Como o crime do petróleo ameaçou causar o maior desastre do Brasil
Em 2019, uma menina de 8 anos morreu após cair em uma poça de gasolina, formada após um vazamento em um duro, provocado por criminosos

A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) alerta que o furto de petróleo dos dutos da Transpetro, praticado por uma quadrilha que atuou no estado por mais de oito anos, esteve perto de provocar uma das maiores tragédias ambientais da história do país.
Em agosto de 2024, investigadores localizaram em Rio das Flores (RJ) um túnel de aproximadamente 7 metros de extensão, escavado clandestinamente para acessar os dutos.
O delegado Pedro Brasil, titular da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), lembra que o local ficava a poucos metros do Rio Paraíba do Sul — responsável pelo abastecimento de água de milhões de pessoas no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais.
“Se houvesse um vazamento de petróleo para esse rio, seria talvez a maior tragédia ambiental da história do Brasil. É um crime perigosíssimo, que pode paralisar a distribuição de petróleo no país e gerar um caos energético”, afirmou o delegado.
O esquema criminoso






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Tragédia anunciada
Os riscos não são apenas ambientais. Em 24 de abril de 2019, a Baixada Fluminense foi palco de um acidente fatal causado por tentativa de furto. Ana Cristina Pacheco, de apenas 8 anos, teve 80% do corpo queimado ao cair em uma poça de gasolina quente no Parque Capivari, em Duque de Caxias. A menina morreu um mês depois, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes.
“Não é demais reforçar que, além dos riscos de incêndios e explosões, o crime pode gerar a morte de pessoas inocentes”, ressaltou o delegado Pedro Brasil em entrevista à coluna.
Prejuízo milionário
Entre 2017 e 2024, a quadrilha provocou prejuízo estimado em R$ 1,5 milhão, sem contar os danos ambientais e sociais. O grupo atuava de forma estruturada, com divisão de tarefas entre motoristas, operadores de corte e solda, além de receptadores do produto subtraído.
Segundo a investigação, o petróleo furtado era transportado em caminhões e depois revendido para indústrias de asfalto, borracha, plástico e fertilizantes em diferentes estados do país.
Os mentores do esquema
No centro do esquema estavam os irmãos Marcio Pereira Gabry e Mauro Pereira Gabry, conhecidos como os “Irmãos Gabry”, além de Franz Dias da Costa, apontado como braço operacional.
Marcio foi preso em 2 de julho de 2024, em Além Paraíba (MG), região de divisa com o Rio de Janeiro. Franz já estava preso, mas teve novo mandado cumprido no mesmo dia. Mauro, por sua vez, segue foragido, apesar de já ter sido detido em flagrante em 2019 e preventivamente em 2022, na Operação Ratoeira.
O delegado Pedro Brasil classificou a organização como “estável, permanente e estruturalmente ordenada”, com atuação persistente ao longo dos anos.
Crime dizimado no RJ
Apesar da complexidade do esquema, hoje o Rio de Janeiro não registra mais casos ativos de furto de petróleo. O resultado é fruto da ação integrada da Polícia Civil e da Transpetro, que investiram em monitoramento especializado, inteligência policial e operações em campo.
“Marcio, Mauro e Franz eram os grandes mentores das perfurações no RJ. Quando eles foram presos, o registro desse crime caiu vertiginosamente. Depois, direcionamos as investigações a grupos menores, que também foram detidos e, felizmente, conseguimos extinguir o crime no estado”, afirmou Pedro Brasil.
Segundo a própria Transpetro, o trabalho da polícia fluminense se tornou referência nacional e pode servir como modelo para outros estados que enfrentam problemas semelhantes.
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