Médica brasileira apresenta em Paris estudo sobre aplicativo da OMS para diagnosticar hanseníase
Por RFI A ferramenta foi lançada pela OMS em 2023 e já está funcional em versão beta. O objetivo, no futuro, é que os algoritmos da IA deste aplicativo detectem cerca de 20 doenças, entre elas 12 cutâneas consideradas doenças tropicais negligenciadas, como a hanseníase. Deps coordenou a curadoria de um banco de imagens coletadas durante cerca […]


Por RFI
A ferramenta foi lançada pela OMS em 2023 e já está funcional em versão beta. O objetivo, no futuro, é que os algoritmos da IA deste aplicativo detectem cerca de 20 doenças, entre elas 12 cutâneas consideradas doenças tropicais negligenciadas, como a hanseníase.
Deps coordenou a curadoria de um banco de imagens coletadas durante cerca de 30 anos, e a validação de algoritmos para verificar a precisão da tecnologia do aplicativo para diagnósticos. O trabalho foi realizado com o apoio de uma equipe de dermatologistas especialistas em hanseníase no Brasil, na Nigéria e com a parceria da OMS.
O resultado foi positivo, destaca a médica: “Os algoritmos performaram bem e houve espaço para retreino, porque eles podem ser retreinados e podemos guiar como isso pode ser feito, dizendo onde ele errou, para que ele melhore sua performance”.
Segundo Deps, o objetivo é que o aplicativo seja usado no mundo inteiro. O download dele já está disponível para smartphones, com versão em vários idiomas, atualmente com a função educativa, no aguardo do formato que incluirá os diagnósticos por meio da IA.
Ainda na atual versão, o aplicativo conta com informações como formas de detecção de doenças, exames que podem ser feitos, medicamentos a serem utilizados, quais serviços hospitalares disponíveis, entre outros. “É uma ferramenta extremamente rica para o processo de educação em saúde. Quando for liberada a parte da Inteligência Artificial, também poderemos contar com esse suporte para diagnóstico”, destaca.
Desafio para especialistas e pesquisadores
Deps lembra que a hanseníase é endêmica em vários países e o Brasil é o segundo com o maior número de casos, ficando atrás apenas da Índia. “É uma doença extremamente estigmatizante com uma capacidade altíssima de causar incapacidades físicas e mentais”, diz.
Conhecida por ser uma das doenças mais antigas da humanidade, seu agente infeccioso foi identificado em 1873 pelo dermatologista norueguês Gerhard Armauer Hansen. A patologia também tem um trágico histórico de marginalização, exclusão e segregação das pessoas afetadas por ela ao longo de séculos.
“Por isso, ela demanda um diagnóstico precoce e esse aplicativo vem exatamente com este objetivo: acelerar a detecção desta doença, principalmente em países com um número baixo de especialistas ou que têm pouco treinamento para profissionais de saúde reconhecê-la”, reitera.
Deps ressalta que a hanseníase ainda é um desafio para a comunidade científica, apesar da evolução das tecnologias, pesquisas e tratamentos, como a poliquimioterapia instituída pela Organização Mundial da Saúde nos anos 1980.
“A gente não conseguiu ainda eliminar a doença do planeta”, lamenta. “Ela está presente em todo o território brasileiro de forma heterogênea. Mas é negligenciada pelo poder público, pelos próprios profissionais de saúde, porque a indústria não tem interesse de produzir medicamentos e testes de diagnósticos sofisticados, então a gente não consegue avançar tanto”, reitera.
A médica destaca as consequências de um diagnóstico tardio da hanseníase, entre elas, danos neurais irreversíveis, que muitas vezes acontecem simultaneamente às lesões cutâneas. “Com isso, o paciente tem uma incapacidade física às vezes desenvolvida em questões de dias, com uma qualidade de vida totalmente deteriorada”, diz.
Por isso, para ela, é importante comunicar que a hanseníase tem cura, uma informação que nem sempre chega ao público. “O medicamento é distribuído através de uma parceria da OMS com os países e a indústria farmacêutica. No Brasil, pelo SUS o tratamento é 100% gratuito”, ressalta.
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