Máfia do petróleo: o esquema secreto para roubar milhões no RJ
À coluna, o delegado responsável pelas investigações detalhou a ação dos criminoso. Após operações, o furto é considerado extinto no RJ

Escavadeiras, caminhões, câmeras de segurança e até walkie-talkie. Entre 2017 e 2024, os dutos da Transpetro localizados no Rio de Janeiro (RJ) se tornaram alvo de uma quadrilha especializada em furto de petróleo. A rede estruturada — que envolvia a participação de inúmeras pessoas e de pelo menos oito “mentores” — causou prejuízos superiores a R$ 1,5 milhão, além de danos ambientais.
Na última semana, a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) deflagrou uma ação para apreender caminhões utilizados na empreitada. Em entrevista à coluna, o delegado Pedro Brasil, titular da unidade policial, detalhou o modus operandi do grupo e o trabalho da polícia nas ofensivas contra os bandidos. Atualmente, o crime é considerado extinto no estado.
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Estrutura refinada
Antes de ser dizimada do território fluminense, a quadrilha atuava de forma reiterada no estado. “Esse crime já foi endêmico no Rio, mas não é qualquer pessoa que o comete, porque não é como furtar uma bicicleta.”
De acordo com o delegado, o modus operandi, geralmente, era o mesmo. Os criminosos obtinham informações de onde os dutos da petrolífera estavam instalados, selecionavam áreas ermas, de difícil acesso e, em dias e horários específicos, regularmente aos domingo à noite, escavavam o solo com o objetivo de cortar os dutos.
“Depois disso, cobriam as escavações e passavam a vigiar o local para identificar movimentações suspeitas, da Transpetro ou da polícia. Não havendo presença de fiscalização, eles retornavam ao ponto para encher caminhões com o material do furto”, detalhou.
Posteriormente, o material era transferido para outros estados e vendido para indústrias do setor de asfalto, borracha, plástico e fertilizantes.
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A escavação encontrada tinha mais de 7 metrosMaterial cedido ao Metrópoles2 de 2
O delegado detalhou que a estrutura foi montada próxima a um importante rioMaterial cedido ao Metrópoles
Veja o esquema:






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Negócio de família
Em 2023, equipes da empresa e da delegacia especializada localizaram, em um duto em Queimados, a existência de uma derivação clandestina subterrânea, instalada com mangueiras e válvulas camufladas com concreto e cobertura vegetal. A partir dessa constatação, a DDSD desencadeou um trabalho investigativo aprofundado.
Os irmãos Marcio Pereira Gabry e Mauro Pereira Gabry foram identificados como alguns dos chefes da estrutura criminosa. O primeiro está preso e o segundo é considerado foragido.
Com base em análise minuciosa, a delegacia confirmou a existência de uma organização criminosa, voltada para a prática de furtos qualificados de petróleo, com nítida divisão de tarefas entre os seus integrantes — como atuação no transporte e na receptação do produto subtraído, além dos procedimentos de corte, solda e engates de mangueiras.
A organização foi classificada pelos investigadores como “estável, permanente e estruturalmente ordenada”.
“Eles [os criminosos] se especializaram nisso, adquirindo conhecimento nas áreas de solda, de perfurações, de manipulação do petróleo. De fato, é sofisticado. Cada um [integrante] fazia uma parte da empreitada criminosa até conseguir extrair o petróleo e vender. Normalmente, eles vendiam para receptadoras fora do RJ”, declarou Pedro Brasil.
O delegado ressaltou que, à época, a investigação identificou empresas localizadas no Espírito Santo (ES) como receptadores do produto roubado pela quadrilha.
Crime extinto no RJ
Em um resultado histórico das investigações — que se tornaram referência ao longo do país — atualmente o Rio não conta com nenhum esquema de furto de petróleo ativo nos dutos. O marco é fruto da atuação integrada da Polícia Civil e da Transpetro, que combinou inteligência policial, monitoramento especializado e operações contínuas em campo.
“Marcio, Mauro e Franz Dias da Costa [criminoso que trabalhava para os irmãos], eram os grandes mentores das perfurações no RJ. Quando eles foram presos, o registro desse crime caiu vertiginosamente. Depois, direcionamos as investigações a grupos menores, que também foram detidos e, felizmente, conseguimos extinguir o crime do estado.”
A autoridade policial salientou que a própria petrolífera considera o trabalho de investigação uma referência nacional, que pode servir de modelo para outros estados.
A última operação
Na última terça-feira (30/9), a Polícia Civil deflagrou uma ação policial, no âmbito das investigações anteriores, para cumprir mandados de busca e apreensão em dois imóveis localizados na cidade de Duque de Caxias. Os imóveis estão ligados aos investigados.
Informações recebidas pelo Disque Denúncia indicaram ainda a utilização de imóveis no bairro Parque Eldorado, em Duque de Caxias, como refinarias clandestinas e pontos de adulteração de derivados de petróleo.
A ação arrecadou documentos, equipamentos, veículos, celulares, mídias eletrônicas e outros objetos que possam comprovar a extensão da atividade ilícita, além de identificar possíveis novos integrantes da rede criminosa.
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