Durante a entrevista, apresentador Dan Senor questionou o CEO da IsraAID sobre a o roubo de comida. As cenas são amplamente divulgadas nas redes sociais e geram dúvidas e revolta sobre o que acontece com as provisões que entram pela fronteira.
“O roubo de comida em Gaza não é algo novo, isso sempre aconteceu – mesmo antes da guerra. Há quem saqueie por razões comerciais, há a ‘distribuição espontânea’, de pessoas desesperadas pegando o que precisam, e há, claro, o roubo feito por organizações terroristas. É difícil saber quem é quem. Para nós, como pessoas que lidamos com temas humanitários, é muito complicado resolver essa questão. Mas há possibilidades de soluções”.
Para ele, a grande razão para os saques é a falta de oferta. Por isso, advoga pelo aumento substancial da ajuda.
Ao The Times of Israel, dois palestinos, Mouin Hilu e Anas Arafat, contaram que compram alimentos em mercados locais da Cidade de Gaza que ainda estão funcionando. Mas os preços são bastante altos e voláteis. Hilu disse que a farinha estava custando entre 40 e 50 shekels por quilo (aproximadamente R$ 60 a R$ 80 por quilo), uma queda em relação a 10 dias antes, quando quem conseguia comprar o alimento básico pagava entre 150 e 200 shekels por quilo (aproximadamente R$ 240 a R$ 320 por quilo).
Após ver de perto o que acontece em Gaza, Polizer também desmistificou a questão da ONU: “As pessoas não entendem quanta colaboração há entra Israel, a ONU e ONGs que trabalham nesses locais”, declarou. “Estamos tentando juntar todos os atores, a GHF, a ONU, as ONGs, o Exército, os países do Golfo, países doadores, e precisamos providenciar ajuda de múltiplas fontes, é a única forma de parar essa crise”.
O CEO da IsraAID explicou que, em partes de Gaza, a desnutrição é severa. E para acabar com este problema, não basta que a população receba alimentos simples, como arroz e farinha. Ele defende a distribuição de remédios, mas também de refeições prontas. “As pessoas precisam de vitaminas, proteínas, algo que você só pode providenciar com comida pronta – até porque, muitas vezes, essas pessoas não têm onde cozinhar nas tendas”.
A precariedade é ilustrada pelo relato de Mouin Hilu, pai de 10 filhos e avô de dois netos, que vive na Cidade de Gaza. “Todos os dias, cada membro da família recebe um pão pita para 24 horas. Nos últimos três ou quatro meses, não temos comido direito. Todas as noites, vamos dormir com fome – esperando pela manhã, na esperança de que amanhã talvez haja algo”.
Ao descrever o que vê no território palestino, Polizer declara que “Gaza não se parece com nenhum lugar do mundo”. A explicação é que só ali há tanta população civil nas mesmas áreas em que há combates diretos. Por isso, é tão difícil de resolver a crise humanitária.
Por vezes, é comum ler argumentos em favor da restrição à entrada da ajuda humanitária devido à presença do Hamas, isto é, há quem defenda que impedir o acesso de comida e medicamentos à Faixa de Gaza sufocaria o grupo terrorista. Na entrevista, Yotam Polizer é questionado sobre se há alguma solução para separar Hamas e população civil no momento da distribuição. O israelense é honesto ao responder que não há solução fácil. Que é preciso avaliar os parceiros certos, monitorar aquilo que é enviado para Gaza e otimizar o trabalho, mas sem abrir mão do essencial: acabar com a crise humanitária.
O jornalista Pedro Doria, conselheiro do Instituto Brasil-Israel, vai na mesma linha. Em sua coluna no jornal O Globo, escreveu: “Como diz o jornalista britânico Jonathan Freedland, dane-se. Se a alternativa é a fome de pessoas, não há escolha real. Além do que seria simples resolver o problema. Basta botar dentro de Gaza muito mais comida do que é necessário. Oferta e demanda. Se há oferta demais, não há demanda. Sem demanda, o Hamas não transforma comida em instrumento de poder”.
A estratégia escolhida por Israel, ao limitar a entrada de ajuda humanitária ao longo do ano, foi nociva para os palestinos, para os reféns israelenses e para a imagem do país, além de não ter trazido os resultados esperados. Hoje, a comunidade internacional pressiona Israel para solucionar a crise. E esse cenário de isolamento permite que o Hamas aumente ainda mais as suas exigências nas negociações. Não há outra opção: é preciso acabar com a fome em Gaza. Imediatamente.