Especialista em China foi alvo de bolsonarista após ser monitorado pela Abin

Professor especialista na relação Brasil/China foi alvo da Abin Paralela e, em seguida, atacado por jornalista bolsonarista foragido

Jun 21, 2025 - 04:00
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Especialista em China foi alvo de bolsonarista após ser monitorado pela Abin

O professor de direito internacional Evandro Menezes de Carvalho, especialista na relação Brasil/China, foi alvo de ataques de bolsonaristas a partir da disseminação de notícias falsas após ter sido monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Evandro Carvalho aparece no relatório final da Polícia Federal (PF) como uma das pessoas que foram monitoradas pela Abin com o uso do software espião FirstMile.

De acordo com a PF, agentes da Abin fizeram consultas no FirstMile sobre o nome do professor entre 2019 e maio de 2020, todas atreladas às operações Madrugada, Moshu e Moshu1.

Meses após o fim das consultas, em agosto de 2020, o jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio publicou em seu canal do Youtube um conteúdo em que apontava Evandro Carvalho como um suposto espião chinês.

O conteúdo, disseminado pela rede bolsonarista, serviu para que o professor fosse atacado. Ex-Abin Alexandre Ramagem entrevista. Brasília -MetrópolesO ex-diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem

O uso de informações coletadas pela estrutura da chamada Abin Paralela para atacar adversários e disseminar desinformação foi um dos alvos da investigação da Polícia Federal. De acordo com a apuração, pessoas lotadas na Abin repassavam informações ao núcleo político da organização criminosa investigada.

Esse material, posteriormente, era disseminado por assessores e servidores lotados na Presidência da República “que atuavam como vetores primários da produção e propagação de desinformação, recebendo dossiês, repassando informações e facilitando o acesso e a difusão do material produzido” pela organização criminosa.

No caso de Evandro Carvalho, o jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio, divulgou em seu canal que órgãos americanos como o FBI e CIA teriam procurado autoridades brasileiras para investigar o professor por causa de sua suposta atuação em defesa de interesses chineses.

O jornalista bolsonarista afirmava que Evandro Carvalho teria sido o responsável por apresentar o ex-presidente Michel Temer à cúpula do governo chinês.

Professor

A coluna falou com o professor Evandro Carvalho na sexta-feira (20). Carvalho diz que já associava o ataque de Oswaldo Eustáquio ao governo Bolsonaro, uma vez que ele era próximo do chamado “Gabinete do Ódio”.

“Isso mostra o grau de periculosidade de uma operação clandestina da Abin motivada por critérios políticos e ideológicos. E a gravidade dessa violação é que ela se insere no contexto de violência do estado brasileiro naquele momento governo pelo Bolsonaro e pelo grupo dele”, disse o professor.

“O problema não era Oswaldo Eustáquio naquele momento, era quem pediu para ele fazer aquilo. Essa era minha dúvida, que ainda permanece”, completa.

Para o professor, os ataques sofridos por ele e o monitoramento da Abin indicam, na verdade, uma cortina de fumaça para “mascarar algo que poderia estar acontecendo”.

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“Não sei dizer, mas poderia ter outras pessoas, com outros objetivos e outros interesses escusos e financeiros. Mas é uma situação bizarra, porque eu teria que ser uma pessoa que estivesse em Brasília, pessoa que estivesse com cargos importantes na República. Mas nunca fui filiado a partido. É uma situação que ainda hoje me questiono qual o interesse por trás disso”, afirma.

O professor diz que analisa acionar a União na Justiça, mas diz que ainda vai amadurecer a ideia.

Para ele, a investigação conduzida pela PF, caso resolva avançar, poderá explicar os reais motivos do seu monitoramento e quem estaria por trás disso. Carvalho afirma ainda que sofreu muitos ataques desde o monitoramento da Abin, inclusive com ameaças de morte. Nesse cenário de ataques, ele diz que o relatório da PF é ótimo, o deixa muito indignado, mas não se trata de uma surpresa.

“O que me deixa mais indignado, é que aqueles que estão agindo contra o interesse nacional, estão saindo impunes, estão se beneficiando com a relação com a China como se estivessem construindo a relação Brasil/China”, afirma.

O professor lembra que, embora a China esteja atrelada à esquerda no imaginário popular, a relação com o Brasil é muito baseada no viés comercial. Por isso, afirma, é a direita que tem excelente relação com a China e não a esquerda.

“É uma tremenda de uma covardia, não faço ideia como as pessoas que se beneficiam disso, como elas vão ser punidas. Isso é uma coisa que se o estado brasileiro é sério, terá que lidar com isso, fazer uma investigação séria”, conclui.

Oswaldo Eustáquio

Procurado pela coluna, o jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio confirmou ter veiculado as informações sobre o professor Evandro Carvalho.

As informações utilizadas, segundo ele, não têm origem na Abin, mas na Polícia Federal. Estáquio afirma ter sido procurado por integrantes da PF, em 2020, que teriam mostrado a ele documentos em que a CIA e o FBI solicitavam ajuda para investigar a atuação do professor como um defensor dos interesses da China no Brasil.

“Como a PF estava, na época, sob gestão do Sergio Moro, com pessoas que ele havia nomeado, o diretor não quis fazer nada em relação ao pedido do FBI e da CIA. E então alguns agentes se indignaram com isso e resolver vazar. Eles me chamaram, mostram o documento, deixaram eu fazer anotações e publicar”, afirmou.

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