Dólar sobe e Bolsa tomba com direita frustrada após pesquisa eleitoral
Moeda americana registrou alta de 0,73% sobre o real, cotada a R$ 5,46. Às 17h30, o Ibovespa afundava 2,14%, aos 158.996,51 pontos
O dólar registrou alta de 0,73% frente ao real, cotado a R$ 5,46, nesta terça-feira (16/12). Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), desabou no pregão. Às 16h50, ele caía 1,78%, aos 159.596,10 pontos.
No Brasil, o principal vetor dos mercados de câmbio e de capitais foi uma pesquisa eleitoral da Genial/Quaest, divulgada nesta terça-feira. Ela frustrou as expectativas dos investidores, mostrando um baixo potencial dos candidatos de direita e centro-direita à eleição presidencial de 2026.
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De acordo com o levantamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotaria o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nos dois turnos da eleição. Lula, por exemplo, teria 6% das intenções de voto contra 36% de Flávio num eventual segundo turno.
Emprego nos EUA
No quadro internacional, porém, dados divulgados no relatório sobre empregos elaborado pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, conhecido pelo mercado como “payroll”, trouxeram informações mistas sobre o mercado de trabalho do país. Ainda assim, mantiveram a expectativa de novos cortes de juros no país.
O payroll mostrou que foram criadas 64 mil vagas de trabalho em novembro, sem contar com o setor agrícola. O número ficou acima da estimativa do mercado, que previa a abertura de 45 mil postos. Ou seja, sob esse ponto de vista, a economia mostrou-se mais forte do que o esperado.
Em contrapartida, a taxa de desemprego no país subiu de 4,4%, em setembro, para 4,6% em novembro. Além disso, o salário médio por hora trabalhada ficou em US$ 36,86 em novembro, numa alta de 0,1% em base mensal, mas abaixo da previsão dos agentes econômicos, que previa uma elevação de 0,3%.
Ata do Copom
O mercado também acompanhou a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), realizada na quarta-feira (10/12). Na ocasião, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros do país, Selic, no patamar de 15% ao ano, o mais alto desde 2006.
Para analistas, a ata reafirmou o tom duro que vem sendo adotado nos últimos comunicados do Copom, reduzindo o espaço para a realização de cortes da Selic a partir de janeiro. Em nota, a Warren Investimentos, por exemplo, considerou que, agora, o início da flexibilização dos juros no Brasil tornou-se mais provável só a partir do fim do primeiro trimestre de 2026.
Aversão ao risco
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, considera que dólar se fortaleceu frente ao real num “movimento de busca por proteção diante do aumento da aversão a risco doméstica, refletindo a elevação do prêmio de risco político”.
“A reação dos mercados ocorreu após a divulgação das pesquisas eleitorais, que reforçaram a liderança do candidato do governo e evidenciaram a fragmentação da oposição em torno de um nome competitivo para o pleito de 2026”, diz.
Ele acrescenta que o quadro no Brasil foi agravado por mais um dia de queda das commodities, especialmente do petróleo. “Ele contrastou com um ambiente externo mais benigno, marcado pela fraqueza do dólar global e pelo recuo dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, fazendo o real se destacar negativamente”, afirma.
Corte de juros
Para André Valério, economista sênior do Inter, no cenário externo, as notícias renovaram as expectativa de continuidade de cortes na taxa de juros americana, mas o real não conseguiu “surfar a onda global”. “Com o cenário eleitoral deixando os investidores locais mais receosos em relação ao fiscal, ao mesmo tempo que a ata da última reunião do Copom indica um comitê ainda relutante em iniciar o ciclo de cortes da Selic. Com isso, vemos o real se destacando negativamente em dia de desvalorização global do dólar e de queda nos juros dos títulos públicos americanos”, diz.
Valério observa que o dado de emprego da economia americana mostrou que a decisão de corte de juros em dezembro nos EUA foi adequada, com a taxa de desemprego alcançando o maior valor desde setembro de 2021, aumentando as chances de nova redução em janeiro.
“Em tese, tal perspectiva deveria ser positiva para o real, pois abre espaço para cortes na Selic sem gerar pressão adicional no câmbio”, afirma. “Entretanto, a ata do Copom divulgada na manhã de hoje não deu nenhuma sinalização clara de que o Comitê esteja considerando reduzir a Selic em janeiro.”
Temores fiscais
Na avaliação do analista, no entanto, o “principal fator que impediu o real de colher os frutos da desvalorização do dólar foi a divulgação de nova pesquisa eleitoral”, a primeira que inclui Flávio Bolsonaro como candidato e sugeriu um cenário mais favorável à reeleição do presidente Lula. “Com isso, os temores fiscais pesaram sobre os ativos locais, desvalorizando o real, enquanto a Bolsa cai e a curva de juros deteriora”, diz.
Para ele, ainda assim, o cenário é de “relativa estabilidade”. “Esperamos que o câmbio convirja ao redor de R$5,40 até o fim do ano e mantemos expectativa de que o Copom corte a Selic em janeiro, tendo em vista o cenário de deterioração da atividade econômica e de desinflação, com a perspectiva de surpresas baixistas no IPCA nas próximas leituras”, diz.
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