É preciso acabar com a fome em Gaza

Editorial do Instituto Brasil Israel A estratégia de Israel, ao limitar a entrada de ajuda humanitária em Gaza, foi nociva para os palestinos, para os reféns israelenses e para a imagem do país. (Foto: Anas-Mohammed / Shutterstock.com) Cara leitora, Caro leitor, Yotam Polizer, CEO da IsraAID, organização não governamental israelense de ajuda humanitária, contou pela primeira […]

Agosto 10, 2025 - 11:30
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É preciso acabar com a fome em Gaza

Editorial do Instituto Brasil Israel

A estratégia de Israel, ao limitar a entrada de ajuda humanitária em Gaza, foi nociva para os palestinos, para os reféns israelenses e para a imagem do país. (Foto: Anas-Mohammed / Shutterstock.com)
Cara leitora,
Caro leitor,

Yotam Polizer, CEO da IsraAID, organização não governamental israelense de ajuda humanitária, contou pela primeira vez o que tem visto e vivido dentro da Faixa de Gaza. O relato foi feito em entrevista ao podcast “Call Me Back”, de Dan Senor.

Embora exista desde 2001, a ONG não trabalhava nem em Israel, nem nos territórios palestinos. Após o atentado do Hamas, em 7 de outubro de 2023, se viu obrigada a mudar de estratégia, dada a urgência da situação.

Hoje, a IsraAID funciona como um hub de ajuda humanitária. Se alguém quer doar remédios para Gaza, por exemplo, a instituição compra esses remédios em Israel e, de forma coordenada com o exército, faz isso chegar até o território palestino.

“Há muita desumanização nessa crise, de todos os lados. (…) Precisamos focar nos mais vulneráveis. E podemos fazer muito mais”, declarou Polizer.

Em uma guerra, a desumanização está por todos os lados. Aparece na negação da fome que assola os palestinos e também na vista grossa feita para a situação dos reféns israelenses, em poder do Hamas.

Polizer afirma que o trabalho da IsraAID tenta fugir da politização e foca na ajuda humanitária acima de qualquer outra questão. A atuação da ONG em Gaza se intensificou durante o cessar-fogo de janeiro a março de 2025. Naquele momento, uma das exigências do Hamas em troca da libertação de alguns reféns era a entrada de 600 caminhões por dia com comida e medicamentos.

“Os 600 caminhões que entravam diariamente foram fruto de um trabalho da comunidade humanitária, as pessoas trabalhavam 28 horas por dia para fazer acontecer. E todo sábado, víamos nossos reféns saindo, o que era um alívio. E víamos, também, em Gaza, muitas pessoas desesperadas pegando comida. Naquele momento, Gaza foi inundada por comida”, lembra.

No entanto, após 42 dias, a situação mudou. O cessar-fogo foi interrompido e nada entrou até maio. “A maioria das pessoas em Gaza moram em tendas. Eles não estocaram comida. Estou falando do palestino médio, eles não sabiam que a guerra voltaria e não guardaram nada”.

Foi neste momento que a condição dos moradores de Gaza se agravou intensamente. A tragédia humanitária afetou palestinos e, também, os reféns israelenses. As imagens divulgadas de Rom Braslavski e Evyatar David revelam que os sequestrados ainda vivos passam por uma privação severa de comida.

Para tentar mitigar a fome no território palestino, Israel voltou a permitir a entrada de ajuda humanitária e aprovou a atuação da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), organização privada norte-americana, para fazer a distribuição. Inicialmente, o objetivo da GHF era distribuir os mantimentos aos civis, impedindo que chegassem ao Hamas. Yotam Polizer admite, no entanto, que esse sistema não tem sido nem eficaz, nem seguro.

“Quando a GHF abriu seus postos de distribuição, vimos o nível de desespero das pessoas. (…) Está claro que o sistema não está funcionando como deveria”. Ele lamenta que tantos civis palestinos estejam perdendo a vida enquanto tentam conseguir comida.

Durante a entrevista, apresentador Dan Senor questionou o CEO da IsraAID sobre a o roubo de comida. As cenas são amplamente divulgadas nas redes sociais e geram dúvidas e revolta sobre o que acontece com as provisões que entram pela fronteira.

“O roubo de comida em Gaza não é algo novo, isso sempre aconteceu – mesmo antes da guerra. Há quem saqueie por razões comerciais, há a ‘distribuição espontânea’, de pessoas desesperadas pegando o que precisam, e há, claro, o roubo feito por organizações terroristas. É difícil saber quem é quem. Para nós, como pessoas que lidamos com temas humanitários, é muito complicado resolver essa questão. Mas há possibilidades de soluções”.

Para ele, a grande razão para os saques é a falta de oferta. Por isso, advoga pelo aumento substancial da ajuda.

Ao The Times of Israel, dois palestinos, Mouin Hilu Anas Arafat, contaram que compram alimentos em mercados locais da Cidade de Gaza que ainda estão funcionando. Mas os preços são bastante altos e voláteis. Hilu disse que a farinha estava custando entre 40 e 50 shekels por quilo (aproximadamente R$ 60 a R$ 80 por quilo), uma queda em relação a 10 dias antes, quando quem conseguia comprar o alimento básico pagava entre 150 e 200 shekels por quilo (aproximadamente R$ 240 a R$ 320 por quilo).

Após ver de perto o que acontece em Gaza, Polizer também desmistificou a questão da ONU: “As pessoas não entendem quanta colaboração há entra Israel, a ONU e ONGs que trabalham nesses locais”, declarou. “Estamos tentando juntar todos os atores, a GHF, a ONU, as ONGs, o Exército, os países do Golfo, países doadores, e precisamos providenciar ajuda de múltiplas fontes, é a única forma de parar essa crise”.

O CEO da IsraAID explicou que, em partes de Gaza, a desnutrição é severa. E para acabar com este problema, não basta que a população receba alimentos simples, como arroz e farinha. Ele defende a distribuição de remédios, mas também de refeições prontas. “As pessoas precisam de vitaminas, proteínas, algo que você só pode providenciar com comida pronta – até porque, muitas vezes, essas pessoas não têm onde cozinhar nas tendas”.

A precariedade é ilustrada pelo relato de Mouin Hilu, pai de 10 filhos e avô de dois netos, que vive na Cidade de Gaza. “Todos os dias, cada membro da família recebe um pão pita para 24 horas. Nos últimos três ou quatro meses, não temos comido direito. Todas as noites, vamos dormir com fome – esperando pela manhã, na esperança de que amanhã talvez haja algo”.

Ao descrever o que vê no território palestino, Polizer declara que “Gaza não se parece com nenhum lugar do mundo”. A explicação é que só ali há tanta população civil nas mesmas áreas em que há combates diretos. Por isso, é tão difícil de resolver a crise humanitária.

Por vezes, é comum ler argumentos em favor da restrição à entrada da ajuda humanitária devido à presença do Hamas, isto é, há quem defenda que impedir o acesso de comida e medicamentos à Faixa de Gaza sufocaria o grupo terrorista. Na entrevista, Yotam Polizer é questionado sobre se há alguma solução para separar Hamas e população civil no momento da distribuição. O israelense é honesto ao responder que não há solução fácil. Que é preciso avaliar os parceiros certos, monitorar aquilo que é enviado para Gaza e otimizar o trabalho, mas sem abrir mão do essencial: acabar com a crise humanitária.

O jornalista Pedro Doria, conselheiro do Instituto Brasil-Israel, vai na mesma linha. Em sua coluna no jornal O Globo, escreveu: “Como diz o jornalista britânico Jonathan Freedland, dane-se. Se a alternativa é a fome de pessoas, não há escolha real. Além do que seria simples resolver o problema. Basta botar dentro de Gaza muito mais comida do que é necessário. Oferta e demanda. Se há oferta demais, não há demanda. Sem demanda, o Hamas não transforma comida em instrumento de poder”.

A estratégia escolhida por Israel, ao limitar a entrada de ajuda humanitária ao longo do ano, foi nociva para os palestinos, para os reféns israelenses e para a imagem do país, além de não ter trazido os resultados esperados. Hoje, a comunidade internacional pressiona Israel para solucionar a crise. E esse cenário de isolamento permite que o Hamas aumente ainda mais as suas exigências nas negociações. Não há outra opção: é preciso acabar com a fome em Gaza. Imediatamente.

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