Estudo de troncos de árvores da Amazônia revela mudanças nas chuvas

Anéis de crescimento de árvores na Amazônia indicam estações chuvosas mais intensas e secas mais severas desde 1980, segundo pesquisa

Jun 18, 2025 - 14:30
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Estudo de troncos de árvores da Amazônia revela mudanças nas chuvas

A Amazônia está passando por mudanças profundas e perigosas em seu ciclo hidrológico. É o que revela um estudo que analisou as variações do átomos de oxigênio presentes nos anéis de crescimento de árvores da região. A pesquisa cobre o período entre 1980 e 2010.

As árvores crescem de forma circular, criando anéis em seus caules. Ao extrair amostras destes anéis, é possível observar, nos mais centrais, a quais condições a planta foi exposta dezenas ou até centenas de anos antes.

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Com base neste princípio, cientistas das Universidades de Leeds e de Leicester, na Inglaterra, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no Brasil, observaram que as chuvas estão aparecendo apenas nas estações chuvosas, quando se tornam demasiado intensas. Ao mesmo tempo, as estações secas se tornaram mais intensas e duras.

Os dados foram obtidos a partir de amostras de duas espécies: Cedrela odorata, que cresce em áreas de terra firme, e Macrolobium acaciifolium, comum em áreas alagadas.

Chuvas mais intensas e secas prolongadas

A análise demonstrou aumento de 15% a 22% na precipitação durante o período de chuvas. Já na estação seca, foi detectada redução entre 8% e 13% ao longo dos 30 anos observados. Isso confirma uma intensificação da sazonalidade climática na região.

A equipe utilizou o modelo de destilação de Rayleigh para interpretar os dados. O método permite estimar como a umidade atmosférica varia ao longo do trajeto da chuva, com base em alterações nos isótopos de oxigênio.

Esses resultados foram publicados na revista Communications Earth and Environment, na terça-feira (17/6). A abordagem traz uma nova forma de observar mudanças climáticas, mesmo em áreas com escassez de dados meteorológicos. Imagem colorida da Amazônia. COP29 - MetrópolesMudanças climáticas estão alterando o regime de chuvas na Amazônia e tornando as secas mais severas

Riscos para ecossistemas e populações

“Nossa pesquisa demonstra que o ciclo hidrológico da Amazônia está se tornando mais extremo. O aumento das chuvas na estação chuvosa pode levar a inundações mais frequentes e severas, enquanto a redução das chuvas na estação seca agrava as condições, impactando a saúde da floresta e a biodiversidade”, diz o professor Roel Brienen, da Universidade de Leeds.

Isso afeta diretamente a saúde da floresta. O estudo indica que as mudanças podem ser explicadas por variações na temperatura dos oceanos Atlântico e Pacífico. Esses fatores influenciam os ventos e a formação das chuvas na América do Sul tropical.

Dados revelam oscilações sazonais extremas

A floresta amazônica tem papel essencial na regulação do clima mundial. Atua como sumidouro de carbono e influencia a circulação atmosférica. Alterações no regime de chuvas podem comprometer essa função e afetar o clima globalmente.

O uso dos anéis de árvores como registros naturais permite reconstruir padrões sazonais em regiões onde os dados meteorológicos são escassos. A formação dos anéis ocorre em resposta direta às condições de umidade e crescimento.

Nas várzeas, o alagamento interrompe o crescimento. Já nas áreas de terra firme, o crescimento é restrito à estação chuvosa. A diferença nos ciclos de crescimento permite identificar com precisão as mudanças climáticas sazonais.

Impacto nos modos de vida amazônicos

O biólogo Jochen Schöngart, do INPA, alerta que a intensificação do ciclo hídrico representa risco para populações indígenas e ribeirinhas que dependem da regularidade climática.

“Isso é de grande preocupação, visto que a intensificação do ciclo hidrológico impacta o funcionamento dos ecossistemas, a segurança hídrica e alimentar de milhões de povos tradicionais e indígenas. São necessárias ações urgentes para mitigar as mudanças climáticas e, simultaneamente, adaptar os meios de subsistência e a gestão tradicional das populações”, afirma Schöngart.

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