é como se fosse escravo”, disse o denunciante.
O outro lado
Procurada pela coluna, a Força Aérea Brasileira (FAB) respondeu que “a diretriz mencionada na reportagem visa assegurar que os militares designados para o cumprimento de serviço de escala de 24 horas, que porventura apresentem atestados médicos referentes ao período em que deveriam estar de serviço, recebam a devida atenção durante o tempo de dispensa.
Em contrapartida do que foi apontado por quem fez as denúncias, a força assegurou que não se trata de medida punitiva ou de restrição de direitos, mas sim de uma “ação preventiva e administrativa, de acordo com os princípios da legalidade, da dignidade do militar e da gestão responsável da tropa.”
“A FAB reitera seu compromisso com a valorização da saúde física e mental de seus integrantes, com o cumprimento das normativas institucionais e com a transparência de seus atos administrativos.”
What's Your Reaction?






