LAÍRE ROSADO a Metamorfose das oligarquias (1)
A política brasileira, desde seus primórdios republicanos, carrega uma marca indelével: a dificuldade em extirpar as oligarquias. Historicamente ancoradas no que se chamou de “Coronelismo” e na “Política dos Governadores” da República Velha, essas estruturas de poder baseadas em clãs, famílias e redes de influência parecem não ser eliminadas, mas sim metamorfoseadas e substituídas. […]

A política brasileira, desde seus primórdios republicanos, carrega uma marca indelével: a dificuldade em extirpar as oligarquias. Historicamente ancoradas no que se chamou de “Coronelismo” e na “Política dos Governadores” da República Velha, essas estruturas de poder baseadas em clãs, famílias e redes de influência parecem não ser eliminadas, mas sim metamorfoseadas e substituídas. O discurso da “nova política” ou da luta contra as “velhas oligarquias” muitas vezes se revela um mero estágio transitório para o estabelecimento de um novo arranjo familiar ou de um novo grupo fechado no poder. O fenômeno observado em municípios como Mossoró e Natal, no Rio Grande do Norte, serve como um microcosmo eloquente dessa dinâmica.
Repete-se na política, o que acontece na vida privada, onde é comum os filhos darem continuidade às atividades empresariais ou mesmo profissionais dos seus pais. É um exemplo que demonstra a admiração pelos seus familiares. Na vida pública, entretanto, costuma-se criticar esse comportamento.
O termo “oligarquia” remete ao governo de um pequeno grupo que se perpetua no poder através de mecanismos como o clientelismo, o uso privado de recursos públicos e, notavelmente, a formação de dinastias políticas. O desafio reside no fato de que, mesmo quando um líder se elege com uma plataforma de ruptura e combate a esses grupos tradicionais, a própria lógica do sistema político brasileiro, pautada no presidencialismo de coalizão, no personalismo e na fragilidade partidária, o impele a replicar práticas oligárquicas para garantir a governabilidade e a continuidade de seu próprio grupo.
O caso do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra é um exemplo atual dessa realidade. Na campanha, apresentou discurso “anti-oligarquia”, mas, já na reeleição, indicou um primo para a vice-prefeitura e comunicou que a esposa será candidata a deputada estadual. É um exemplo clássico dessa reprodução. A retórica da renovação se choca com a prática da sucessão familiar, onde o sobrenome e a proximidade com o centro do poder se tornam o “capital político” transferível. A “nova política” não rompe com a essência oligárquica; ela apenas a “reinaugura” com novos protagonistas e discursos.
O exemplo do prefeito de Mossoró não é exceção. É uma prática que se repete com naturalidade em todo mundo democrático. No Rio Grande do Norte, o primeiro governador eleito pelo voto popular, direto, em 1895, foi Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Quando terminou seu mandato, em 1900 elegeu o irmão, Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão como seu sucessor.
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