Macron busca legado internacional ao reconhecer Estado palestino
Emmanuel Macron deve anunciar nesta segunda-feira (22/9) o reconhecimento oficial do Estado da Palestina em discurso histórico em Nova York

A iniciativa franco-saudita, prevista para ocorrer durante conferência paralela à Assembleia Geral da ONU, prevê não apenas o reconhecimento do Estado palestino, mas também a exclusão do Hamas de qualquer futuro governo. Os participantes também falarão sobre a preparação para o pós-guerra em Gaza — com cessar-fogo, libertação de reféns israelenses e eleições palestinas.
No Palácio do Eliseu, o entorno de Macron exalta sua liderança e rejeita críticas de que a medida seria precipitada, especialmente diante do fato de que reféns israelenses capturados em 7 de outubro ainda estão sob controle do Hamas — cuja desmobilização era, até então, uma condição para qualquer avanço.
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Antes de subir à tribuna da ONU, Macron planejou uma sequência simbólica: encontrará representantes das sociedades civis israelense e palestina, reforçando o caráter político e humanitário da iniciativa. O presidente francês está ciente de que suas palavras marcarão uma virada diplomática para a França e para seu próprio legado.
A medida representa uma virada diplomática significativa: a França se tornará o primeiro país do G7 a dar esse passo. Macron justificou a decisão como parte de um plano de paz mais amplo, afirmando que o reconhecimento é uma condição prévia para isolar o Hamas.
“Os palestinos querem uma nação, querem um Estado, e não devemos empurrá-los para o Hamas”, declarou o presidente francês.
A decisão, amadurecida desde abril, quando Macron visitou El-Arich, no Egito, em meio ao bloqueio israelense, foi motivada pela deterioração da situação humanitária na Faixa de Gaza. Embora inicialmente vista como uma iniciativa solitária, o presidente francês chegou a Nova York acompanhado por uma dezena de países, incluindo membros do G7, para reforçar que há apoio internacional à proposta.
Persona non grata
Macron, considerado persona non grata em Tel Aviv, desejava visitar Israel antes do anúncio, mas não foi recebido. Optou então por se dirigir diretamente aos israelenses por meio de uma entrevista à emissora N12, afirmando que sua proposta visa a paz regional e que os ataques militares contra civis palestinos prejudicam a “imagem de Israel”.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já sinalizou possíveis represálias, com apoio dos Estados Unidos. A presidência francesa reconhece que este é “um momento de virada” e admite que o país pode enfrentar turbulências diplomáticas nos próximos dias — como a anexação de territórios na Cisjordânia ou o fechamento do consulado francês em Jerusalém.
O presidente francês aposta que, ao reconhecer agora a Palestina, mantém aberta a via para uma solução política duradoura. Em um fim de mandato marcado por paralisia interna, Macron tenta reafirmar sua capacidade de agir no cenário internacional. Mas enfrenta críticas em Israel e na comunidade judaica francesa.
Antes de embarcar para Nova York, intensificou esforços para justificar sua decisão, reiterando que o Hamas será desarmado e excluído do poder. Em entrevista à emissora norte-americana CBS, acrescentou uma nova condição: não haverá embaixada francesa na Palestina antes da libertação dos reféns.
Ameaças de Israel
Na França, a comunidade judaica também expressa preocupação. Em carta aberta publicada no jornal Le Figaro, lideranças pediram que o reconhecimento seja condicionado à libertação dos reféns e ao desmantelamento do Hamas. Embora não tenha se pronunciado publicamente, Macron recebeu representantes judeus para dialogar e tentar tranquilizar.
O Palácio do Eliseu lembra que o presidente foi o único líder mundial a prestar homenagem nacional às vítimas dos ataques de 7 de outubro em Israel — gesto que busca reforçar sua postura equilibrada, ainda que difícil de sustentar em um ambiente político polarizado.
“Prematuro”
A Alemanha, por sua vez, reafirmou que considera prematuro reconhecer o Estado palestino neste momento. “Uma solução negociada de dois Estados é o caminho para que israelenses e palestinos vivam em paz, segurança e dignidade”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, antes de embarcar para Nova York. Para Berlim, o reconhecimento deve ocorrer ao fim do processo, embora admita que esse processo precisa começar imediatamente. Desde 2008, a Alemanha considera a segurança de Israel uma “razão de Estado”, posição reforçada por seu passado histórico e pela aliança estratégica com os Estados Unidos.
Yossef Murciano, presidente da União dos Estudantes Judeus da França (UEJF), também manifestou preocupação: “Estou inquieto com esse reconhecimento, porque ele coloca em segundo plano as condições que o presidente havia estabelecido — a libertação dos reféns e o desmantelamento do Hamas.” A tensão é alta, e o discurso de Macron pode redefinir não apenas a política externa francesa, mas também sua relação com aliados e comunidades internas.
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