Joyce Moura: Mais deputados, menos dignidade?

O Brasil ainda tem gente passando fome, esperando meses por uma cirurgia simples, estudando em escolas sem estrutura. E, diante dessa realidade gritante, a prioridade de quem está no poder é… aumentar o número de deputados? Enquanto o prato de muitos brasileiros continua vazio, o Congresso Nacional se prepara para ampliar sua própria estrutura. A proposta de aumento no número de deputados surge como uma afronta ao bom senso e à dor cotidiana de milhões que lutam para ter o mínimo.

Hoje, já temos 513 parlamentares na Câmara Federal — um número mais do que suficiente para promover mudanças reais na vida das pessoas. Mas não para por aí: alguns estados também estão ampliando o número de deputados estaduais, aumentando o peso da máquina pública sem oferecer nenhum retorno concreto à população.

Como justificar que um país que ainda tem gente morando debaixo de lona, esperando meses por uma consulta médica ou estudando em escolas sem estrutura, precise de mais parlamentares? Como explicar para a mãe que perdeu o filho por falta de atendimento que a prioridade do poder público é garantir mais cadeiras no Parlamento?

A pergunta que não quer calar: esse aumento vai melhorar a vida de quem? Vai trazer mais saúde, educação, segurança, dignidade? Ou só mais salários, mais cargos comissionados, mais gastos públicos para manter privilégios?

A política deveria ser o caminho da transformação, não da manutenção de privilégios. Aumentar o número de deputados, neste cenário, é ampliar o abismo entre quem governa e quem é governado. É ignorar o grito silencioso de quem sofre, todos os dias, com a ausência do Estado onde ele mais deveria estar presente: na vida real das pessoas.

Não é a quantidade de deputados que falta. É vontade política. É compromisso com o povo. É ação concreta.

Antes de aprovar mais cadeiras no Parlamento, seria bom olhar ao redor e ver quantas cadeiras vazias existem nas escolas, nos hospitais, nas mesas das famílias brasileiras.

Antes de mais políticos, o Brasil precisa de mais humanidade.

Por Joyce Moura – jornalista

@joycemourarealize