“Dores do processo democrático são bem-vindas”, diz Galípolo sobre IOF

Gabriel Galípolo também falou sobre revisão da estimativa do BC para o crescimento do PIB e reiterou compromisso em cumprir meta de inflação

Jun 26, 2025 - 13:00
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“Dores do processo democrático são bem-vindas”, diz Galípolo sobre IOF

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, minimizou nesta quinta-feira (26/6) a derrota histórica do governo federal no Congresso Nacional na véspera, com a derrubada do decreto que reajustava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Na noite de quarta-feira (25/6), a Câmara dos Deputados aprovou a revogação com 383 votos favoráveis e 93 contrários. Horas depois, o Senado confirmou a anulação, em votação simbólica. Foi a primeira vez em mais de três décadas que deputados e senadores rejeitam formalmente uma medida presidencial desse tipo.

A última vez que isso ocorreu foi em 1992, no governo Fernando Collor de Mello. À época, o Congresso derrubou um decreto que alterava regras para o pagamento de precatórios, meses antes de a Câmara abrir o processo de impeachment contra o então presidente.

Em entrevista coletiva sobre o Relatório de Política Monetária do BC, em Brasília, Galípolo disse que a votação no Congresso Nacional é um fato próprio do regime democrático e deve ser encarada com naturalidade.

“Está ocorrendo uma discussão sobre esse tema: como ter medidas estruturantes para permitir uma sustentabilidade da evolução da dívida pública”, disse o presidente do BC. “Muitas vezes esse debate acontece com avanços e bloqueios, não de forma linear. Mas isso é próprio do processo democrático. Eu prefiro o processo democrático do que qualquer outra alternativa. Essas dores do processo democrático me parecem ser bem-vindas.”

Segundo Galípolo, apesar das tensões entre Executivo e Legislativo, o papel do BC é “consumir essas informações e fazer o seu trabalho, que é a persecução da meta [de inflação], como a gente vem fazendo”.

O chefe da autoridade monetária também elogiou os presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) – de quem foi secretário-executivo na pasta, no início do governo Lula.

“Em todas as oportunidades que eu tive de interlocução, seja com o presidente Lula, o ministro Haddad, o presidente Hugo e o presidente Davi, sempre encontrei uma disposição muito grande para que se possa construir propostas que respondam a essas questões estruturais”, afirmou Galípolo.

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Compromisso em cumprir a meta de inflação

Durante a entrevista coletiva, Gabriel Galípolo reiterou o compromisso do BC com o cumprimento da meta de inflação.

Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%.

“Existem vários caminhos para conseguirmos atingir o centro da meta. Estamos absolutamente comprometidos com a meta e nossas ações falam por si só, pelo tamanho da intensidade que tivemos do ajuste restritivo da política monetária nos últimos meses”, assegurou o chefe do BC.

“Os efeitos [da política monetária] ainda estão por vir e não foram totalmente sentidos ainda. É uma observação factual, dadas as defasagens da política monetária. É isso que justifica essa pausa que a gente fez para verificar se o patamar da política monetária está suficientemente restritivo”, prosseguiu Galípolo.

“Estou absolutamente de acordo, obviamente, com todas as decisões que nós tomamos recentemente em relação à política monetária”, completou Galípolo.

A elevação da taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano, maior nível em quase duas décadas, depois de sete altas consecutivas.

Quando o Copom aumenta os juros, como agora, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

Segundo os dados divulgados mais cedo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial do país, ficou em 0,26% em junho, o que representa um recuo de 0,1 ponto percentual em relação à taxa de maio (0,36%).

No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 foi de 5,27%, desacelerando em relação aos 5,4% de maio.

Também presente à entrevista coletiva, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou que a inflação é “resiliente” e vem “rodando acima da meta”.

“É um nível de inflação alto. Nas diferentes formas que você olha a inflação, está rodando acima da meta. Núcleo de alimentos, bens industriais, núcleo de serviços, núcleo de serviços administrados… de diferentes formas de olhar, eles estão rodando acima de 3%. Está rodando acima do que era esperado há vários meses, em diversos núcleos”, alertou.

Revisão do PIB

Na entrevista coletiva, o presidente do BC também falou a respeito da revisão da estimativa da autoridade monetária sobre o crescimento da economia brasileira em 2025.

A estimativa de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deste ano subiu de 1,9%, conforme apresentado no relatório de março, para 2,1%. No primeiro trimestre, a atividade econômica registrou alta de 1,4%, com destaque para a expansão do agro.

Mesmo com o bom desempenho e uma melhora na projeção do PIB, o BC mantém a perspectiva de desaceleração da atividade econômica ao longo do trimestre corrente e do segundo semestre.

“As revisões têm ocorrido bastante ao longo dos últimos anos. Temos tido por 4 anos consecutivos projeções de crescimento, não só por parte do BC, com surpresas sistemáticas para cima em relação às projeções originais”, observou Galípolo.

“Eu mantenho a posição de que, nos últimos 4 anos, tivemos oscilações de crescimento puxadas por algum ano mais excepcional ou por algo do ponto de vista de consumo. Temos ainda alguma dificuldade de encontrar ganhos de produtividade para além do agro. Mas é claro que há uma série de questões acontecendo na economia. O BC tende a não introduzir mudanças com grande frequência. A resposta do BC tende a ser mais conservadora mesmo”, explicou.

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