Empresário ligado ao PCC, Beto Louco deu Mounjaro a Alcolumbre em 2024

À época, a caneta de Mounjaro não era liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializada no Brasil

Dezembro 5, 2025 - 11:00
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Empresário ligado ao PCC, Beto Louco deu Mounjaro a Alcolumbre em 2024

Uma caneta de Mounjaro como presente seria a prova da proximidade do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, com o empresário Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, foragido da Justiça e investigado pela Polícia Federal por suspeita de estar à frente de um esquema de lavagem de dinheiro na área de combustíveis – ele foi alvo das operações Carbono Oculto, Tank e Quasar.

Uma das suspeitas contra Beto Louco é a ligação de postos de gasolina investigados com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Mensagens trocadas em 2024 entre Beto Louco e um motorista particular em Brasília, às quais o portal UOL teve acesso, revelam a proximidade e a entrega a Alcolumbre da caneta de Mounjaro, à época ainda sem liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializada no Brasil.

A promessa do presente teria sido feita durante uma festa de aniversário de 49 anos de Antonio Rueda, presidente do União Brasil, sigla à qual pertence o senador. O almoço oferecido por Rueda teve entre seus convidados Alcolumbre e Beto Louco.

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O presidente do Senado teria se lamentado com os outros convidados de Rueda sobre a dificuldade de se conseguir o Mounjaro, que só viria a ser liberado no Brasil em junho de 2025. O mercado paralelo, com ramificações no exterior, seria o caminho para se obter a caneta, que, naquele mês de agosto de 2024, demandava cerca de R$ 15 mil para um mês de uso.

Beto Louco teria, então, se oferecido para ajudar. Uma mulher, de nome Franciele, que viajava frequenteente para Dubai, nos Emirados Árabes, poderia trazer a caneta para o país. O empresário prometeu a Alcolumbre arrumar canetas com esse contato e entregá-las rapidamente em Brasília. O motorista particular, cujo nome não foi revelado pelo UOL, seria o intermediário. Ele pegaria o “medicamento” que chegaria em Brasília com uma pessoa em um voo comercial.

Missão concluída com sucesso. O motorista encaminhou para Beto Louco uma mensagem recebida de Janduí Nunes Bezerra Filho, então motorista pessoal de Alcolumbre e atual auxiliar parlamentar sênior em seu gabinete, com salário bruto de R$ 14,5 mil.

“Fala pra ele que tá entregue, tá tudo ok. O senador já tá até sabendo, já falei com ele aqui. Dei um jeito de falar com ele aqui que recebi, já tá entregue”, disse Janduí.

“Negócios” do PCC no setor de combustíveis

O negócio sujo do Primeiro Comando da Capital (PCC), que movimentou bilhões no setor de combustíveis, tinha dois rostos centrais: Mohamad Hussein Mourad, conhecido como “Primo” ou “João”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”.

Alvos da megaoperação Carbono Oculto, deflagrada em agosto deste ano em oito estados, eles são apontados como os principais operadores de uma engrenagem criminosa que atravessava toda a cadeia produtiva, das usinas às bombas dos postos de gasolina.

Mourad, que se apresentava nas redes como CEO da G8LOG e consultor do grupo Copape, vendia a imagem de empresário disciplinado, dedicado ao trabalho e aos “resultados sólidos”. Nos bastidores, segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP), era ele o epicentro da rede bilionária de fraudes fiscais e lavagem de dinheiro do PCC.

Em 2020, Mourad comprou a Copape (formuladora de gasolina) e a Aster Petróleo (distribuidora), por R$ 52 milhões. Essas empresas foram instrumentalizadas para gerar créditos tributários falsos, inflar preços em transações internas e lavar dinheiro do crime.

O grupo também usava a Terra Nova Trading, com sede em Tocantins, para importar nafta com imposto reduzido (1%, contra 25% em São Paulo), barateando ilegalmente a produção de combustíveis. O resultado da operação garantia margens milionárias e prejuízo bilionário aos cofres públicos.

“Beto Louco”

Se Mourad era o cérebro, Beto Louco era o gestor da engrenagem, segundo o MPSP. Ele coordenava as fraudes contábeis e a movimentação financeira, operando fundos de investimento e empresas de participações usadas para blindar o patrimônio da organização criminosa.

Enquanto Mourad centralizava a compra de usinas, postos e distribuidoras, Beto Louco era o responsável por manter o esquema invisível, criando camadas societárias complexas que dificultavam a identificação dos verdadeiros beneficiários, um método inspirado em offshores e shell companies.

Do posto de esquina ao mercado financeiro

As investigações mostram que o grupo controlava mais de 300 postos de combustíveis envolvidos em adulteração, fraude em bombas e sonegação. A Secretaria da Fazenda de São Paulo já aplicou multas superiores a R$ 2 bilhões apenas à Copape.

O esquema também avançou para o mercado financeiro. Pelo menos 40 fundos de investimento, avaliados em R$ 30 bilhões, foram identificados pela Receita Federal como veículos de lavagem de dinheiro do PCC. Muitos estavam sediados na Avenida Faria Lima, em São Paulo, com operadores infiltrados no coração do mercado de capitais.

As autoridades estimam que o grupo tenha sonegado R$ 7,6 bilhões em impostos. As investigações seguem para mapear todo o patrimônio oculto e identificar a extensão da rede que financiava a facção criminosa.

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